Os fãs do músico Bob Marley juntaram-se, no dia 11, num mini-festival para celebrar com muito reggae mais um aniversário daquele que é considerado o “rei” deste estilo musical. No concerto de homenagem, Marley nunca esteve tão vivo.
Quando se aproximam os meses de nascimento e da morte – Fevereiro e Maio, respectivamente – de Bob Marley, milhões de fãs no mundo inteiro encontram uma forma de homenagear aquele que é o ícone da música reggae. Até porque, quase trinta anos após a sua morte, ele ainda é um fenómeno: as suas músicas, denunciando desigualdades entre ricos e pobres, tornaram-se indispensáveis a jovens que o vêem como uma referência.
Moçambique não é excepção. Aliás, os fãs de Marley não quiseram deixar a data do nascimento (6 de Fevereiro de 1945) passar em branco. No Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), os admiradores do músico já falecido organizaram num mini-festival denominado “Comemorando a data de nascimento de Bob Marley” com muito reggae.
Num cenário típico para quem aprecia um verdadeiro show de reggae, ouviram-se diversas músicas originais e repletas de ganchos e feitas sob medida para elevar a energia das pessoas ao mais alto nível. As melodias que lembram Bob Marley, e a letra que preconiza a crença no rastafarianismo exaltaram o público, de um pouco mais de duas centenas, que acorreu ao CCFM naquele que, segundo a plateia, constituiu um dos melhores concertos de música reggae jamais vistos em Maputo.
Na noite de louvores a Bob Marley, a música reggae revelou-se igual aos outros estilos tocados em Moçambique, mas com um toque diferencial: os músicos misturaram a música reggae com os ritmos africanos de uma maneira tão natural que comoveram os espectadores.
Foram quatro horas de espectáculo – descontando algumas interrupções para a mudança da banda – para uma multidão sedenta de reggae feita de emoção e muita inspiração. O público dançou e cantou todas as músicas. Alguns espectadores emocionaram-se. “O Bob Marley vive em nós. Ele é o nosso rei, a nossa vida e o nosso ser”, disse Américo, um rastaman com os seus longos dreadlocks.
A euforia do público era tamanha. Havia gente a pular, em passos característicos do reggae, de um lado para o outro. “Bob forever”, gritou um espectador.
“A humanidade perdeu um dos seus maiores génios”, comentou Miguel Chingulane, seguidor de movimento rastafari há dez anos. “O Bob Marley inspirou o mundo e denunciava as desigualdades sociais. E hoje estamos aqui para homenageá-lo”, disse Chingulane quando questionado sobre o que representa o “rei do reggae” para o mundo.
“Jaaah…!”, gritavam os músicos a cada compasso de espera para a entrada de outro tema. “Rastafari, Hailê Selassiê”, respondia o público embevecido pelo reggae.
O show foi um dos melhores que já se viu no mundo reggae moçambicano. Quer do ponto de vista da execução, quer da expressão musical e do aparato técnico. “Este é um verdadeiro presente para todos os amantes da música reggae e os fãs do rei Marley”, disse Yara, uma das poucas mulheres rastafari a assistir ao concerto.
Previsto para iniciar às 20h30, o espectáculo começou uma hora e meia depois. A abertura do evento coube a Ras Haitrm, tendo-a feito de forma grandiosa. Acompanhado pela sua banda, o jovem músico mostrou que não tem mais nada a provar quando o assunto é tocar reggae.
Apresentou um repertório curto – composto por apenas três músicas -, mas adequado ao ambiente e, por isso, não deixou de encantar o público com a sua voz invulgar. Os espectadores aplaudiram cada momento em que o músico revelou a sua grandiosidade e talento.
Seguiu-se João Marrime. O artista improvisou alguns passos de dança – um pouco mais ágeis, animados e divertidos. E o resultado chamou a atenção da plateia: o público suspirou e aplaudiu efusivamente. Marrime mostrou-se pouco comunicativo com os espectadores, mas entusiasmo-os com a sua poderosa voz de sempre.
Com um repertório monótono, Sister Yug fez o público compartilhar a sua ideia de exaltação a Bob Marley. A empatia com o público foi instantânea. A jovem artista apresentou as suas melhores composições e a plateia correspondeu cantando com ela boa parte das suas músicas.
Depois subiu ao palco Red Eyes que não deixou os seus créditos em mãos alheias. Apresentou um som robusto e ouviram-se as mais puras e profundas notas de música reggae.
Depois, seguiu-se apresentação dos Digrinn´s, YPG, Bugshagane e os Black Roots. Os músicos mostraram o seu virtuosismo e que a música reggae não é apenas um culto a Bob Marley, mas uma forma de exaltação da cultura rastafari.
“Foi um daqueles shows que se deve guardar no fundo da alma”, disse José, rastaman há 15 anos, no final do concerto. Não se ouviram as profundas músicas do “rei do reggae” que estão vivas no coração e na boca do público, mas o espectáculo levou a uma reflexão sobre o futuro de reggae.
Quando terminou o concerto, a sensação que ficou é a de que, apesar do tempo, o reggae não degenerou.