O UNICEF alertou na passada sexta-feira (18) que 43 por cento das crianças moçambicanas tem desnutrição crónica, 8 por cento padece de desnutrição aguda e “pela primeira vez em anos, Moçambique notificou casos de pelagra”. O Ministério da Saúde revelou ao @Verdade que mais de mil casos, desta doença originada pela falta de vitamina B3, foram registados na Província de Sofala.
Poucos dias antes do ministro da Agricultura e Segurança Alimentar, Higino de Marrule, assinalar que o nosso país tem dado passos significativos ao reduzir a prevalência da população sujeita a insegurança alimentar de 50 para 24 por cento, nos últimos dez anos, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alertou que a desnutrição crónica em Moçambique afecta 43 por cento de crianças com particular incidência nas província de Cabo Delgado e Zambézia.
No Relatório intitulado “A Situação Mundial da Infância 2019: Crianças, Alimentação e Nutrição” o UNICEF assinalou que: “A segurança alimentar piorou em Moçambique, afectando o preço dos alimentos básicos. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o preço do milho aumentou e permanece mais alto em comparação com o mesmo período do ano passado nas províncias afectadas pelo ciclone em Cabo Delgado, Manica e Nampula”.
A instituição das Nações Unidas referiu que que graves crises alimentares estão a ser causadas por desastres relacionados ao clima e destacou que “eventos climáticos como ciclones, inundações e secas já são comuns em Moçambique. Preocupações com as mudanças climáticas sugerem que ciclones com força recorde como Idai e Kenneth, que devastaram partes do centro e norte de Moçambique no início deste ano, podem se tornar a norma. Isso pode ter um efeito contínuo e prejudicial sobre as famílias vulneráveis e sua capacidade de se sustentar”.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância revelou ainda no seu Relatório que 8 por cento dos petizes moçambicanos padecem de desnutrição aguda e que “pela primeira vez em anos, Moçambique notificou casos de pelagra – uma doença ligada à deficiência de vitamina B3, que resulta da diversidade alimentar limitada”.
Registados 1020 casos de pelagra na Província de Sofala
A Chefe do Departamento de Nutrição no Ministério da Saúde (MISAU), Dra. Marla Amaro, explicou ao @Verdade que a pelagra “é uma doença causada por uma deficiência nutricional – deficiência da niacina , conhecida como Vitamina B3 ou PP”, sendo “caracterizada por lesões avermelhadas da pele, principalmente após a exposição ao sol, seguindo-se de manifestações do aparelho gastrointestinal e no sistema nervoso”.
“A pelagra é, frequentemente, chamada de “Doença dos 3D” devido à combinação da dermatite, diarreia e demência . Manifesta -se com seguintes sinais e sintomas: erupção cutânea, descamação da pele que deixa manchas rugosas, diarreia, vómito, língua avermelhada e brilhante, e em casos maís graves podem levar a demência”, esclareceu a fonte do MISAU acrescentando que a doença “previne-se através de uma alimentação equilibrada. Fontes de alimentos que contem niacina são o amendoim, couve, folha de abóbora, tomate, peixe fresco, galinha, carne, etc”.
A Chefe do Departamento de Nutrição no MISAU precisou ao @Verdade que desde o dia 23 de Maio último foram registados 1020 casos de pelagra nos distritos da Beira (13), Búzi (323), Dondo (66) e Nhamantanda (616), na Provincial de Sofala com maior incidência “em indivíduos de 15 anos ou mais (81,3 por cento), em indivíduos com 5 a 14 anos (12,1 por cento) e em crianças dos 0 aos 4 anos de idade (6,7 por cento).
A desnutrição é uma drama que não é exclusivo de Moçambique, de acordo com o Relatório do UNICEF 2 em cada 3 crianças entre os seis meses e os dois anos de idade não recebem alimentos que potenciem um crescimento rápido de seus corpos e seus cérebros o que pode prejudicar o desenvolvimento cerebral, interferir na aprendizagem, debilitar o seu sistema imunológico e aumentar o risco de infecções e, em muitos casos, de morte.
O documento indica que 149 milhões de crianças no mundo padecem de atraso no crescimento, ou são muito baixas para a sua idade, 50 milhões de crianças sofrem de emaciação (emagrecimento extremo – peso demasiado baixo), ou são demasiado magras para a sua altura e ainda 340 milhões de crianças – quer dizer 1 em cada 2 – sofrem de carência (deficiência) em vitaminas e nutrientes essenciais, como vitamina A e ferro.
“Milhões de crianças sobrevivem a uma dieta pouco saudável porque simplesmente não têm uma opção melhor. A maneira como entendemos e reagimos à desnutrição precisa mudar: não se trata apenas de conseguir que as crianças comam o suficiente; trata-se sobretudo de conseguir que comam os alimentos adequados. Esse é o nosso desafio comum hoje”, declarou a Directora Executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Henrietta Fore, em comunicado de imprensa.