@Verdade reportou a história de Elsa Magome, ou simplesmente Elsinha há dois meses. Elsinha vive nos braços da mãe desde os dois anos de idade (agora tem 10). Não fala e nem come sozinha e nem se pode manter de pé. Elsinha é uma criança que só foi amada pelo pai até aos dois anos de idade, depois que contraiu a deficiência que lhe tornou literalmente dependente o seu progenitor eximiu-se da responsabilidade de acompanhar o seu desenvolvimento.
Como contraiu a lesão
Quando adoeceu, ela não teve a sorte de ser levada ao hospital atempadamente, só que, volvido um ano, isto é, quando a Elsinha tinha três anos de idade é que a mãe se dirigiu a uma das unidades sanitárias da província de Maputo. Nessa altura, a menor tinha perdido o equilíbrio e os pés e as mãos já estavam atrofiados.
“No hospital disseram-me que ela tinha paralisia e que tal se deveu ao facto de termos levado muito tempo em casa, a doença foi-se intensificando de tal maneira que a menina acabou por desenvolver a doença”, explica.
Elsa Dombo, que procura dar todo o carinho à Elsinha, acrescenta que foram estes os problemas que fizeram com que o seu ex-marido abandonasse a família porque alegadamente não queria cuidar da menina, ou seja, quase que negou a paternidade devido às deficiências físicas que ela foi contraindo com a doença.
A nossa interlocutora disse que, devido à gravidade da situação, primeiramente dirigiu-se ao Hospital Geral da Machava (HGM), onde a menina Elsinha foi submetida a análises, mas qual não foi o seu espanto quando foi transferida para o Hospital Central de Maputo (HCM) porque no HGM não havia material laboratorial para detectar a doença.
Chegados ao HCM, Elsinha foi submetida mais uma vez a outras análises médicas, para se identificar o problema. Os médicos daquela unidade hospital, a maior do país, concluíram que ela sofria de paralisia.
Após o diagnóstico, começou a seguir os tratamentos, mas a verdade é que a saúde da menina foi-se agravando a cada dia que passava, de tal forma que ela ficou com os membros superiores e inferiores atrofiados.
A cadeira foi desviada
Entretanto, algumas pessoas ficaram sensibilizadas quando se aperceberam dos problemas que a Elsinha tinha. Segundo a mãe, durante os dias que a menor esteve no leito do Hospital Geral da Machava, um dos médicos deslocou-se à sua casa para se inteirar das condições de vida da família.
Durante a visita, ele terá dito que faria de tudo no sentido de arranjar uma cadeira de rodas para a menor. Era um presente que era ansiosamente aguardado, mas terão decorrido três anos sem que o mesmo chegasse.
De acordo com Elsa Dombo, o médico disse que assim que a cadeira de rodas fosse adquirida, teriam de se dirigir ao círculo do bairro para proceder ao seu levantamento. No princípio deste ano, o presente por que tanto a família de Elsinha esperava e que amenizaria o seu sofrimento chegou, mas desapareceu misteriosamente do círculo. As estruturas alegam que houve um engano e que a cadeira não era para ela.
“Sempre que eu me deslocava às estruturas do bairro garantiam que a minha filha iria beneficiar de uma cadeira de rodas para facilitar a sua locomoção, oferecida pelo Hospital Geral da Machava. Só que no princípio deste ano disseram-me que já haviam recebido, mas por engano deram a uma outra pessoa deficiente da mesma zona”.
Depois disso, ela foi aconselhada a aguardar pela próxima oportunidade embora sine die. “Até hoje não há nenhum sinal, apesar de ter comprovativos de que a minha filha teria uma cadeira de rodas”. “A cada dia que passa fico com dores no peito devido ao peso dela. Levar uma criança de 10 anos de idade ao colo não é fácil. Mas não posso fazer outra coisa, é minha filha”, diz.
O “fim” do martírio
Na tarde do dia 1 de Outubro o cidadão Dino Foi mudou a vida de Elsinha. Ofereceu a tão ansiada cadeiras de rodas que a mãe de Elsinha esperava há anos. Quando @Verdade chegou, com Dino Foi, a casa de Elsinha ninguém esperava pela visita. Perdemo-nos duas vezes e só depois de meia hora é que nos indicaram o caminho certo.
Quando chegámos Elsinha estava dentro de casa, estendida num esteira. Informámos os nossos propósitos. Quando a cadeira irrompeu pelo porta-malas da viatura que nos levava os olhos do irmão de Elsinha brilharam. Rapidamente a criança foi colocada na cadeira de rodas e os apertos de mão, expressando o mais profundo agradecimento, vinham de todos os lados. Uma dezena de minutos depois chegou a mãe de Elsinha que não cabia em si de contente.
“Que Deus lhe abençoe meu filho. Não deixe esse espírito”, disse. Dino Foi, visivelmente emocionado, não foi capaz de construir uma frase. Agradeceu ele também e partimos.
A viatura do benfeitor, no final da visita, ficou cravada de riscos por causa das cercas de espinhosa que dividem os quintais de muitas residências daquele bairro desordenado que a falta de dinheiro não permitiu mudar o rosto, mas a satisfação de ter reduzido o sofrimento de uma família compensa tudo. “Não há dinheiro que pague a alegria que vi no rosto daquelas pessoas”, confessou.