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Um gesto de gratidão ao subúrbio

Um gesto de gratidão ao subúrbio

No princípio, o músico moçambicano, Salésio Daniel Matsinhe, era o exemplo lúcido de um intérprete desafinado. No entanto, em apenas 5 meses, aprendeu a tocar a guitarra e, actualmente, dirige a banda Nandov que – além de prémios – continua a conquistar o seu espaço no mercado moçambicano.

Em 2004, os pais de Salésio Daniel Matsinhe, Nandov, apadrinharam um casal de crentes da Igreja Anglicana de São Barnabé. Nesse dia, o jovem que desprezava a música esteve no evento. Facto, porém, é que por lá encontrava- se um grupo juvenil da referida congregação religiosa que se dedicava ao canto coral.

Nandov ficou maravilhado com o que viu e ouvir de tal sorte que decidiu integrar-se no elenco. Ele mudou radicalmente a sua concepção em relação ao canto. “Para mim, a música era uma coisa muito estranha. Mas depois de ter visto aquela performance, interessei-me em integrar-me no grupo”. No mesmo ano, “passei a fazer parte da Juventude da Igreja Anglicana da São Barnabé. No entanto, como era muito desafiado não fui bem acolhido. Também fui excluído do concurso anual que se estava a preparar. De qualquer modo, no ano seguinte quando, em Fevereiro, as actividades do grupo retomaram eu retornei à colectividade”.

Desafiar a guitarra

Logo a partida, sem nenhuma instrução, em 2005, o artista começou a praticar a guitarra. Em cinco meses, embora sem o domínio teórico sobre o que estava a fazer, Nandov ganhou algum domínio sobre a viola. Em resultado disso, “realizei o meu primeiro concerto com banda em Junho, num evento alusivo aos 30 anos da Independência de Moçambique promovido pela Rádio Voz Coop”.

O impacto imediato do feito foi o facto de que – como o guitarrista principal estava ausente no referido ‘show’ – além de Nandov ter sido útil na circunstância, os membros do grupo perceberam que ele podia ser um guitarrista alternativo. Por outro lado, “o facto de ter sido bem-sucedido e, consequentemente, bem-recebido na colectividade estimulou-me. A partir daí nunca mais parei de tocar. Desenvolvi muito a minha relação com o instrumento de modo que as pessoas começaram a invejar-me”.

Num outro desenvolvimento, sobre o seu aprendizado em relação à guitarra, Nandov acredita que é possível que, em cinco meses, se desenvolva uma relação saudável com um instrumento porque ele conseguiu. “Recordo-me de que naquela altura, eu tocava empiricamente. Por isso, algum tempo depois, procurei ter um domínio teórico do que estava a fazer. A minha vantagem é que era muito ousado”.

Muitas vezes, “os guitarristas da Igreja Anglicana de São Barnabé, sempre que falasse sobre a guitarra, utilizavam uma linguagem que eu não a dominava. Em resultado disso, sentia-me excluído. Por isso, a partir daí, comecei a estudar a viola e descobri que existia uma vasta gama de acordes – que eu praticava de forma empírica”.

A evolução de Nandov foi muito rápida de tal sorte que, com a guitarra, passou a acompanhar qualquer música da Juventude da Igreja Anglicana, em que fazia parte. Além do mais, muito cedo, também desenvolveu a habilidade de afinar o instrumento. Mas “a minha relação com os outros instrumentistas, teoricamente instruídos, impulsionou-me a buscar o conhecimento”.

História da Banda

A banda Nandov foi fundada em 2010, o mesmo ano em que ganhou o prémio do Concurso Crossroads. Em 2011, a colectividade experimentou uma série de transformações a partir da conquista do prémio Revelação (com a música Nhola Sikate) no programa Ngoma Moçambique da Rádio Moçambique, tendo também passado a fazer parte do elenco de bandas e artistas que participam no Festival Umoja. No mesmo ano, Nandov concorreu novamente no Crossroads e foi classificado na segunda posição.

É nesse sentido que esta banda tem sofrido, ao longo do tempo, vicissitudes que a fazem procurar melhor posicionamento no mercado musical. “O que nós queremos é usar os instrumentos ocidentais – a guitarra, o saxofone e o piano, por exemplo – para tocar a música tradicional moçambicana”. “Nas nossas músicas, também conjugamos os ritmos Muthimba, Marrabenta e Tufu com o Jazz. Portanto, todos os instrumentos que nos remetem a uma realidade africana interessam-nos bastante usar”.

Presença Chopi

Nas músicas da banda Nandov há fortes indícios da presença da cultura Chopi. São rastos de rituais que nos remetem a uma realidade rural das províncias de Gaza e Inhambane, povoadas por aquelas gentes. Como é que se explica esta relação? O facto é que Nandov é descendente dessa tribo e, consequentemente, procura exaltá-la.

“O que eu sei sobre os machopi é que são um povo muito alegre e festivo, por isso, têm muitos cânticos. Cantam sobre qualquer situação da vida. Por exemplo, uma das canções que eu utilizei sublima a dádiva da concepção de filhos, não obstante as dores de parto”. “Estou muito feliz por interpretar estas músicas porque eu preciso de ter um público. E não há felicidade maior do que agradar o público com o qual eu, como artista, me identifico que é o povo machopi. Penso que o meu álbum será carregado de muita tradição Chopi”.

Afro-fusão

Nas suas composições, a banda Nandov fala sobre temas sociais diversos, focalizando-se na auto- -estima dos moçambicanos e no amor no seio da família e entre homens e mulheres. Porque são produzidas por si, em certo grau, essas músicas são autobiográficas, denunciando as ansiedades e opiniões de Salésio Matsinhe. Nandov formou-se num contexto religioso e de música gospel, mas possui outras influências musicais. São exemplos disso, as obras de Oliver Mutukudzi, Seth Suazi, Jonathan Butler, Roberto Chitsondzo e a banda Nkhuvu de Stewart Sukumah.

Salésio Daniel Matsinhe, o fundador da banda Nandov, que é estudante de Economia na Universidade Pedagógica, nasceu em 1987 no bairro de Bagamoyo. Porque os residentes desta região suburbana de Maputo têm-no acompanhado e apoiado em todo o seu percurso artístico, Nandov sente que tem uma dívida de gratidão para com eles. Nesse sentido, realiza na noite de hoje, sexta-feira, 8 de Novembro um concerto ao vivo, com banda no Mindos Bar. O evento decorre sob o tema De Bagamoyo para Bagamoyo. Estão convidados para o evento Roberto Chitsondzo e Sérgio Muiambo. O ‘show’ começa a partir das 22 horas e os ingressos custam 100 meticais.

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