Perto de 400 mil documentos militares secretos, divulgados pelo website Wikileaks, apontam que as Forças Armadas dos EUA terão ignorado casos de tortura praticada pelas autoridades iraquianas. Naquela que é a maior fuga de informação de sempre no exército norte-americano, os militares americanos terão, até, fechado os ohos a execuções de iraquianos.
A divulgação destas informações foi extremamente criticada pela Administração Obama, especialmente por Hillary Clinton, mas o fundador do website Wikileaks, Julian Assange, defendeu a publicação dos documentos. Segundo Julian Assange, a intenção de tornar públicos tais factos é apenas dar a conhecer a verdade sobre o conflito no Iraque. Mais do que apontarem casos de tortura, os papéis também mostram indícios de que os soldados terão ignorado “centenas” de mortes de civis em postos de controle americanos, e outros crimes de guerra cometidos desde a invasão do país, em 2003.
O material divulgado comprova que os EUA mantiveram registros de mortes de civis, embora já tenham negado esta prática. Ao todo, foram divulgados 109 mil registros de mortes, das quais 66.081 teriam sido de civis. A publicação de tais dados, no entanto, causou incómodo no Governo norte-americano.
Um porta-voz do departamento de Defesa americano afirmou que os documentos fornecem apenas observações de unidades tácticas, contendo observações de “eventos trágicos e mundanos”. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, também condenou a fuga de informação e deu a entender que a mesma poderia pôr vidas em risco.
No entanto, o Wikileaks garante que os documentos foram editados, de forma a não revelar “qualquer informação que possa ser prejudicial a qualquer indivíduo”. O site anunciou ainda que poderá vir a accionar a Justiça com base em informações apresentadas nos documentos. Assange afirmou também que a iniciativa fornece um retrato dos acontecimentos diários no Iraque, mostrando a “escala humana” do conflito. E que mortes de uma ou duas pessoas compõem “o grande número” dos mortos no Iraque.
Terão sido usados choques eléctricos e berbequins durante as sessões de tortura Muitos dos 391.831 relatórios Sigact (abreviação de Significant Actions) do Exército americano, aparentemente, descrevem episódios de tortura de presos iraquianos por autoridades do país. Nalguns deles, teriam sido usados choques elétricos, berbequins e há até relatos de execuções sumárias.
Os documentos indicam que autoridades americanas sabiam que estas práticas aconteciam, mas preferiram não investigar os casos. Um dos memorandos mostra que militares americanos receberam um vídeo que mostraria a execução de um prisioneiro iraquiano por soldados iraquianos. “As imagens mostram soldados iraquianos a arrastarem o recluso para a rua, atirando-o ao chão, espancando-o e a dispararem sobre ele”, diz a nota que identifica, pelo menos, um dos autores do crime.
Noutro caso, soldados americanos parecem suspeitar que militares iraquianos teriam decepado dedos de um preso e usado ácido para queimá-lo. Ordens superiores O porta-voz do Pentágono, Geoff Morrell, disse à BBC que, caso abusos de tropas iraquianas fossem testemunhados ou relatados aos americanos, os militares estavam instruídos a informar seus comandantes. “E, no nível adequado, essa informação seria então dividida com as autoridades civis e militares iraquianas para que fossem tomassem providências.”
Os documentos revelam ainda diversos casos não relatados em que soldados americanos teriam matado civis em postos de controle e durante operações. Um deles, que reporta a Julho de 2007, indica que um helicóptero militar americano teria matado 26 iraquianos, e que metade do grupo seria civil, segundo o documento.
Outro caso dá conta de que um helicóptero Apache abriu fogo contra dois homens, suspeitos de terem disparado morteiros contra uma base militar americana em Fevereiro de 2007, mesmo após a rendição deles. A tripulação da aeronave teria consultado um advogado sobre a validade da rendição e ao ser informada de que não era aceitável e que os homens eram “ainda alvos válidos”, dispararam.
O mesmo helicóptero, identificado como “Crazyhorse 18” estaria envolvido noutro episódio, no qual dois jornalistas e duas crianças foram mortos. Os documentos divulgados pelo Wikileaks também dão a entender que o Exército da Guarda da Revolução Islâmica do Irã treinou e forneceu armas a insurgentes no Iraque.