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17º Dia da Greve dos Profissionais de saúde: Governo não muda negociadores e importa médicos

Governo e os Profissionais de Saúde em greve continuam a afirmar estarem disponíveis para negociar contudo ainda não voltaram a sentar-se à mesma mesa nesta semana. Enquanto isso o sofrimento de milhares de moçambicanos continua nas várias Unidades Sanitárias de Moçambique como resultado da greve que dura há 17 dias.

Na província mais populosa de Moçambique, Nampula, visitamos os centros de saúde de Namicopo e 1º de Maio onde vimos os profissionais de saúde nos seus locais de trabalho mas sem exercerem o atendimento hospitalar. Abrem as portas dos seus gabinetes e ficam com os braços cruzados esperando as horas passarem e as 16 horas regressam às suas casas.

No centro de saúde de Namicopo estão a funcionar todos os gabinetes de trabalho, mas apenas nos sectores de triagem de adultos e crianças registam maior nível de atendimento. Isso chega a ser em vão porque na farmácia não existem os medicamentos que são prescritos pelos técnicos de enfermagem.

Situação similar verificamos em outras Unidades Sanitárias, incluindo no Hospital Central de Nampula, o que obriga os doentes que a encontrar meios financeiros para recorrerem as clínicas privadas na capital norte.

Rui Mateus, enfermeiro-chefe no centro de saúde 1º de Maio, relatou à nossa reportagem que os seus colegas estão a trabalhar, mas o seu desempenho é muito baixo porque não tem força de vontade e isso verifica-se desde o início da greve dos profissionais de saúde. Segundo suas palavras, eles aparecem no posto de trabalho, mas não atendem os pacientes, o que torna mais preocupante mais. É preferível que eles não venham trabalhar de vez. “Se atendemos os pacientes sem o mínimo de vontade profissional, o resultado sobre a doença pode não ser como era esperado”, referiu a fonte.

Em contacto com um dos enfermeiros da mesma unidade sanitária, o qual não quis se identificar por temer represálias explicou que “nós estamos a ser forçados para trabalhar, por isso não podemos sentar em casa se não corremos o risco de perder o emprego”.

Apuramos, também, que mais de 50 doentes que deveriam fazer análises clínicas no Hospital Geral de Marrere foram devolvidos para o Centro de Saúde 1º de Maio devido a ausência do médico clínico.

O Hospital Central de Nampula continua a operar nos serviços mínimos. A nossa reportagem constatou que os médicos que tem estado a trabalhar não são praticantes, em situação normal desempenham cargos de chefia e outros posto burocráticos, e tem sido apoiados por médicos estrangeiros e do Hospital Militar. Nas enfermarias os doentes continuam a ser atendidos por estudantes (do Instituto de Ciências de Saúde, UniLúrio) em alguns casos sem a supervisão de um médico o que não só é ilegal como é um atentados à saúde pública.

AMM em Nampula adiou marcha pacífica

Os médicos, enfermeiros e outros profissionais do sector da saúde que se encontram em greve a nível da província de Nampula haviam marcado para esta quarta-feira (05) uma marcha pacífica, uma actividade inserida na greve daqueles funcionários iniciada no dia 20 de Maio passado.

A representante da AMM em Nampula, Ana Rosa Lopes disse ao @Verdade que a falta da concretização da marcha deveu-se ao facto de não ser comunicada à edilidade para o seu conhecimento e em cumprimento dos mecanismos para o efeito. Entretanto, segundo a fonte, a sua organização encontra-se empenhada na formalização do referido movimento no sentido de se materializar na próxima quarta-feira. Não foi possível apurar o local onde deverá iniciar a referida marcha, bem como o local onde irá terminar.

Seropositivos sem anti-retrovirais em Maputo

Vários cidadãos seropositivos interpelados pela nossa reportagem, no Hospital Geral de Chamanculo (HGC), na capital do país, lamentaram que desde o início da greve dos profissionais de saúde não estão a receber a sua medicação, têm se dirigido à Unidade Sanitária mas deparam-se com as portas encerradas e apesar de aguardarem durante longas horas ninguém tem aparecido para aviar os anti-retrovirais que precisam para manterem-se saudáveis.

“O que mais me enfurece é que ninguém diz nada e nem se preocupa com o nosso quadro clínico, que é muito dependente dos anti-retrovirais. Para além de que alguns profissionais de saúde deixarem de nós atender e priorizar a conversa, isso é justo?” desabafou um dos doentes.

Ainda no Hospital de Chamanculo constatamos que os serviços mínimos foram reforçados por médicos estrangeiros europeus.

No Hospital Geral José Macamo falamos com estudantes estagiários, que tem estado a fazer o atendimento médico durante o período nocturno, e confidenciaram-nos que nessa altura o drama aumenta pois recebem doentes muito graves e não eles pouco podem fazer pois não tem a supervisão dos enfermeiros chefes e dos poucos médicos que tem assegurado os serviços mínimos durante o dia.

Drama idêntico pudemos ver no Hospital Geral de Mavalane onde também os estudantes de cursos de medicina é que tem assegurado os cuidados mínimos aos pacientes.

Na maior unidade hospitalar de Moçambique, no Hospital Central de Maputo (HCM), o atendimento que em condições normais já não é bom está cada vez pior. Os estagiários, cansados da sobrecarga horária, manifestam a sua insatisfação nos doentes. Há casos reportados de subornos aos voluntários que fazem a triagem para que o paciente pelo menos consiga ser recebido na Unidade Hospitalar e outros para se conseguir ser atendido pelos poucos médicos que garantem os serviços mínimos.

Uma profissional de saúde que não aderiu a greve, com medo de perder o seu parco meio de sobrevivência, relatou-nos que o número de mortes devido a falta de tratamento adequado cresce todos os dias. Acrescentou ainda que as condições de higiene são deploráveis, os lençóis das camas dos doentes estão sujos em muitas enfermarias e na cirurgia até o chão carece de limpeza do sangue e outros fluídos resultantes das intervenções cirúrgicas que continuam a acontecer graças ao trabalho de médicos militar e estrangeiros.

Governo rejeita mudança da equipa negocial e importa médicos

Nesta Quarta-feira (5), em comunicado, o Gabinete do Primeiro Ministro reiterou a sua confiança na equipa de negociação por parte do Governo, em resposta à solicitação da Associação Médica de Moçambique (AMM) que após o último encontro tornou público a sua falta de confiança na equipa que afirma não ter poder de decisão e ainda de ser a mesma que participou do incumprimento do Memorando assinado em Janeiro passado.

Entretanto os casos de intimidação continuam. A AMM afirma ter conhecimento que o Ministério da Saúde (MISAU) comunicou verbalmente a suspensão de toda a pós-graduação o que é visto pelos Profissionais em greve como uma retaliação aos médicos nesta situação que aderiram a paralisação de actividade.

A AMM entende que “sendo a paralisação legítima, como veio o porta voz do Governo reconhecer, não deveria haver espaço para tais posicionamentos, que minam ainda mais a já frágil confiança existente entre as partes.”

Também nesta Quarta-feira (5) o MISAU tornou público que vai contratar cerca de uma centena de médicos estrangeiros e admitir novos enfermeiros e serventes. Esta atitude do Ministério vai em sentido contrário às palavras do Presidente Armando Guebuza que afirmou, na Coreia do Sul, que Moçambique não tem recursos para aumentar os Profissionais de Saúde nacionais.

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