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Lioma ergue-se, mas detenções continuam em massa

Neste trabalho, queremos apresentar as possíveis motivações que levaram a que as populações de Lioma se envolvessem em tumltos com agentes de saúde, secretários e líderes comunitários e que resultaram em 5 mortes e um número elevado de feridos.

Aliás, este trabalho contou com muitas colaborações de alguns colegas de diversas redacções, uns que estiveram no local depois das tensões, outros através de entrevistas com dirigentes, enfim, é um trabalho não conclusivo, dai que qualquer mau entendido poderá ser esclarecido pela mesma via.

Como tudo começou?

Ao certo está difícil encontrar a origem de quem começou a disseminar esta falsa informação de que a cólera era proveniente de um grupo de pessoas que traziam po e expalhavam no chão e zás a pessoa logo apanhava a doença. Os régulos, secretários, agentes de saúde, etc, foram, vítimas e em entrevistas dos colaboradores neste trabalho, nem sequer se lembram em que casa começou. Os que se lembram um bocado, não falam, por serem naturais da zona e que um dia poderão ter represálias com a comunidade. A vida parou em Lioma por uns dias.

Ninguem diz nada.Há só detenções sem acusação formal.

Em Lioma, cidadãos são detidos quase todos dias sem que tenham sido acusados formalmente de serem os promotores dos tumultos registados naquele posto administrativo pertencente ao distrito nortenho de Gurúe, nos princípios deste mês, tudo isso por causa da onde de desinformação sobre a propagação da cólera naquela região. Cólera que já ganha espaço, porque depois de Lioma, atingiu sucessivamente os distritos de Milange, Namarrói e agora já se registam surtos de diarreia no distrito de Namacurra. Em média diária, a polícia da república de Moçambique (PRM), recolhe entre 5 a 10 pessoas para as celas. Até agora, não há julgamento.

Há gente que está desde os primeiros dias dos tumultos nas celas da polícia e olhando pelas datas, tudo indica que a prisão preventiva estipulada no Código Penal já expirou. Mas são outras contas. Depois das ordens emanadas pelo Governador da Zambézia, Francisco Itai Meque, aquando da sua visita ao Comando da PRM na Zambézia e seguidamente ao distrito de Gurúe, a corporação acordou e começou a fazer aquilo que chamam de “caça ao homem”. Já não se respeita a lei, só porque o chefe neste caso o governador, disse para manter a ordem e tranquilidade pública, prontos, encontrou dois ou três em conversa, logo detenção.

O maldito pó

Em Lioma, qualquer pó é desconfiado. Quer dizer, se por acaso apanhar um chapa-100 para Lioma, cujas condições de transporte são péssimas, em que por vezes o passageiro viaja misturado com farinha, que certamente é pó, combustível, sabão, tomate, está sujeito a ser chamado de propagador da cólera. Está difícil contornar esta dura realidade. Escolas, instituições do governo e singulares e até a vida das populações ficou parada por algum tempo, por causa desta onde de desinformação.

Escolas encerradas

Uma fonte dos Serviços Distritais de Educação Juventude e Tecnologia naquele ponto da província diz que está difícil refazer a vida. Os alunos são proibídos pelos pais a irem as escolas com o medo de pisar o maldito pó da cólera. Os professores, estes nem sequer se fazem as escolas, com o medo de serem chamados pelos pais e encarregados como se fossem eles os que matam os seus filhos com a cólera. “Não está fácil aqui em Lioma”- dizia a fonte da Educação naquela região. Mesmo assim, a nossa fonte diz que a vida vai voltando ao seu normal na medida do possível.

Comércio a conta-gotas

Sabendo que aquela região mão difere de outras, o comércio também é actividade em Lioma. Mas desde que começou esta onda de violência, tudo parou. Havia medo de ir ao mercado, porque como se propalava que bastava ter pó era sinal de ser propagador da cólera, então toda gente tinha receio e ninguém ia ao mercado. Em suma, o comércio ficou afectado.

O cerne da questão

Se uns aventam questões políticas como o pano de fundo que levou milhares de pessoas a se manifestarem e outras a morrem, uns mais cépticos, dizem que em Lioma, nao houve simplicidade e humildade necessária por parte dos agentes de saúde que estavam nas comunidades disseminando medidas de prevenção. Outros ainda sustentam que os graves problemas de abastecimento de água e falta de diálogo com o governo local, poderá estar na origem.

Caso a caso

No concernente a política, sabe-se que Lioma é um posto administrativo de um distrito onde a guerra não poupou. De Lioma pode-se ir a Milange, Cuamba (Niassa), só para dar alguns exemplos. Milange, se se lembram tinha sido instalada uma base de alto calibre por parte da Renamo aquando do conflito armado. De lá para cá, a Renamo ainda manteve as suas simpatias mais do que fortes em Milange, simpatias estas que transbordam ate Lioma, Namarroi, Alto Molócue, via Nauela, etc. Razão pela qual, pode ser também uma maneira de manifestação daqueles que não vê satisfeitas as suas vontades.

Falta de humildade

Qualquer trabalho, requere humildade necessária. E pior quando se vai a uma zona onde não se conhece com exactidão. Aliás, quando se fala de cólera, logo olham-se as mortes em massa. E em Lioma, quando as campanhas de sensibilização começaram, os casos rondavam da doença rondavam por ai 50 a 60 por dia. Isto já era um indicador suficiente para os agentes de saúde tomarem as suas providências. Mesmo assim, nada, fizeram o que poderam.

Falta de diálogo com governo

Pode ser também que no meio destes tumultos todos, hajam aquelas desavenças que a população tem com o governo local, neste caso do distrito de Gurúe. Uma semana antes destes tumultos, a RM, apresentou um trabalho, que em algum momento reportava os problemas sérios que o posto atravesava no abastecimento de água, facto que veio a ser desmentido pelo administrador, Fernando Namucua. Quando eclodiu a cólera, já o director provincial de Saúde na Zambézia, Armindo Tonela, disse que a cólera em Lioma era resultante da falta de água potável. Na ocasião, Tonela dizia que as populações consomem agua do rio, com sérios índices de contaminação fecal e quando é assim nada se espera se não cólera.

Entretanto

Até agora, a vida está por refazer e Lioma procura restaurar-se rapidamente, só que paira o medo no seio das populações. A polícia movimenta-se, quer fardada assim como a paisana. Qualquer aglomerado de pessoas, já é motivo da policia agir e deter. “Está-se mal”- como diz o músico zambeziano, Valdemiro José. Mesmo com ordens deixadas pelo governador, parece estar longe de ser cumprida. Mas paulatinamente, Lioma voltará ao seu quotidiano. Será novamente aquele Lioma da soja, batata reno, feijão manteiga, etc, etc.

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