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Voleibol: Doze mil meticais “tiram” Moçambique da rota do “Mundial”

Voleibol: Doze mil meticais “tiram” Moçambique da rota do “Mundial”

Os jogadores da selecção nacional de voleibol não treinaram durante o período de preparação para a fase regional da Zona VI de apuramento ao “Mundial” da Polónia, edição 2014. Os atletas exigiram 12 mil meticais de prémio pelo apuramento para o “Regional” à Federação Moçambicana de Voleibol que naquela altura não dispunha de fundos para satisfazer as necessidades dos jogadores.

A falta de condições foi a principal razão evocada pelos atletas para não prepararem a ida a Gaberone. Para participar na fase regional de apuramento ao Campeonato Mundial de Voleibol, prova que decorreu entre os dias 07 e 13 do mês em curso na capital do Botswana, a Federação Moçambicana de Voleibol (FMV) recorreu à selecção sub-23.

Contudo, Mahomed Vala, vice-presidente daquela agremiação, abriu o livro ao @Verdade e revelou ao pormenor o que esteve por detrás da atitude dos jogadores. Para aquele dirigente, “os grevistas exigiram condições que a federação não podia dar, nomeadamente oito mil meticais como prémio pela qualificação para a penúltima fase e mais quatro para a compra de sapatilhas para o torneio de Gaberone”. Estas declarações foram feitas por aquele dirigente numa entrevista que prestou ao nosso órgão de informação.

@Verdade – O que esteve por detrás da greve dos jogadores da selecção nacional de voleibol sénior masculina?

Mahomed Vala – Ao que tudo indica, a greve foi algo programado pelos jogadores. Depois do sub-zonal que decorreu em Maputo, os atletas receberam uma determinada quantia pelo apuramento para a fase seguinte, o que certamente levou a pensar que a FMV tinha muito dinheiro a dar. Não quiseram informar-se, pois só assim poderiam saber que tais valores foram alocados à nossa instituição através do patrocínio de uma empresa nacional.

@V – Quanto dinheiro a federação deu aos atletas?

MV – Pagámos 500 meticais por cada jogo. Caso tivessem vencido o sub-zonal o prémio monetário por atleta seria de 2 500 meticais.

@V – Eles exigiram melhores condições?

MV – Eles exigiram oito mil meticais por terem garantido um lugar na fase regional de apuramento ao “Mundial”; ordenaram, ainda, que a FMV comprasse sapatilhas de quatro mil meticais para cada jogador; e reivindicaram um aumento significativo do “pocket-money” bem como um ginásio moderno.

@V – E qual foi a posição da federação perante essas exigências?

MV – Nós dissemos aos atletas que não podíamos satisfazer todas as necessidades por insuficiência de fundos. Também não podíamos prometer coisas que sabíamos, de antemão, que não íamos cumprir.

@V – E houve uma comunicação prévia dessa greve?

MV – Recebemos uma carta dos atletas em que exigiam tais condições que julgavam ser fundamentais para continuarem a treinar com a camisola da selecção nacional. Nós respondemos que íamos tentar melhorar, ainda que sem dar certezas. Foi por isso que eles declararam categoricamente que não iriam treinar sem que as suas exigências fossem satisfeitas. Não deram alternativas à federação que optou por acatar a deliberação deles.

@V – Isso quer dizer que a federação não tentou negociar com os atletas?

MV – Tentámos negociar com eles por três vezes, mas não nos deram espaço. Simplesmente não quiseram treinar e nós fomos obrigados a partir para o plano B.

@V – E qual foi o plano B?

MV – Tivemos de preparar a selecção nacional sub-23 para representar o país em Gaberone. Tínhamos de estar lá de qualquer jeito sob pena de a federação internacional penalizar-nos.

@V – Todos os atletas aderiram à greve?

MV – Durante as negociações percebemos que nem todos os atletas queriam entrar em greve. Mas por temerem represálias no seio do grupo, sobretudo dos mais velhos, optaram por aderir. Os que não concordaram com isso não apareceram nos três encontros que visavam alcançar um acordo com os atletas.

@V – Quem foram os mentores da greve?

MV – Conforme disse, anteriormente, foram os atletas mais velhos da selecção. Aqueles que acham que a nossa federação tem muito dinheiro. E é importante afirmar que os jogadores das outras províncias afastaram-se da greve. Refiro-me, sobretudo, aos atletas da Autoridade Tributária de Nampula que até se juntaram à selecção sub-23 em Botswana.

@V – Segundo fontes nossas há quem tenha protagonizado um boicote aos treinos da selecção sub-23. Isso é verdade?

MV – Sim. O mentor desta greve tentou boicotar os treinos da equipa sub-23. Mas a federação agiu e entregou o caso ao seu departamento de jurisdição e de disciplina.

@V – E quem foi esse indivíduo?

MV – Não posso revelar os nomes por uma questão de decência.

@V – Afirmou que a ida da selecção sub-23 foi para concretizar o plano B. De onde partiu esta ideia?

MV – A selecção sub-23 estava a ser formada para as competições que terão lugar no próximo ano. Portanto não foi uma solução “arranjada”, pois a equipa já existia e já vinha trabalhando para os futuros objectivos da federação.

@V – Quanto tempo de treino teve a selecção sub-23 antes do “Regional”?

MV – Estes briosos rapazes treinaram apenas um mês, porque tínhamos a esperança de que os mais velhos fossem voltar atrás na decisão, o que acabou por não acontecer. Nestes 30 dias de preparação intensiva, 15 foram com o novo seleccionador, Raúl Romero, que veio para Moçambique com o propósito de nos colocar no “Mundial”.

@V – E esse objectivo não seria possível com a selecção sub-23?

MV – Seria possível. Com esta jovem equipa nós ambicionávamos chegar à fase africana. Infelizmente as coisas não correram tão bem. Vencemos apenas um jogo e perdemos quatro. “Os treinadores estrangeiros estão a custo zero em Moçambique”

@Verdade – A FMV contratou recentemente dois treinadores estrangeiros para orientar as duas principais selecções nacionais. O dinheiro investido nesses dois técnicos não chegaria para satisfazer as exigências dos atletas?

MV – A vinda dos dois treinadores não envolveu nenhum custo adicional à federação. O técnico da selecção feminina, Amilton Barros, chegou a Moçambique na esteira da parceria existente entre a FMV e a Federação Internacional de Voleibol. Os seus ordenados são pagos por aquela instituição internacional e pelo Ministério da Juventude e Desportos. O da selecção masculina, o cubano, veio fruto da parceria existente entre o Ministério da Juventude e Desporto e o Governo de Cuba. É um facto que se tivéssemos dinheiro teríamos optado por melhorar as condições dos nossos atletas, pois o nosso objectivo era passar para a fase africana e lutarmos por um lugar no “Mundial” da Polónia. Alguns atletas pediram perdão

@V – Há jogadores que se mostraram arrependidos e que eventualmente pediram perdão por terem “arremessado” a camisola da selecção nacional por 12 mil meticais?

MV – No dia 30 de Setembro, a federação recebeu cartas de vários jogadores a pedirem desculpas pelo seu mau comportamento. São eles: João Manjate, Sílvio Gove, Néusio e Fídel. Infelizmente não puderam viajar com a selecção sub-23 porque as cartas deram entrada tardiamente.

@V – Quais são as sanções a aplicar aos atletas grevistas?

MV – A Lei do Desporto, que será evocada pelo Conselho de Disciplina por falta de um regulamento interno na federação, prevê cinco tipos de sanções para estas situações, a destacar: admoestação privada ou pública; suspensão temporária da respectiva actividade desportiva; suspensão temporária de filiação nos órgãos de hierarquia associativa desportiva; suspensão temporária do uso das suas instalações desportivas em competições oficiais; e irradiação ou extinção de acordo com a lei.

Voleibol: Moçambique fora do “Mundial”

A selecção nacional de voleibol sénior masculina não transitou para a derradeira fase de apuramento ao “Mundial” da Polónia do próximo ano. No torneio regional da Zona VI, disputado em Gaberone, Moçambique terminou na quinta posição.

Depois da renúncia dos jogadores que participaram na campanha anterior, a Federação Moçambicana de Voleibol decidiu convocar, para aquele país da região Austral de África, a selecção nacional sub-23 composta por jogadores sem nenhuma experiência a nível de competições internacionais.

Comandado pelo técnico cubano, Raúl Romero, o combinado nacional venceu apenas uma partida diante do Lesoto, por 3 a 2, e somou derrotas nas restantes, diante da Zâmbia (1 – 3), do Zimbabwe (2 – 3), do Botswana (0 – 3) e da Namíbia (1 – 3). Moçambique terminou na penúltima posição desta fase, superando apenas o Lesoto.

De referir que a equipa anfitriã, o Botswana, tal como sucedeu na fase pré-regional que decorreu em Maputo, foi a vencedora absoluta desta competição, tendo garantido a presença no derradeiro torneio de qualificação ao “Mundial” a par da Zâmbia.

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