O provável futuro líder chinês, Xi Jinping, pode reaparecer em público já no Sábado (15), pois está a recuperar-se de uma dor nas costas, disseram as fontes que procuram afastar os rumores sobre a saúde dele que espalham-se desde que o vice-presidente deixou de aparecer em público, no início do mês.
As autoridades chinesas recusam-se a informar oficialmente o que aconteceu com o dirigente, alimentando especulações de que ele teria sofrido um ataque cardíaco, um derrame, uma cirurgia de emergência contra um cancro ou até uma tentativa de assassinato.
Mas três fontes próximas à liderança chinesa e familiarizadas com a condição de Xi disseram que o político, de 59 anos, sofre de uma dor nas costas e, por orientação dos médicos, dedica-se a repouso e fisioterapia. Além disso, ele aproveita para preparar-se para o processo de transição de poder, previsto para começar em Outubro.
“Ele está bem agora. Ele fez três dias de fisioterapia”, disse uma fonte. “Ele deve fazer uma aparição pública em breve.” Uma segunda fonte disse que as sessões de fisioterapia acontecem no vigiadíssimo Zhongnanhai, complexo murado da liderança chinesa.
“Não foi grave, mas foi muito doloroso, e ele recebeu ordens para ficar de cama.” A terceira fonte disse que Xi pode aparecer em público já no Sábado, mas não foram revelados outros detalhes.
Todas as fontes falaram sob condição de anonimato, uma vez que tradicionalmente a saúde dos líderes chineses é tratada como um tema sensível no país. A última aparição de Xi aconteceu a 1 de Setembro, e depois disso ele faltou a vários compromissos oficiais, inclusive com autoridades estrangeiras em visita.
Ele teria distendido um músculo quando nadava, logo antes do início de uma viagem oficial à China da secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton. Ele também deixou de encontrar o primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsieng Loong.
Quarta-feira (12), a imprensa estatal chinesa divulgou comentários atribuídos a Xi pela primeira vez desde o seu sumiço, mas não houve fotos nem aparição pública. Tampouco houve informações oficiais que contivessem os rumores, num comportamento que muitos no Ocidente acham incompatível com a importância económica e militar da China, e que lembra os comportamentos misteriosos dos regimes comunistas durante a Guerra Fria.
Transição
Pequim ainda não anunciou formalmente a data do congresso partidário quinquenal, no qual Xi está cotado para substituir Hu Jintao como chefe do partido. A expectativa, no entanto, é que o evento ocorra a partir de meados de Outubro.
Em Março do próximo ano, ele deve assumir formalmente a Presidência do país mais populoso do mundo. Segundo a segunda e a terceira fontes, Xi tem trabalhado muito durante a sua recuperação para evitar atrasos na abertura do congresso.
“Ele cancelou todas as funções públicas externas e internas para concentrar-se no trabalho preparatório para o 18º congresso. Ele está a trabalhar com Li Yuanchao e Li Zhanshu”, explicou uma das fontes, referindo-se ao ministro partidário do departamento pessoal e ao novo chefe de gabinete de Hu, respectivamente.
Xi e os dois Lis, que não são parentes, apressam-se para concluir uma lista de novos membros plenos e suplentes do Comité Central do partido, além de um discurso de Hu no congresso e a pauta da 7ª plenária do 17º Comité Central, que acontece antes do evento partidário.
Li Zhanshu, um dos mais próximos aliados de Xi e que também é bem aceite pelo grupo de Hu, só em Setembro foi nomeado chefe de gabinete, confirmando reportagem da Reuters a 18 de Julho. Sobre a relutância do governo em comentar a situação de Xi, Cheng Li, especialista em política chinesa do Instituto Brookings, de Washington, disse que “é perfeitamente compreensível”.
“O que podemos dizer? Se você diz que ele está no hospital, as pessoas pensam: ‘Ah, meu Deus, ele está a morrer’. Isso vai gerar uma nova rodada de história sensacionalista”, disse.
“Com todas essas coisas a acontecerem, entendo perfeitamente por que eles estão tão hesitantes. Há outro tipo de mentalidade: ‘Isso é problema nosso, deixemos especularem os rumores, deixemos vocês constrangerem-se depois’.”
A incerteza em torno da ausência de Xi não teve por enquanto impacto sobre os mercados financeiros chineses ou mundiais, que estão voltados para a crise da dívida na Europa e a desaceleração económica da própria China.
Mas os investidores acompanham atentamente o mistério que cerca o dirigente, após meses de dramas políticos na China. Em Abril, o dirigente Bo Xilai foi suspenso do Politburo do partido, que inclui 25 dirigentes do alto escalão, e depois a sua mulher foi condenada pelo assassinato de um empresário britânico.
Também em Abril, o dissidente cego Chen Guangcheng fugiu da prisão domiciliar e refugiou-se na embaixada dos EUA em Pequim, de onde embarcou para Nova York.
Noutro escândalo, este mês, um importante aliado do presidente Hu foi rebaixado de cargo por causa do suposto envolvimento do seu filho num grave acidente de trânsito envolvendo um carro de luxo.