O que acontece quando os moradores de um prédio vivem em desavenças e as suas relações são movidas por sentimentos de vingança, ódio e falta de diálogo e bom senso entre as partes?
Está uma manhã quente de Setembro no bairro da Malhangalene. Bem ao largo de Nyazónia 1.362, na zona da Shoprite existe um edifício com três apartamentos, pertencentes ao mesmo número de famílias. Sobre o terraço velho e cansado foi erguido uma casota de 2 por 4 metros, outrora composta por uma sala, despensa e dois quartos.
Estamos dentro desse apartamento com as paredes em rachas, furadas e prestes a desabar por completo. À excepção do tecto de zinco e barrotes de madeira, por fora está tudo reduzido a um entulho.
Ao lado restam apenas divisórias de um espaço que já foi uma casa de banho aprazível, mas no momento está completamente desfeita e com o interior esvaziado de banheira, sanita, lâmpadas, espelhos e chuveiro. “Em parte foi uma espécie de oportunismo.
Vejam que nem os cabos de energia eléctrica, e muito menos as torneiras escaparam das demolições. Foram os homens do município que cometeram estes estragos, alegando não haver consenso entre vizinhos. O pior é que até destruíram o que não tinha de ser mexido”, diz Hipólito Couto, morador e proprietário da infra-estrutura.
“Achamos ter sido uma atitude injusta porque antes de pôr abaixo, o conselho municipal devia fazer uma audição aos moradores, mas não se deu ao trabalho”, acrescentou Gerson outro dos três moradores que ocupam o prédio. A demolição resulta das desavenças, traduzidas em ódio, vingança e falta de bom senso que desde sempre caracterizaram a vizinhança. Mas a gota de água surgiu com a separação dos espaços comuns.
A dada altura, com o objectivo de conferir uma boa organização e exploração adequada do edifício, os três vizinhos acordaram dividir os espaços comuns, pelo que a zona do terraço coube a Hipólito Couto, morador do primeiro andar desde 1984, enquanto que a parte de baixo foi dividida em duas partes entre Mário Jango e Adélia Matsinhe, inquilinos do Rés-do-chão e o segundo piso, ambos desde 1983.
Na parte em que cabia a Mário Jango existia uma garagem. Enquanto de Adélia Matsinhe tem uma vivenda. Nisso, Hipólito Couto tratou de construir uma casa no terraço e acomodou os fi lhos. Portanto estava assim feita a distribuição, segundo eles sem prejuízo de outrem, pelo menos até ao dia em que os homens do conselho municipal convocados por um dos moradores deitaram a baixo quase toda infra-estrutura do terreiro.
Refira-se que, segundo a versão de Hipólito e Gerson fi lho de Adélia Matsinhe, o processo de distribuição dos espaços foi orientado por Mário Jango, por sinal o morador mais antigo e o principal responsável pelo ambiente tenso que caracteriza a convivência no edifício.
“Ele é que fez a proposta de divisão dos espaços comuns. A princípio queríamos que fi casse com o terraço, mas pessoalmente escolheu a parte de baixo”, comentou Gerson. “Sendo assim passou a usar como proprietário, a garagem que eu construí para estacionar a minha viatura”, disse Hipólito Couto, para quem Jango não passa de um invejoso e contra o progresso dos outros. “Isto cheira a inveja. Na verdade é uma perseguição pessoal. É estranho que só se tenham destruído os meus bens. Até mesmo a garagem que ele próprio servia não escapou porque é obra das minhas mãos”.
A seguir questionam: “não percebemos porque! Aliás, até hoje ninguém nos explicou por que motivos o homem mudou de ideias e decidiu mandar destruir o imóvel do terraço, como também não entendemos porque cargas de água o município terá acatado ordens de uma pessoa sem ouvir todos envolvidos no processo.
É claro que ao destruir a casa os homens alegaram que era a solução ideal para casos sem consenso entre vizinhos desavindos. Mas pretendemos saber como é que se chegou a tal conclusão se ninguém foi ouvido sobre o assunto”.
Enquanto percorremos o prédio de cima para baixo, os moradores denunciam os maus hábitos e a falta de carácter do vizinho do rés-dochão. No seu ponto de vista ele é o responsável pelo malestar que caracteriza o dia a dia dos residentes.
Ali não há paz e a vivência é um inferno. “Estamos revoltados, pois somos constantemente humilhados e espezinhados. O que parece é que estamos presos e não vivemos nas nossas próprias casas”, desabafa Adélia.
Para Gerson, neste momento não é possível desenvolver actividades no local porque o vizinho mais antigo não deixa. É praticamente impossível tentar reabilitar o murro e os passeios a volta do prédio. “Temos licença municipal para realizar algumas tarefas, mas ele simplesmente não aceita.
Neste momento gostaríamos que o município viesse demarcar os espaços e dar a cada um a sua parte, pois queremos viver em paz. Veja só para este passeio recém reabilitado? O senhor nem pode imaginar como foi difícil construir isto”, diz o jovem apontando para uma porção de cinco metros com o cimento ainda fresco.
Portanto, aqueles habitantes, relacionam os desmandos e a prepotência do seu vizinho com o facto daquele considerar-se dono do espaço, dado que é o mais antigo no local, mas acrescentam que o vizinho veterano age sem humanidade por causa da solidão em que vê mergulhado. “Ele vive sozinho e não tem parentes achamos que uma família lhe tornaria diferente desse homem frio, sem escrúpulos e respeito pelo próximo”, presumem.