A sangrenta repressão do protesto de mineiros sul-africanos, que teve tiros da força policial e deixou 34 mortos nesta semana, pode também ferir o partido governista Congresso Nacional Africano (ANC) e o seu principal aliado trabalhista, aumentando a insatisfação dos trabalhadores sobre as persistentes desigualdades na maior economia africana.
O tiroteio de quinta-feira(16), que traz de volta memórias da época da violência do apartheid, destacou que, após 18 anos no poder, o governo do ANC com seus parceiros nos sindicatos não foi capaz de fechar as fissuras causadas pela desigualdade salarial, pobreza e desemprego que persistem no país.
O incidente mais mortífero de segurança desde o fim do apartheid expôs o profundo descontentamento dentre as bases da União Nacional dos Mineiros (UNM), maior sindicato do país, que tem sido um “campo de treino” da liderança do ANC e um firme apoiante do presidente Jacob Zuma.
“O UNM é totalmente voltado para a política. Eles se esqueceram dos homens dentro das minas”, disse Lazarus Letsoele, um dos mineiros em greve na mina de Lonmin Marikana, cerca de 100 quilómetros a noroeste de Johanesburgo.
Ele escapou na quinta-feira quando a polícia abriu fogo contra os grevistas no que foi chamado de “massacre de Marikana”, que gerou uma investigação do governo, e uma onda de questionamentos internos na África do Sul pós-apartheid.
Apesar dos bilhões de dólares de investimento do ANC na redução de pobreza e aprovação de leis simpáticas aos sindicatos para proteger trabalhadores que no passado eram explorados pelo regime de minoria branca, a distância entre ricos e não-ricos e ainda uma das maiores do mundo.
O Produto Interno Bruto per capita é de mais de 8 mil dólares por ano, mas quase 40 por cento da população vive com menos de 3 dólares por dias.
“Queremos mais dinheiro e queremos alguém que possa conseguir isso para nós”, disse um mineiro que pediu para ser chamado apenas por seu primeiro nome Paulo e que vive numa bairro de lata diante do campo em que os trabalhadores foram mortos a tiros.
A platina produzida pelos trabalhadores da mina de Lonmin é vendida por cerca de 1.440 dólares a onça, mas um trabalhador que extrai toneladas de rochas do subsolo recebe menos que 500 dólares por mês.
“Esta greve é contra o Estado e os ricos, não apenas uma questão sindical”, disse Justice Malala, analista político do jornal britânico Guardian