Chimoio é uma cidade que desandou, nos últimos anos, o caminho que trilhou até ser considerado o espaço urbano mais limpo do país. A edilidade pretende resgatar essa imagem. Um desafio que, em cinco anos, foi vencido no centro da urbe. Para completar o serviço, falta mudar o rosto da periferia. Nem sequer a colocação de contentores nos bairros do Chimoio profundo, com data marcada, representam o fim da imundície na labiríntica cidade que se esconde por detrás das cortinas de betão armado…
Chimoio apresenta-se com o rosto lavado, mas o que importa, para resgatar a imagem de cidade mais limpa do país, é a higiene do resto do corpo. Um passeio pelo centro da urbe revela uma cidade limpa. Porém, basta entrar nos grandes mercados e na periferia para compreender o óbvio: caminhar nesses lugares representa uma espécie de aventura que nos leva a esquivar excrementos de cães, a fugir das moscas e a tapar o nariz. Existem duas cidades…
Chimoio é capital da província de Manica e situa-se sobre o Corredor da Beira, a cerca de 200 quilómetros da Beira e a 100 do Zimbabwe. Tem os seguintes limites geográficos: o rio Nhamahocha, Téwé, até ao marco três do foral, o monte Chizombero, IAC e o círculo Matole, ao norte; os riachos Toa e Munetse, os círculos Chiongo e Ndenguene, e a localidade de Zembe centro, ao sul; o rio Nhamahocha e os círculos de Noia e Chiongo, a este; e a confluência dos rios Nhamathui e Chiongo, a oeste. Com uma área de 174 quilómetros quadrados, a cidade de Chimoio foi construída num planalto de cerca de 706 metros, localizado sobre a cimeira de duas bacias hidrográficas no eixo Beira-Mutare.
A sua estrutura geográfica é formada por rochas metamórficas primárias do paleozóico e precâmbio, e solos ferialíticos vermelhos acastanhados. A sua economia é dependente das indústrias transformadoras dos produtos agrícolas como tabaco, citrinos, cereais, aves, etc. O processo de expansão urbana da cidade verifica-se actualmente ao longo do Corredor da Beira (EN6), que concentra infra-estruturas viárias importantes para o desenvolvimento regional como as vias rodoferroviárias, oleodutos e parte da linha de alta tensão da Hidroeléctrica de Cahora Bassa.
Como em quase todas as capitais provinciais, o dinheiro resultante das taxas de lixo é insuficiente para garantir uma estratégia de saneamento do meio eficaz. Nem sequer a aquisição de 35 contentores para colocar na periferia auguram um futuro promissor para o quadro estético de Chimoio.
Nos últimos quatro foram feitas 20 mil novas ligações à rede eléctrica de energia, o que significa um encaixe mensal de cerca de 200 mil meticais para cuidar da gestão do lixo urbano numa cidade com 174 quilómetros quadrados e uma população estimada, em 2007, em 238 mil habitantes. A estimativa feita em 2012 fala de 280 mil habitantes. O resultado é que os serviços de limpeza municipal ainda não são capazes de deixar a periferia com o mesmo rosto que o centro da urbe.
A edilidade tem consciência disso e sabe o que supõe a dimensão da autarquia e a natureza informal que caracterizou, durante a guerra civil, a expansão das nossas cidades. “É complicado deixar os bairros limpos por causa dos problemas de acesso, sobretudo quando chove”, afirma um funcionário municipal. José explica: “não conseguimos deixar todo o município limpo, o que fazemos é recolher o lixo todos os dias em alguns bairros acessíveis e nos outros três dias por semana”. Por outro lado, as principais vias no centro da urbe são objecto de limpeza todos os dias. “Duas vezes por dia”, assegura uma varredora de rua.
Com as chuvas, o cenário dos bairros piora. E a toda essa mescla de cheiros pútridos somam-se as pragas como a malária e a cólera. A poucos metros do mercado da linha férrea, como é conhecido o mercado municipal de venda de roupas e calçado em segunda mão, a combinação de chuva e sujidade revela os seus efeitos mais incómodos. Sentada numa banca, Márcia Palma Pinto parece impaciente. Tenta, sem êxito, afastar com um pano os insectos que insistem em circundá-la. “Há sujidade em todo o mercado e nós pagamos uma taxa diária”, queixa-se irritada. Ao seu lado está sentada a sua amiga Anastácia que reclama do mesmo, mas também culpa os vendedores pela imundície. “Eu pago todos os dias cinco meticais para continuar a vender aqui, mas a situação de limpeza deixa muito a desejar. Mas também do que vale limpar se os próprios vendedores são os primeiros a sujar o mercado?”.
É, portanto, difícil saber quando é que Chimoio começou a descuidar-se. O certo é que a cidade não amanheceu suja de um dia para o outro, nem foi fruto de uma sabotagem colectiva que a fez levantar-se com o rosto irreconhecível. As coisas ficaram feias pouco a pouco, com a letargia das autoridades municipais e o descaso dos munícipes. O que é evidente é que os responsáveis pela autarquia não podem limpar em cinco anos o que levou uma vida a sujar. Neste contexto, é preciso reconhecer o esforço e dizer que a cidade de 2013 é bem mais limpa do que aquela que @Verdade encontrou em 2010 aquando do X Festival Nacional de Cultura.
Na verdade, os resíduos sólidos são recolhidos diariamente apenas nos bairros 1, 2 e 3. No que diz respeito aos restantes, os trabalhos de limpeza circunscrevem-se à recolha de entulhos dispersos, e pouco mais.
O cenário de retoma já se verifica nos bairros logo ao redor do centro da urbe. Mais para a periferia “o retrato é desolador”, conta Eugénio Gimo, funcionário municipal ligado ao saneamento do meio. Os bairros Cumbue, Stanha, Chianga e Tambara ficam uma lástima quando há precipitação. “Éramos a cidade mais limpa de Moçambique e perdemos esse estatuto”, lamenta Raul Conde Adriano. O edil recorda que, apesar da contribuição residual dos munícipes, o município pretende colocar contentores nos bairros.
Emprego
Dados indicam que nos últimos dois anos foram criados cerca de 2.000 postos de trabalho em Chimoio. As autoridades municipais asseguram que tais postos surgem como consequência do Programa Estratégico de Redução da Pobreza Urbana (PERPU). Efectivamente, o fundo beneficiou 1.274 projectos e gerou 2.250 empregos. Contudo, o nível de desemprego na urbe é muito grande e a comparticipação do PERPU para emagrecer as estatísticas é residual.
Abastecimento de água
Outro serviço oferecido de maneira desigual durante grande parte dos 44 anos da vida da autarquia de Chimoio é a distribuição de água. Nem é preciso dizer que no que diz respeito aos índices nacionais a cidade estava na cauda da tabela. A expansão dos serviços do Fundo de Investimento e Património Água (FIPAG) relegaram para o passado essa página negra para os munícipes daquela urbe. A edilidade colocou como prioridade, para estes cinco anos, a abertura de 10 furos de água por ano. Até ao presente existem 40 furos espalhados pelos 33 bairros da urbe.
Arruamentos e requalificação dos bairros
Um dos desafios propostos pelo do actual edil de Chimoio prende-se com a melhoria das vias de acesso. No que diz respeito aos bairros foram abertos 95.25 quilómetros de estrada. Contudo, as chuvas reduziram para menos de metade tal esforço. Existem, diga-se, planos parciais de requalificação dos bairros 7 de Abril, Hombwa, Agostinho Neto, Heróis Moçambicanos e Stanha. A distribuição de talhões tem sido ensombrada pelo conflito de terras e ocupações ilegais.
O rápido crescimento da urbe coloca um grande desafio: a distribuição de água e energia deve acompanhar essa expansão da mancha urbana. Mas não é o que acontece. Os bairros Combue, Stanha e Chiang ainda não dispõem de corrente eléctrica.
Efectivamente, o Chimoio profundo é uma cidade de becos mais labirínticos que se pode imaginar, de uma geografia cujo conhecimento só é completamente dominado pelos próprios residentes e pelos amigos do alheio, incluindo a Polícia de Intervenção Rápida, que faz tanto estrago como os malfeitores da noite suburbana. Ainda que o desenvolvimento se circunscreva ao centro da urbe, a cidade mudou para melhor, expandiu-se para além do que poderia ser previsto e controlado e, por detrás desses amuralhados de casas de bloco cru cobertas com capim ou chapas de zinco, encontram-se vivendas e moradias confortáveis.
Contexto histórico
A criação da Circunscrição de Chimoio data de 1893 por ordem da Companhia de Moçambique (Ordem 90/1893), com sede na Vila Barreto, actual Posto Administrativo de Matsinho. Entre 1898-1942 esteve integrada nos territórios da Companhia de Moçambique.
A continuação da linha férrea para Manica, associada à carência de água, teriam sido os factores que determinaram a transferência da capital de Vila Barreto para Chimiale. Em 17 de Julho de 1916 a povoação de Mandingos passou a denominar-se Vila Pery, por ordem do administrador da Companhia de Moçambique (Ordem 3683/1916, de 15 de Julho), desejoso de satisfazer o interesse manifestado colonos portugueses que queriam ver homenageado o governador João Pery de Lind, pioneiro do desenvolvimento agrícola da cidade de Chimoio.
O foral foi aprovado pela portaria 11582, de 4 de Maio de 1956, e a vila foi elevada à categoria de cidade em 17 de Julho de 1969 (Portaria no 22258/69). Em 1978 a Câmara Municipal foi transformada em Conselho Executivo ao abrigo da Lei no 7/78, de 22 de Abril. A resolução no 8/56 de 25 de Junho categoriza-a com o nível C. Em 1994 criou-se na cidade o Distrito Municipal ao abrigo da Lei nº 3/94, de 13 de Setembro, revogada pela nº 2/97, de 18 de Fevereiro, que determina a criação do Conselho Municipal.
Município de Chimoio em números
Vereações 12
Habitantes 238. 000
Bairros com energia 30
População com acesso a água 70 porcento
Vias de acesso terraplanadas 95.000 quilómetros