A poetisa santomense Alda Espírito Santo, 84 anos, faleceu hoje, em Luanda, onde se encontrava em tratamento médico. Combatente da independência do seu país, ela era uma figura matriarcal de São Tomé e Príncipe e chegou a ser ministra em vários governos do seu país.
Era contemporânea de Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Marcelino dos Santos e outras figuras do nacionalismo africano na Casa dos Estudantes do Império. Alda Espírito Santo nasceu na ilha de São Tomé em 1926 e fez a sua educação em Portugal. Aqui frequentou a universidade, que teve que abandonar, em parte devido às suas actividades políticas, mas também por motivos económicos.
Na então Casa dos Estudantes do Império conheceu e privou com Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade, Marcelino dos Santos e outras figuras do nacionalismo africano. A extinta estava evacuada em Luanda, em tratamento médico. Foilhe, por causa disso, amputada uma perna, provavelmente devido a diabetes. Autora do livro “É nosso o solo sagrada da terra”, Alda do Espírito Santo era uma das mais conhecidas poetizas africanas de língua portuguesa.
Foi ministra da Educação e Cultura, da Informação e Cultura, e também deputada.
Dela escreveu a sua conterrânea e também poetisa, Conceição Lima, num texto recente na revista África 21:
“Alda Espírito Santo é igual à transparência da casa que a habita, a casa que nos habita. Pelos nomes próprios nos distingue e nos chama. Conhece-nos desde sempre e aos nossos tiques, nossas fraquezas, aos nossos talentos e forças. Conhece as escarificações na fundação do nosso rosto; revelou-as. Conhece o aroma do louro no nosso prato e o cheiro do manjerico no nosso vaso”. E nós, nós conhecemo-la.
Desde quando, para afugentar o frio, entrelaçou, mornas, as mãos, ao redor do nosso corpo. Desde quando pôs, fresca, a palma da mão na nossa testa. Quando nos embalou e nos exortou e nos instigou. Quando nos ergueu alto e sussurrou ao nosso ouvido palavras que só podiam ser sussurradas, as palavras que nos nomeiam.
Para seu juízo escrevemos redacções e hesitamos nas contas de dividir. Incentivou-nos e corrigiu-nos, admoestou-nos e aplaudiu-nos.
Brincámos, descalços, na orla das praias por ela sonhadas, navegámos a largueza do poema. Moldámos concretas utopias, no âmago da praça plantámos a raiz do verso. Alda Espírito Santo tem 83 anos, uma idade bonita.
Mora ainda na velha e austera casa da Chácara, rodeada de livros e memórias e passos dos amigos. No quintal entrecruzam-se os ramos das goiabeiras e todas as madrugadas desabrocham ali flores e trepadeiras. A casa da Chácara é uma casa de portas e janelas abertas.
Na antiga casa da Marginal, sede da União Nacional dos Escritores e Artistas, da qual é presidente, continua a receber jovens e menos jovens, a todos entregando a justa porção de palavra. A sede da UNEAS é uma porta sempre escancarada.
Por vezes, Alda Espírito Santo fala com enérgica suavidade de certos amigos, certos nomes: Amílcar. Agostinho. Mário. Marcelino. Salustino. Luís Espírito Santo. Bia. Francisco José Tenreiro. Sara Maldoror. São nomes que convocam uma longa jornada aquém e além-mar, nomes de um tempo decisivo e fracturado, um tempo entrefeito de lealdades e solidariedades.
Desdobra recordações, folheia livros, oferece-nos páginas escritas com tinta indelével, apura as cores e o preto e o branco dos retratos. Sublinha as vitórias, critica os desacertos do presente, interroga o amanhã fincando os pés no hoje.
Alda Espírito Santo pode ser homenageada como poetisa. Alda Espírito Santo pode ser homenageada como combatente da liberdade, distinção que já recebeu do Estado Cabo-verdiano. Alda Espírito Santo foi homenageada pelo Estado São-tomense. Alda Espírito Santo foi homenageada como combatente da liberdade pelo Estado Cabo-verdiano. Foi homenageada, nos 80 anos, por um grande grupo liderado por Inocência Mata.
Mas ela detesta homenagens. Desconfia de homenagens. Acha que as homenagens são uma armadilha aos que não baixam nunca os braços.
Por isso, nós que já penteamos cabelos brancos e embalamos os primeiros netos, dizemos-lhe, à Alda Espírito Santo, porventura a mais proeminente mulher da geração de Cabral, que amamos o frondoso baobá, o benfazejo tronco do micondó. Dizemos-lhe que amamos na sua voz a constante canção dos nossos rios”.