Indubitavelmente, acabar com os casamentos prematuros deve ser um imperativo nacional, dada as nefastas consequências que a prática representa na vida e no futuro das raparigas, e não só. Quase todos os dias, assistimos até à exaustão a inúmeras campanhas e iniciativas em torno deste drama, porém, os casos tendem a ganhar proporções bastante alarmantes.
Essa vergonhosa realidade deve-se, em grande medida, a falta de iniciativas claras e concretas para acabar com esse mal que, na verdade, é fruto da pobreza extrema em que vivem milhares de moçambicanos. Não se pode pensar em combater aos casamentos prematuros sem antes erradicar a “fome” que fustiga as famílias moçambicanas, sobretudo no meio rural.
Sem sombras de dúvidas, é bonito organizar reuniões ou conferências em estâncias turísticas luxuosas para desenhar e definir estratégias ou falar do empoderamento da rapariga. É de louvar as campanhas de sensibilização. É de se tirar o chapéu aos investimentos feitos em campanhas com vista a acabar com esse mal. Mas a realidade tem mostrado que as raparigas são colocadas entre a espada e a parede, sem nenhuma alternativa, uma vez que frequentar todos os dias a uma escola custa dinheiro, embora se diga que o ensino público é gratuito.
É evidente que centenas de pais aceitam, devido à pobreza, o pedido de casamento das suas filhas com a condição de que o indivíduo irá garantir a continuação dos estudos da rapariga situação essa que muitas vezes não chega a acontecer. Além disso, na visão dos pais – longe de que estejam a cometer um crime –, os casamentos prematuros são um caminho para ultrapassar as dificuldades que enfrentam para sustentar as famílias. Também os progenitores veem os casamentos prematuros como uma garantia de que, caso a sua filha fique grávida (pois aos 14 anos já começam a namorar), pelo menos saberá quem é o indivíduo que a engravidou.
Ao invés das organizações não governamentais internacionais e nacionais passarem a vida a esbanjarem dinheiro em reuniões, workshops ou conferências e campanhas infrutíferas sobre o casamento prematuro, deviam direccionar esse valor para criar alternativas reais e com impacto na vida das raparigas, ou seja, as organizações devem apoiar, através de bolsas de estudos, a educação das raparigas em situações vulneráveis.
Portanto, se verdadeiramente há intenção de acabar com os casamentos prematuros, deve-se repensar na estratégia de combate a esse mal, passando a investir na educação das raparigas, pois já há evidência suciente de que as campanhas e os workshops são uma autêntica e redonda perda de tempo e dinheiro.