“O Pátio das Sombras” é o titulo do primeiro livro lançado no âmbito do projecto de colecção de contos e histórias de Moçambique. Este projecto esta sendo levado a cabo pela Escola Portuguesa de Moçambique e pela Fundação “Contes pel Món” (Contos para o Mundo) da Espanha, com o objectivo de promover a leitura, a partir do vasto mosaico das tradições moçambicanas.
No âmbito desta mesma iniciativa, escritores moçambicanos recolhem histórias e contos do universo imaginário tradicional, em diversos pontos de Moçambique, para se produzir contos a serem interpretados nas salas de aula, a partir da Sétima Classe. O escritor moçambicano Mia Couto foi o primeiro a lançar o seu livro no quadro deste projecto. No livro, Couto recriou uma história que, dentre várias coisas, diz que, quando lembrados, os mortos não morrem porque vivem nos “nossos sonhos”. Esta história conta também a crença generalizada de que as mulheres viúvas e velhas se convertem em feiticeiras.
Este é um projecto considerado importante para um país de tradição tipicamente oral, como é o caso de Moçambique, onde a maioria do património cultural não está registado, sendo assim vulnerável ao desaparecimento ou alterações. Falando ultima Sexta-feira na cerimónia de lançamento da obra “O Pátio das Sombras”, o Reitor da Universidade “A Politécnica” e Director do Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa, Lourenço do Rosário, também enalteceu a importância deste projecto para a conservação do universo mitológico tipicamente moçambicano e para lidar com o problema de leitura no país.
Do Rosário é da opinião que Moçambique deve criar o seu próprio universo mitológico lendário, a semelhança do que fizeram tantos outros países, incluindo do Ocidente, ao criarem e expandir histórias com personagens míticas como Cinderela, Capuchinho Vermelho, entre outros largamente conhecidos em praticamente todo o mundo. Para ele, esta seria uma forma de registar o universo mitológico local e incentivar a leitura no seio dos adolescentes, uma vez que estes estariam mais satisfeitos e comovidos a ler algo com que se identificam. Segundo do Rosário, em Moçambique, olha-se para o mundo oral como um universo em extinção, de ponto de vista de escrita.
“Recolher contos da tradição oral e tentar escreve-los é uma tentativa de salvar a tradição oral”, disse ele, sublinhando que esse projecto poderá desmentir o ditado segundo o qual “cada velho que morre, morre uma biblioteca”. Além de produzir os livros, este projecto visa ainda capacitar alguns professores do Sistema Nacional do Ensino de modo a estarem mais preparados para falar do conteúdo destes materiais durante as aulas.
Em contacto com a AIM, a Coordenadora Editorial do Projecto, Teresa Noronha, disse que nesta primeira fase, o projecto capacitou um total de 250 professores de diversas escolas da cidade de Maputo. Gradualmente, o projecto vai alcançando outras escolas do país. Os cinco mil exemplares do livro impressos serão distribuídos gratuitamente nas escolas. Agora o projecto possui dois outros livros ainda na fase de impressão e depois irão seguir outras obras. Marcelo Panguana, Paulina Chiziane, Ungulani Ba Ka Khosa são alguns dos outros escritores moçambicanos que aceitaram aderir a iniciativa.