O Vaticano tentou esclarecer nesta quarta-feira as declarações polêmicas de seu número dois, o cardeal Tarcisio Bertone, ligando homossexualidade e pedofilia. Destacou que o prelado falava de casos de pedofilia entre o clero, não no restante da população.
“As autoridades eclesiásticas não consideram de sua competência fazer afirmações generalizadas de caráter especificamente psicológico ou médico, as quais são pertinentes, naturalmente, a estudos de especialistas et cientistas sobre o assunto”, declarou o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano. O padre Lombardi precisou à AFP por telefone que se tratava de um “esclarecimento, não um distanciamento” do Vaticano em relação às declarações do cardeal Bertone.
O secretário de Estado do Vaticano foi motivo de uma onda de indignação, principalmente das organizações homossexuais, depois de ter declarado na segunda-feira no Chile: “Numerosos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não havia relação entre celibato e pedofilia, mas muitos comprovaram, e me disseram recentemente, que há uma relação entre homossexualidade e pedofilia”.
Em seu comunicado, o padre Lombardi destaca que o cardeal Bertone se “referia, evidentemente, ao problema dos abusos cometidos pelo clero, não os cometidos por outras pessoas entre a população”. O padre Lombardi citou, em apoio às declarações do secretário de Estado, um estudo estatístico do Vaticano sobre “abusos de padres contra menores aos quais a Congregação para a Doutrina da Fé se viu- confrontada nos últimos anos”, que diz respeito, exclusivamente “ao comportamento do clero”.
O estudo, divulgado há um mês pelo pesquisador da Congregação, Monsenhor Charles J. Scicluna, estabelece uma distinção entre “casos de pedofilia no senso estrito” (10% dos casos) e os “casos que poderiam ser definidos como relacionados à efebofilia”, isto é, referente a adolescentes. Nestes casos que representam 90% do total, 60% se dizem respeito a indivíduos do mesmo sexo e 30% a relações de caráter heterossexual, segundo o estudo.