Aida sempre quis ser modista, mas a mãe nunca lhe deixava chegar perto de uma máquina de costura. Foi preciso largar os estudos para ter acesso à uma máquina. Foi convidada por uma tia que sabia que ela estava sem fazer nada. Hoje, gaba-se de ter feito o seu próprio vestido de noiva. Pelo meio teve de escolher entre a costura e o lar: Aida escolheu as duas coisas e é feliz até hoje…
@Verdade -Vou começar esta pequena entrevista com uma pergunta que dizem que nenhuma mulher gosta de ouvir: qual é a sua idade?
– Tenho 38 anos de idade e chamo- me Aida Justino Honwana Malate.
@V) – É casada? Tem filhos?
(AJHM) – Sou casada e tenho cinco filhos.
(@V) – Onde é que nasceu e como foi a sua infância?
(AJHM) -Nasci no bairro de T-3, na Matola, mas por motivos familiares cresci no bairro de Chamanculo C. Os meus pais separam-se e uns ficaram com a minha mãe. Eu e o meu irmão mais novo preferimos viver com o nosso pai na capital do país.
(@V) – Como era viver no Chamanculo?
(AJHM) – A mudança de residência trouxe dificuldades para a minha vida escolar. Eu saía do Chamanculo para a Escola Primária do 2º Grau do Infulene, vulgarmente conhecida por Malate, fazia o percurso a pé e entrava de noite durante dois anos, mas isso era motivado pela falta de transporte que se verificava na altura. A distância e a falta de transportes fizeram com que não concluísse a sétima classe.
(@V) -Em que ano interrompeu os estudos e o que fez depois?
(AJHM) -Em 1989. No primeiro ano não fiz nada, mas depois dediquei-me à costura. Sempre gostei de ser modista. A minha mãe é modista e mesmo sabendo que eu gostaria de abraçar esta área profissional ela nunca me deixou aprender de si a cozer. Nos dias em que ela não estivesse em casa eu pegava nas máquinas de costura e simulava cozer qualquer coisa, mas quando ela descobrisse batia- -me ou ralhava.
(@V) – E como aprendeu?
(AJHM) – Tinha uma tia que também era modista e quando soube que eu larguei os estudos chamou-me para trabalhar com ela. A minha tia ensinou-me a cozer, depois de ter aprendido passei para a ajudante, e, pouco depois, a ser funcionária no negócio dela. Fiquei com ela cinco anos. Cruel dilema
(@V) – O seu esposo aceitou a sua profissão?
(AJHM) – Não foi fácil. No princípio obrigaram-me a escolher entre marido e o trabalho. Mas como eu queria aprender não desisti. Hoje sou modista porque não abdiquei do meu sonho e também tenho o meu marido.
(@V) – Como conseguiu as duas coisas?
(AJHM) – Deixei de trabalhar com a minha tia e passei a exercer a actividade em casa. Isso em 1996. Eu não tinha sequer uma máquina para trabalhar pois todas as máquinas de costura eram da minha tia. Ela teve que me emprestar uma para eu trabalhar em casa. No final do ano consegui comprar a minha própria máquina. Algum tempo depois, o meu sogro que outrora trabalhou como alfaiate ofereceu-me uma máquina.
(@V) – Haviam condições para trabalhar em casa?
(AJHM) – Dava para trabalhar, mas com todos os transtornos que um espaço pequeno acarreta.
(@V) – Tinha muitos clientes?
(AJHM) Tinha poucos. Na maioria vizinhos.
(@V) – …E actualmente?
(AJHM) – Agora tenho, mas o aumento deu-se em 2005. Foi por isso que arranjei uma ajudante.
(@V) – Faz todo o tipo de roupas?
(AJHM) – Não. Faço roupas para mulheres apenas. Mas concerto ou reparo qualquer tipo de vestuário.
(@V) – Para além de costura faz outra coisa?
(AJHM) – Sim. Graças ao fruto do negócio há poucos meses abri um salão de cabeleireiro.
(@V) – Fez o seu vestido de casamento. Como foi que pensou em fazê-lo?
(AJHM) – Eu não contava que alguma vez pudesse fazer um vestido de casamento. O primeiro vestido que fiz foi para mim mesma. Levou três meses até ficar pronto. Este foi o momento mais marcante da minha vida.
(@V) – Três meses não é muito tempo?
(AJHM) – Eu fazia o vestido depois do trabalho normal. Levava a máquina para o meu quarto e durante a noite tomava conta do desafio a que eu própria me propus.
(@V) – Recebeu incentivos por parte do seu esposo?
(AJHM) – Muito pelo contrário. Ele não acreditava. Sempre dizia que eu não iria conseguir fazer o vestido pessoalmente porque nunca tinha tido uma experiência nesse sentido. Não raras vezes afirmava que a minha obra dos sonhos não passaria de uma miragem. Mas a realidade mostrou o contrário. Aliás, as pessoas nem acreditavam que o mesmo era produto das minhas mãos. Foi assim que as pessoas passaram a encomendar vestidos de casamento.
(@V) – Quanto custa um vestido?
(AJHM) – Entre os quatro e os sete mil meticais. Este valor é apenas referente à mão-de-obra. Os tecidos e os artefactos para o embelezamento a cliente é que os compra.