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Vítima das limitações do Sistema Nacional de Saúde

Vítima das limitações do Sistema Nacional de Saúde

Hermínio Fernando Cossa, de 31 anos de idade e residente no bairro de Maxaquene, vive num mar de incertezas desde o ano 2010, altura em descobriu que sofre de um cancro chamado “leucemia mielóide crónica”.

O diagnóstico da doença foi obtido a partir de um exame de sangue feito num dos hospitais da capital do país, motivado por um inalterável mal-estar. A sua infelicidade piora a cada dia que passa porque as drogas vitais para o seu tratamento são escassas no país, para além de que é o Sistema Nacional de Saúde que lhe fornece as quantidades prescritas pelos médicos. Ele vive o drama de integrar um país onde o Sistema de Saúde se debate com todo o tipo de dificuldades.

Em contacto com o @Verdade, Hermínio Cossa contou que se submeteu ao exame de sangue porque sofria de tonturas e cansaço constantes. Depois de saber do diagnóstico, procurou por um acompanhamento médico no Hospital Central de Maputo, no sector de Hematologia e Oncologia. Há sensivelmente dois anos que tenta atenuar os efeitos malignos da doença, mas sem sucesso porque lhe faltam medicamentos.

No Hospital Central de Maputo, os especialistas em doenças como leucemia receitam-lhe Hidroxiureia, que, quando tomado rigorosamente, controla a doença. Contudo, devido à ruptura do stock daquele fármaco, Hermínio teve que passar a tomar Mesilato de Imatinib (Gleevec).

“Estes medicamentos garantiam-me um bom controlo da doença e uma qualidade de vida minimamente aceitável. Quando esgotaram, os médicos receitaram-me outras drogas tais como Interferon Alfa 2b e Citarabina. Tratava-se de uma quimioterapia”.

Quimioterapia é um tratamento no qual são usadas drogas para destruir as células doentes que formam um tumor no organismo humano. É um método penoso, mas impede a progressão da doença no corpo. No caso de Hermínio, os fármacos recomendados foram Interferon Alfa 2b e Citarabina.

Entretanto, o jovem afirma que, entre Junho e Agosto do ano em curso, altura em que lhe eram administradas aquelas drogas, viveu momentos difíceis porque os seus efeitos colaterais afectaram a medula óssea. “Tive febres, dores de cabeça e contracções musculares muito fortes, diarreia, náuseas, vómitos, cansaço, falta de apetite e tantos outros efeitos difíceis de descrever”.

Quando Cossa ficou debilitado, o Hospital Central de Maputo encaminhou um documento à Junta Nacional de Saúde, “apelando” para que a Central de Medicamentos e Artigos Médicos comprasse 240 cápsulas de Gleevec de 100mg e 180 cápsulas de Hidroxiureia de 500mg a favor do paciente. Mas não foi dessa vez que o paciente suspiraria de alívio, pois contra todas as suas expectativas, da quantidade indica só recebeu 120 Gleevecs depois de muita insistência. A quantidade só serve para um mês.

O desagrado

Hermínio Cossa diz-se agastado com as autoridades da Saúde pelo facto de não lhe terem disponibilizado as quantidades necessárias para atenuar os efeitos da doença de que padece. “Gleevec é um medicamento caro, mas vital para a minha doença. Pode oferecer-me uma qualidade de vida boa dada a sua capacidade de eliminar por completo as células cancerígenas no meu organismo. É uma droga muito cara e não tenho condições para adquiri-la”.

Posto isto, a única esperança que lhe resta é poder testemunhar o sucesso do Projecto X, criado pelos amigos para angariar dinheiro a fim de lhe ajudar a ultrapassar o infortúnio que se abateu sobre si.

O que é leucemia?

Leucemia é um tipo de cancro que afecta os glóbulos brancos. Desenvolve-se na medula óssea, a qual produz três tipos de células sanguíneas: células vermelhas que contêm hemoglobina e são responsáveis por transportar oxigénio pelo corpo, células brancas que combatem infecções e plaquetas que auxiliam a coagulação sanguínea.

A leucemia é caracterizada pela produção excessiva de células brancas anormais que depois abundam na medula óssea. A infiltração da medula óssea resulta na diminuição da produção e funcionamento de células sanguíneas normais. Dependendo do tipo, a doença pode espalhar-se para o baço, fígado, sistema nervoso central e outros órgãos e tecidos, causando inchaço na área afectada.

Tipos de Leucemia

A leucemia é classificada de acordo com o tipo de leucócitos. As classificações (conhecidas) são: leucemia linfocítica, linfoblástica ou linfóide, quando atinge os linfócitos; e a leucemia mielóide, quando atinge os mielócitos. Este último é o que apoquenta o jovem Hermínio Cossa.

A leucemia apresenta-se de duas formas: uma aguda e outra crónica. Na forma aguda, as células são imaturas, não desempenham o seu papel como deveriam e reproduzem-se aceleradamente. Na crónica, as células são maduras, e podem manter algumas das suas funções, além de se reproduzirem de forma lenta.

A leucemia linfóide aguda é mais comum em crianças, mas pode atingir pessoas com idade acima de 65 anos, enquanto a leucemia mielóide aguda é mais comum em adultos. É o caso do Hermínio Cossa. Todavia, geralmente afecta adultos com idade acima de 55 anos e raramente acomete crianças.

Causas de leucemia e sintomas

A causa exacta da leucemia é desconhecida, mas acredita-se que factores genéticos e ambientais possam estar associados ao seu aparecimento.

Os danos à medula óssea resultam na falta de plaquetas no sangue, que são importantes para o processo de coagulação. Isso significa que as pessoas com leucemia podem sangrar excessivamente pelas narinas e gengivas. As células brancas do sangue, que estão envolvidas no combate a agentes patogénicos, podem ficar suprimidas ou sem função, colocando o paciente sob o risco de infecções.

Os primeiros sintomas são falta de ar, anemia e fraqueza (devido à falta de hemácias no sangue), infecção e febre (pela baixa quantidade de leucócitos), manchas roxas na pele em face da quantidade excessivamente baixa de plaquetas no sangue. O nosso entrevistado disse estar a passar por este último sintoma.

Outros sintomas são a perda de apetite, peso, aumento dos gânglios linfáticos, aumento do fígado e baço, calafrios e dores nas articulações. Dores de cabeça, náuseas, vómitos, visão dupla e irritabilidade podem ser os sintomas de que células cancerosas migraram para o sistema nervoso central.

Diagnóstico

O diagnóstico da leucemia é feito de várias maneiras, dentre elas o histórico do paciente e através de vários exames como hemograma completo, tomografia computadorizada, raio-X, biopsia da medula óssea, ou biopsia de um gânglio linfático.

Para todos os tipos de leucemia, a quimioterapia (destruição das células malignas) é indicada. Hermínio submeteu-se a este tipo de tratamento, mas teve que suspender porque os efeitos colaterais o deixavam totalmente debilitado, o que levava à sua internação.

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