Os dados do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) são aterradores, mas não explicam, como se pretende fazer crer, a razão da fraca afluência aos postos de recenseamento. Até o presente, sete províncias do país (72,73 porcento) estão muito abaixo de atingir 50 porcento dos eleitores previstos.
Um dado preocupante, mas não neste contexto. As avarias nas máquinas, um pouco por todo o país, não explicam estes números. Contudo, a presença do secretários dos bairros e chefes dos quarteirões, nos postos de recenseamento, esclarecem uma parte do problema.
O secretário do bairro e o chefe do quarteirão representam, é bom que se diga, o partido no poder. Na história da nossa democracia os atropelos aos direitos consagrados pelo multipartidarismo e plasmados na Constituição da República têm sido perpetrados por estes agentes do partido no poder.
Portanto, escudar-se nos números é, no mínimo, absurdo. Importa lembrar que as campanhas de educação cívica, regra geral, serviram mais para justificar o dinheiro gasto do que para sensibilizar os moçambicanos da importância do sufrágio universal.
As ameaças da Renamo, segundo as quais o recenseamento seria impedido de todas formas também podem explicar números tão sombrios. Curiosamente, Gaza e Inhambane, províncias onde a influência do partido no poder é enorme ultrapassaram a fasquia dos 50 porcento até a data.
Não deixa, também, de ser estranho o número residual de duas províncias cruciais, pela quantidade de potenciais eleitores, nas estatísticas do STAE. Zambézia e Nampula, até o momento, registaram 25 porcento do previsto. Um dado assustador, uma vez que se trata de províncias que podem mudar a paisagem política do país.
Não se pode, contudo, falar em teorias de conspiração. No entanto, é preciso ter em conta que a acção dos membros das brigadas e a táctica de colocar pessoas nos postos de recenseamento para impedir que cidadãos usufruam de um direito é suspeita. Sentimos, por isso, alguma simpatia pela posição da Renamo que se recusa a participar em mais um teatro de enganos.
É que, no actual cenário, tudo concorre para que a Frelimo governe nos próximos anos. O que é perigoso. O perigo, é bom que se diga, não advém da possibilidade de a Frelimo governar, mas sim do facto de poder governar contra a vontade da maioria.
Os números não falam das ameaças e das manobras que visam reduzir o máximo de eleitores possível. O que é preciso fazer, para combater ardil tão frutífero, é sensibilizar o povo para recensear. Não houve campanha de educação cívica, mas o leitor pode falar com os seus vizinhos, familiares, amigos e colegas para obterem, o mais rápido possível, o cartão de eleitor. É preciso denunciar quando for impedido de recensear.
O comboio das eleições só passa uma vez e se o perdermos vamos ficar cinco anos a falar dos mesmos problemas e dos mesmos corruptos. E, se assim for, ainda que os mesmos tenham colocados entraves para nos recensearmos, a culpa será exclusivamente nossa. Cada povo tem os governantes que merece.
Quem serão os próximos? A escolha é sua. Portanto, vá recensear-se…