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‘@Verdade Cor-de-Rosa – “Manifs”

Hoje escrevo a partir da Manhiça. Estava preparada para continuar a escrever sobre da preparação de um casamento para estabelecer um paralelismo em relação à organização de um grande evento. Como o Festival Tunduro, a semana passada.

Mas alguns leitores estão com sorte já que, esta manhã, acordei com a notícia que Maputo estava a arder. Por vezes acredito que nada acontece por acaso… tive um namorado que me dizia para não ligar aos meus pressentimentos, uma vez que muitos deles se referiam a ele. Sei que no fundo acreditava que eu sabia a ‘Verdade’, mas a sua fuga era apelidar as minhas suspeições de “cor-de-rosas”. Ontem não consegui parar de ouvir em ‘loop’ (repetidamente) uma música da banda reggae ‘Midnite’, chama-se “Right Direction” e tem a participação da voz linda de Dezarie.

O seu início começa assim: “Too much crime black on Unnecessary killing a gwan Today you see a man, next day he’s gone Today you see a man, next day he’s gone If you really want shot someone If you really want shot someone Kill the one what cause oppression Causing the struggle fe gwan What plot fe destroy the nation Deliberately lock up black man Killing the unborn start up abortion” Podem sempre traduzir no Google mas, basicamente, apela a que não façamos mal uns aos outros e que chega de matar inocentes. Se realmente queremos e encontrar a nossa “direcção certa” que nos voltemos contra a opressão.

Acredito que não foi por acaso que este 1º de Setembro acordou assim. Tal como aconteceu no dia 5 de Fevereiro de 2008, o povo cansou- se! É cansativo ouvir “palavras sem sentido” como diz outra música de ‘Midnite’ – “In the race so far”. Desgasta acreditar em promessas e ver tudo parado. Desgasta assistir ao aumento dos bens essenciais e não ter como os comprar. Desgasta ser espezinhado e trocado numa fi la de supermercado só porque temos um ar menos limpo.

Desgasta a pseudo-burguesia que nos mata a todos. Desgasta viver! Os moçambicanos cansaram- se! Foram para as ruas manifestar as suas preocupações e a forma como a sua direcção é alterada em prol do desgoverno deste país! A vida anda como ritmos descontrolados, com indecisões constantes, à custa das decisões do Governo. Sou a favor desta manifestação. Apoio aqueles que a fi zeram de coração mas condeno quem se aproveitou para ganhar o dia. Condeno quem saqueou as lojas, assaltou os bancos, ateou carros de inocentes e causou vítimas até à morte. Nasci no ano das Independências que coincide com os 35 anos dos países livres onde se fala português. Também saí para as ruas de Lisboa quando me chamaram “geração rasca” – em 1993 – e o pior é que tenho de carregar este peso sempre!

Já que – do outro lado do mundo – não está fácil também! Voltámos à ditadura por termos acreditado naqueles que nos obrigam a seguir “in the race so far”. Nos obrigam a emigrar e a procurar caminhos. Fico desiludida com o que aconteceu hoje. Agora vivo num país rico de gente, rico de ideias, rico de energia e que chega para todos. Vamos parar. Vamos pensar e não acalmar multidões com a lengalenga do “combate à pobreza absoluta”. Não queremos voltar 20 anos atrás em que se tinha de andar escoltado na zona de Maluana. Estou zangada.

Antes de me despedir quero dar um grande abraço à equipa d’ “@ Verdade”. Ao meu colega, camarada, e irmão JVA. Ele hoje saiu à rua e teve de levar um cadáver de 11 anos para o hospital. O Rui Lamarques presenciou um tiroteio e o Erik Charas foi motorista e repórter fotográfi co de apoio. Milton Machel, obrigada pelas actualizações. Um bem-haja.

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