Confesso sentir uma enorme dificuldade para avaliar quaisquer benefícios do jogo particular entre Moçambique e a Suazilândia da passada quartafeira. Tratou-se, em substância, de um treino competitivo, com o propósito de amealhar pontos no Ranking da FIFA. Que mais? É interessante ver como mudam os tempos e mudam as vontades, ou como mudam as posições dos treinadores e mudam os discursos. Há uns tempos, andava o seleccionador nacional a dizer mal dos jogos de preparação; agora, depois de ter perdido com o Quénia já faz jogos de controlo. Nada de novo à face da terra, dirão, mas a verdade é que rezamos todos por um santo qualquer quando troveja, e quando não troveja só rezam os que acreditam mesmo.
Pelo que os Mambas produziram, nos outros jogos, creio que a sua fragilidade mais substantiva se expressa nas funções do “trinco”, como o demonstra o facto de Dominguez recuar sempre para as costas de Simão e Hagy, no intuito de assegurar algum traço ao futebol da equipa, no começo do processo construtivo. E esse trajecto do mágico em contramão (da frente para trás, em vez de se processar de trás para a frente) acaba por desgastá- lo excessivamente, faltando-lhe depois pulmão para mandar na equipa nos últimos trinta metros.
E, neste particular, não me parece que os Mambas precisem de dois “trincos” que se limitem a ser uma espécie de “aspirador”, portanto, de vocação apenas defensiva ou de predominância destrutiva. Não, uma selecção que aspira ao CAN como Moçambique, com todo o seu cardápio de novas (e velhas…) ambições está como que obrigada a construir com qualidade a partir de trás, de modo a aprimorar o produto em zonas mais adiantadas.
Como se viu neste jogo, neste jogo de ‘preparação’, sempre que a bola partiu dos pés de Danito Parruque. Ou melhor, uma prova de que Danito e Dominguez são compatíveis, até porque um organiza e outro define. No entanto, à excepção de Josimar, veremos se algum outro atleta vai jogar alguns minutos quando daqui a 22 dias, tocar a unir e for obrigatório ganhar ou… ganhar.
Há, por parte dos jogadores, um natural encanto por estarem “na selecção”, por poderem respirar um ambiente que os enche de orgulho e valoriza profissionalmente. É humano. Mas, porque terá de ser com os jogadores de Mart que Moçambique terá de tentar recuperar o tempo (e pontos…) perdido para não descolar de Angola/2010, mais se adensa a gratuitidade deste jogo…
A não ser que, com assombrosa visão de futuro, já estejamos a preparar o “CAN 2012”, o que seria um sinal simplesmente trágico. Mas, como “a selecção está no bom caminho”, podemos estar descansados. PS: Creio que esta convocatória tem contornos de um castigo cruel para jogadores como Zainadine Junior e Rúben. Com efeito, depois dos espantosos desempenhos que têm exibido, ambos terão razões para perguntar: “Que mais precisamos fazer?”.
Se nem para um jogo de utilidade duvidosa fazem parte da contabilidade do seleccionador, que esperanças poderão ter em chegar à selecção? Provavelmente, já teriam feito parte desta convocatória se, no início da época, tivessem sido transferidos para um outro campeonato. Também aqui foram vítimas de esquecimento…