Milhares de fazendeiros brancos e seguidores do líder de extrema-direita assassinado Eugène Terre’Blanche reuniram-se esta sexta-feira em um templo da Igreja Reformada em Ventersdorp (noroeste da África do Sul) para assistir a seu enterro sob rígida vigilância. “O mundo estava contra ele”, declarou o pastor Ferdie Devenier em africâner, o idioma desta Igreja e dos descendentes dos primeiros colonos europeus.
“As pessoas não viam nele mais do que o mal”, prosseguiu o pastor ante um templo lotado. No lado de fora, milhares de pessoas o ouviam através de alto-falantes e sob a vigilância de um impressionante dispositivo policial. O caixão estava coberto por uma bandeira do Movimento de Resistência Africâner (AWB) que tem muitas semelhanças com o partido nazista: uma cruz negra que recorda a suástica em um círculo branco sobre fundo vermelho.
Além do chefe da polícia nacional, Bekhi Cele, que se reuniu com a família antes da cerimônia, assistiram ao ato a ministra da Agricultura, Dipuo Peters, fazendeiros e simpatizantes do AWB. “Trata-se de um funeral normal, não um funeral político. É isso o que pediu a família”, afirmou um porta-voz do AWB, Pieter Steyn.
O assassinato há uma semana de Eugene Terre’Blanche, que dedicou a vida à defesa da supremacia dos brancos e à manutenção do apartheid, provocou a fúria de seu movimento, decidido a vingar a morte, ao mesmo tempo em que o presidente Jacob Zuma pediu calma. O AWB, grupo criado no começo dos anos 1990, se reunirá em 1º de maio para decidir como responder à morte do líder, que segundo a polícia teria sido assassinado por dois empregados de uma fazenda por uma discussão pela falta de pagamento dos salários.
O assassinato reaviva as tensões raciais em um país onde a cor da pele continua sendo um fator de divisão, 16 anos depois do fim oficial do regime do apartheid. Consciente do que o caso pode provocar, o presidente Zuma pediu calma e que “os sul-africanos não permitam aos agentes provocadores se aproveitar da situação para incitar, ou para alimentar, o ódio racial”.
Eugene Terre’Blanche, 69 anos, dedicou a vida a defender a superioridade dos brancos. À frente de milícias paramilitares, foi contrário ao fim do apartheid no início dos anos 1990. Ele foi preso em 2001 pela tentativa de assassinato de um guarda negro e deixou a penitenciária em 2004 por bom comportamento. Depois disso caiu em relativo esquecimento. O corpo do extremista foi encontrado no sábado passado em sua fazenda de Ventersdorp, na Província do Noroeste.
A polícia prendeu dois trabalhadores agrícolas, de 15 e 21 anos, que haviam discutido com Terre’Blanche por um problema salarial. Os dois, que acusam o chefe de ter se recusado a pagar o salário mensal de 300 rands (40 dólares, 70 reais) e de ter agredido física e verbalmente os dois, serão levados a um tribunal na terça-feira.
Apesar da motivação não parecer política, o AWB vinculou o assassinato de seu líder à recente polêmica sobre uma canção que pede a “morte dos boers” (fazendeiros brancos). A música tornou-se famosa entre o movimento jovem do Congresso Nacional Africano (ANC), o partido que governa o país.
Dois tribunais proibiram a canção que, segundo a oposição e várias associações, estimula a violência racial. Mas o ANC defendeu a música em nome da memória da luta contra o apartheid.