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ZICO, O “Galinho do Quintinho”

Conta-se que quando garoto foi treinar pela primeira vez ao Flamengo. O ex-jogador Modesto Bria, treinador das camadas jovens do clube da Gávea, franziu os olhos quando viu, junto ao campo, um miúdo de 14 anos mas que parecia ter só 12, tão magrinho, quase raquítico, com 1,45 metros de altura, dentes tortos e ombros caídos, pedindo para jogar entre os bem nutridos e grandões miúdos de Bria.

Só entraria a dez minutos do fim do treino de captação, quando o treinador já mal olhava para o campo. Foi então que aquele monte de ossos, tocou na bola pela primeira vez e logo ai a colocou por entre as pernas do seu marcador, um negrinho forte, deixando-o caído no chão. Em seguida, inventou mais alguns lances de igual nível e Bria abriu os olhos de espanto. Com era possível? Nesse preciso instante nascia o melhor jogador brasiliro dos anos ´80, Artur Antunes Coimbra, o Zico.

Coube ao preparador físico José Roberto Francalacci, a dura tarefa de fortalecer os seus músculos. Foi submetido a uma dieta especial, enfrentou duros treinos de resistência fisica, tratou dos dentes, ganhou peso, aos 17 anos já tinha 59 quilos e media 1,72 m, ergueu os ombros e fez-se craque de corpo inteiro.

A 21 de Julho de 1971, fazia a sua estreia na primeira equipa do Flamengo, entrando no lugar do seu grande ídolo, Dovai. “É mentira que para jogar futebol se tenha de ter nascido um atleta”. O treinador que o lançaria na selecção seria Osvaldo Brandão, no Uruguai.

Desde que Pelé abandonara o futebol o Brasil carpia a mágoa de ainda não ter descoberto um génio igual, capaz de lhe continuar a garantir as mesmas conquistas. No final dos anos ´70, uma nova estrela emergia na relva da Gávea: Zico, o Galinho de Quintinho, o bairro onde nascera. No momento da sua explosiva aparição muitos não tiveram dúvidas em chamá-lo de Pelé branco. Durante o Mundial ´78, ele foi o principal motivo de constestação às opções de Coutinho que já conhecia Zico pelo facto de ser seu treinador no Flamengo. A nova grande estrela do futebol brasileiro vinha arrastando uma série de problemas musculares mas, mesmo em condições, o seleccionador teórico hesitava muito em lhe entregar as chaves do meio campo.

Zico era um poeta, um digno representante da dinastia do futebol-arte

O seu futebol era de cristal. Os seus golos eram tão bonitos que até os cegos lhe pediam: “Zico, por favor, conte-me esse golo!”. Sempre com o nº10 nas costas, Zico tornou-se o grande amor dos adeptos do Flamengo, pelo qual se sagrou campeão brasileiro em ´89, ´82, ´83 e ´87.

Tratava a bola como uma amiga e marcava livres de rara beleza: “A verdade é que eu estava aprendendo sempre. No início já rematava bem, mas só para um dos postes, o da direita do guarda-redes. Depois, treinei muito e aprendi a dar à bola o efeito contrário e metê-la no poste direito, o lado esquerdo do guada-redes. Foi difícil. Estive um ano inteiro todos os dias no final dos treinos durante horas até que adquiri a perfeição”.

Em toda a sua carreira Zico só perderia dois jogos dos que disputaria pela Selecção Brasileira mas nunca se sagrou campeão mundial.

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