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Vintan Nafasse, o homem do bailado

Vintan Nafasse

O seu nome é Vintan Nafasse. Podia ser considerado – sem nenhum receio – o mais atrevido e, consequentemente, um dos mais experientes bailarinos da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD), porque é do baile que durante largos anos da sua vida, se dedicou até que, mesmo face à discriminação na sociedade e a dificuldade que existe no sector, descobriu que ela faz parte da sua vida.

Criado num ambiente puramente artístico, Vintan Nafasse nasceu em Maputo onde aprendeu a amar as artes desde a adolescência. De raízes macondes, presentemente o artista tem 33 anos idade, dos quais metade entregues à música e à dança. Percebamos a sua história.

@Verdade: Quando é que surge o seu interesse pela dança?

Vintan Nafasse: O meu interesse pela dança surgiu desde minha tenra idade, uma vez que, todos os domingos, os meus familiares e alguns amigos reuniam-se para dançar mapiko. Mas, na verdade, descobri a minha inclinação para o bailado com 11 anos de idade, quando fui submetido à ritos de iniciação. No mato cantávamos e dançávamos, quase, todos os dias.

@Verdade: Que dificuldades enfrentou durante o seu percurso artístico?

Vintan Nafasse: É, quase, normal que sempre tenhamos que enfrentar dificuldades para a nossa afirmação em qualquer que seja a área. Por exemplo, os meus desafios começaram em casa. Quando comecei a dançar ninguém me apoiava porque, para eles, não se vive de arte. Para além da minha família, a sociedade também me descriminou. Mas, o maior obstáculo que existe e que dificulta a vida dos artistas, no geral, e bailarinos, em particular, tem a ver com a falta de instrumentos de trabalho e de espaço para ensaiar e apresentar os nossos trabalhos.

@Verdade: Qual foi a sua trajectória até entrar na CNCD?

Vintan Nafasse: Por mais que a minha vida artística tenha sido feita na companhia, muito antes disso fiz parte de um grupo de dança de amadores pertencente à Associação Moçambicana de Amizade Entre os Povos (AMASP), no qual apenas era instrumentista. Esta experiência foi vivida em 1992.

No entanto, volvidos dez anos, isto é, em 2002, acontece a minha primeira aparição na companhia à convite de Atanásio Nyusi e Betina, para a montagem de uma peça intitulada “Mashawona”. Além da minha participação nesta montagem, depois do Festival de Dança Popular, actual Festival Nacional da Cultura, fui chamado para integrar o grupo júnior da associação.

Contudo, só comecei a dançar em 2007, passando depois, em 2011, a fazer parte integrante do grupo sénior da CNCD.

@Verdade: O que significa para si fazer parte da CNCD?

Vintan Nafasse: Na verdade, foi a realização de um sonho. É muito importante para um artista fazer parte de uma associação que identifica o país. Isto não se defere de um jogador de futebol, que sempre almeja estar na Selecção Nacional – Mambas.

@Verdade: Quais sãos os momentos que marcaram a sua vida na CNCD?

Vintan Nafasse: O momento mais marcante da minha carreira na companhia foi o da estreia da obra de Cândida Mata, intitulada “Capulana Dza Kuxonga”.

A peça foi lançada em Novembro de 2013 e eu fazia o papel da vocalista principal.

@Verdade: Tomando em conta os seus anos de experiencia, qual é o estágio actual da dança em Moçambique?

Vintan Nafasse: Bom…. no que diz respeito à dança estamos bem direccionados, uma vez que existem vários grupos de baile nas nossas comunidades. Mas, infelizmente, a falta de associações que defendam os nossos interesses, tem sido o mais grotesco problema que enfrentamos diariamente.

@Verdade: Mas, na sua opinião, o que falta para que os bailarinos tenham entidades que defendam os seus direitos?

Vintan Nafasse: Na minha opinião, é necessário que haja, primeiro, uma aproximação entre os mais consagrados bailarinos e os jovens, para que juntos encontrem uma solução com vista a ultrapassar o problema. Penso também que os dançarinos experientes têm mais possibilidades de serem ouvidos.

@Verdade: Acha que é possível viver da dança em Moçambique?

Vintan Nafasse: Sou apologista da ideia que defende que ainda não é possível viver da dança em Moçambique. As razões são simples: a falta de instrumentos e de espaços para praticar os bailados, a falta de entidades que nos defendam, entre outros problemas contribuem para que os dançarinos vejam a actividade como um mero biscate.

Por exemplo, diferentemente dos coreógrafos e bailarinos, os músicos e os escritores têm a Sociedade Moçambicana de Autores (SOMAS) para defender as suas criações artísticas.

@Verdade: Quem são as suas inspirações no mundo das artes?

Vintan Nafasse: Primeiro diria que me inspiro em dois bailarinos de origem maconde, Casimiro e Atanásio, ambos com apelido Nyusi. Esta dupla – não que actuam juntos – mostrou que, com esforço e dedicação, é possível contornar todos os obstáculos existentes e levar a nossa cultura além-fronteiras. Para além deste exemplo de persistência e profissionalismo, os “comparsas Nyusi” sempre deram-me força para continuar a trabalhar, mesmo face às dificuldades.

@Verdade: Que projectos tem para o futuro?

Vintan Nafasse: Os meus sonhos e anseios são ilimitados. Isto é, pretendo ser um grande e respeitado coreógrafo e ajudar a criar um associação que defenda os bailarinos da nossa Pérola do Índigo.

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