O Chefe do Estado, Filipe Nyusi, devia ser um homem acima de qualquer suspeita e solícito para os seus “patrões”, mas não é assim.
Desde que um grupo inspirado na doutrina islâmica, denominado Al Shabaab, actua no norte de Moçambique, desde Outubro de 2017, causando terror e matança na província de Cabo Delgado, ainda não ouvimos a posição do Comandante-Chefe das Forças Armadas. Porém, ainda é tempo de Filipe Nyusi se emendar.
O que começou como um simples ataque visando as unidades policiais e atribuído a supostos bandidos armados – no jargão policial e de alguns militantes do partido no poder – no distrito de Mocímboa da Praia, já é um problema sério. Mas bastante sério pode ser o silêncio sepulcral do Presidente da República perante o clamor e a agonia da população local, que já passa noites em claros. Tenha misericórdia e não seja indiferente ao desgosto dessa gente! Ajude-a a superar o drama a que está sujeita.
Enquanto o Alto Magistrado da Nação profere discursos de censura e repressão à manifestação popular em Maputo na Matola, por conta dos constantes acidentes de viação, e sugere que os promotores da manifestação abandonem a urbe para habitar sabemos lá em que parte do vasto Moçambique, simultaneamente ele finge ser cego, surdo e mudo, ignorando por completo a barbárie instalada em Cabo Delgado. Ele escuda-se num problema minúsculo, comparativamente ao que se passa no norte.
Em algumas comunidades dos distritos de Mocímboa da Praia, Palma, Nangade, Macomica e Quissanga o ambiente é de cortar à faca, põe todos nós com os nervos à flor da pele e com os dentes a ranger de pânico. A realidade deixa transparecer que não temos autoridade nem governo em Cabo Delgado, sobretudo quando as Forças de Defesa e Segurança, sem medirem as consequências, promovem acções de caça ao homem movidas pelo desespero da população.
A incompreensão do mal cometido pelas pessoas cujos familiares foram decapitados ou mortos de outra forma e viram as suas casas reduzidas a cinza sufoca de tal sorte que parece uma espinha atravessada na garganta. Todavia, o pior que tudo isso é o silêncio do Chefe do Estado. Ele não tuge nem muge e de comício em comício popular mete os pés pelas mãos.
Sabemos que a indiferença em Moçambique é um mal enraizado e que passa de um governo para o outro, mas o que não cabe nas nossas cabeças é que um Presidente da República ignore por completo o horror que se alastra em Cabo Delgado e se exponha à vergonha de ombrear com o edil de Maputo para prometer uma ponte aérea num bairro, por conta dos por acidentes de viação que ceifam vidas na “Circular”.
Algumas atitudes do Chefe do Estado revelam uma certa desarticulação dos assessores, o que em ano eleitoral pode custar caro a si e ao seu partido. Outubro vem aí, a ver vamos.