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No meio da escuridão e do silêncio, uma rádio mantém-se no ar no sul do Chile

“Eu os considero meus melhores amigos desde aquela madrugada”, diz, no ar, uma ouvinte da Rádio Bío-Bío, a emissora mais importante do sul do Chile que, desde o momento do terremoto, manteve informada e contectada uma população desconcertada.

Fundada há quatro décadas em Concepción, a 500 km de Santiago, e com filiais na capital e em outras cidades do país, a Bío-Bío é, desde 27 de fevereiro, a maior referência para milhares de cidadãos que querem saber o paradeiro de seus familiares, o andamento do plano de emergência ou a data em que a luz voltará. “Sabemos que toda ajuda é insuficiente, sempre é insuficiente”, lamenta, no microfone, o jornalista Salvador Schwartzmann, que está em plantão permanente desde o dia da catástrofe.

Schwartzmann sai para tomar um ar na Praça das Armas, em frente ao edifício onde funciona a rádio, no centro da cidade, e os vizinhos o abordam em busca de mais informações. “Sugiro que espere 48 horas até que consertem as estradas. Nosso veículo teve que esperar dois dias para voltar”, diz ele a uma mulher desesperada que pergunta como chegar a um dos muitos povoados afetados pelo tremor, onde vive um parente.

Depois de 15 minutos fora do ar em seguida ao terremoto, os técnicos da rádio conseguiram fazer funcionar o gerador de emergência, consertaram os cabos danificados pelo forte sismo, permitindo a continuidade da transmissão que, para muitos afetados, sem luz e sem telefone, foi nos primeiros instantes da catástrofe a única janela para o mundo exterior.

A rádio “é o único meio que está comunicando toda a região e o resto do país desde o momento do terremoto. Começamos escutá-la no carro, em rádios de pilha e nos celulares”, relata à AFP Jaime Peña Vázquez, um vizinho de Concepción. Os agradecimentos vêm em formas diversas. Na rede social Facebook foi criado um grupo de fãs da Bío-Bío pela ajuda prestada. E na rua, na Praça de Armas, um homem diminui o passo na calçada da rádio e aperta a mão de Schwartzmann, cumprimentando-o por seu trabalho. Também pede que estenda os cumprimentos a Tomás Mosciatti, colunista da emissora que dirige com seus três irmãos, filhos do fundador.

Desde o primeiro dia da tragédia, as pessoas foram se aproximando dos estúdios para fazer chegar uma mensagem a familiares e amigos, alguns isolados pela falta de comunicação e a interdição de pontes. Em questão de horas o ato improvisado virou um hábito e filas se formavam onde os solicitantes deixavam por escrito, em uma lista, sua inquietação. Assim, quase por acaso, foi criada uma rede solidária de medicamentos. “Em seguida chegou até nós um remédio doado para um auditor que o havia solicitado, e depois as pessoas começaram a solicitar e trazer (mais remédios) por conta própria”, conta Piero Mosciatti, irmão de Tomás. Foram tantos os donativos que foi criada uma rede de voluntários, entre farmacêuticos, médicos e químicos, para classificar o material.

Os casos que mais chamaram a atenção, lembra Piero, foram os de dois homens que participaram dos saques nos dias que se seguiram ao terremoto. Eles entraram em uma farmácia que estava sendo roubada e tiraram remédios que em seguida doaram à rádio, transformando uma má ação em uma causa humanitária.

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