O académico e presidente da Comissão Científico-Pedagógica para Programas de Doutoramento da Universidade Politécnica, Lourenço do Rosário, considera que as universidades devem participar na formulação de políticas, projectos e programas de desenvolvimento do País, concebidos quer pelo Governo, quer por entidades públicas ou privadas.
Para Lourenço do Rosário, que falava na cerimónia de abertura do primeiro Seminário de Estudos de Desenvolvimento, organizado pelo Instituto Superior de Altos Estudos e Negócios (ISAEN) da Universidade Politécnica, a ausência ou a fraca participação da academia na discussão dos projectos ou programas de desenvolvimento deve-se à diferença de métodos entre a ciência e a política: “A Ciência e a Política são aliadas em determinados momentos, mas muitas vezes se confrontam”.
É neste sentido que a Universidade Politécnica, através do ISAEN, introduziu o curso de Doutoramento em Estudos de Desenvolvimento, concebido para consolidar as valências intelectuais dos estudantes, bem como dotá-los de elementos de reflexão científica que lhes permitam participar no processo de desenvolvimento do País.Por isso, “temos vindo a solicitar aos nossos doutorandos que, na elaboração das suas teses, tenham em conta a contribuição que vão dar relativamente aos vários programas de desenvolvimento do nosso País. Este programa [de Doutoramento em Estudos de Desenvolvimento] foi pensado essencialmente para que, no final, tenhamos algum papel na discussão dos programas de desenvolvimento, nem que seja de contraface”, segundo sublinhou Lourenço do Rosário.
Por seu turno, o reitor da Universidade Politécnica, Narciso Matos, explicou que a instituição que dirige introduziu o curso de Doutoramento em Estudos de Desenvolvimento por entender que o desenvolvimento de um país passa pela formação de quadros, que possam contribuir através da formulação de problemas e identificação de possíveis soluções.“
Um programa de doutoramento consiste em dotar os doutorandos de capacidades de identificar problemas, definir hipóteses de solução, colher dados concretos e, depois, verificar se as tais hipóteses iniciais continuam válidas ou não, tirar conclusões, publicar os seus resultados e comunicá-los a quem os deve implementar, nomeadamente a sociedade, o Governo, entre outros actores. Este é um processo que deve, também, incluir a ligação entre a academia e os executores das políticas de desenvolvimento”, frisou.
Em relação ao seminário, que teve como lema“Promovendo o Debate Académico para Produzir Ciência”, Narciso Matos referiu que o mesmo constituiu uma oportunidade para que os doutorandos apresentem, de uma maneira colectiva, o que identificaram como problemas, soluções, assim como as respectivas recomendações.
“Este processo vai evoluir e culminar, nalguns casos, com uma publicação. Noutros, eles vão continuar com os temas até à dissertação. A nossa expectativa é que seja dado seguimento a algumas matérias até à sua implementação. Pretendemos que haja impacto no desenvolvimento do País”, disse.
O seminário teve a duração de três dias e integrou cinco painéis, nomeadamente “Gestão Territorial e Agricultura como Factores de Desenvolvimento”, “Factores Transversais e Desenvolvimento”, “Agricultura, Mineração e Seus Impactos sobre o Processo de Desenvolvimento de Moçambique”, “A Questão do Género no Processo de Desenvolvimento Nacional” e “Inovação e Transferência de Conhecimento no Processo de Desenvolvimento”.
O primeiro painel foi liderado por Isménio Chitata, coordenador do Projecto de Gestão Integrada da Agricultura e Recursos Naturais (PGIARN). O painelista realçou a importância da gestão territorial na agricultura, que contribui com 23% no Produto Interno Bruto (PIB) do País.“
A gestão territorial ajuda a agricultura a garantir que os investimentos de longo termo estejam lá e não sejam prejudicados no futuro por causa da falta de território ou de documentação. O território deve ser definido para impulsionar o desenvolvimento da agricultura. Estes dois aspectos ou indicadores ajudam no desenvolvimento da agricultura em Moçambique, porque a gestão territorial permite focalizar o tipo de investimento a ser realizado, o tipo de políticas e o alinhamento na monitoria dos resultados. Há diversos instrumentos que contribuem para a gestão territorial, de tal maneira que seja feito o devido uso do espaço para os benefícios que se pretende alcançar”, afirmou Isménio Chitata.