Um tribunal egípcio retirou as acusações contra o ex-presidente Hosni Mubarak pela morte de manifestantes na revolta de 2011 que terminou com o seu governo de 30 anos e que simbolizava a esperança de uma nova era de abertura política e responsabilidade. Mubarak, de 86 anos, foi condenado à prisão perpétua em 2012 por conspirar para assassinar 239 manifestantes, semeando o caos e criando um vácuo de segurança durante a revolta de 18 dias, mas um tribunal de apelações ordenou um novo julgamento.
Os seus partidários comemoraram quando o veredicto deste novo julgamento, que também inocentou o ex-ministro do Interior Habib al-Adly e seis assessores, foi lido. Os réus negaram as acusações.
O tribunal afirmou que as acusações criminais nunca deveriam ter sido apresentadas contra Mubarak neste caso. No entanto, ainda cabe recurso, e o ex-líder não foi libertado porque cumpre uma pena de três anos em um caso separado de desvio de fundos.
A derrubada de Mubarak levou o país à primeira eleição livre, mas o vencedor, o islâmico Mohamed Mursi, foi deposto no ano passado pelo então chefe do Exército Abdelfattah al-Sisi, na sequência de protestos contra o seu governo.
Sisi, que ganhou uma eleição presidencial em maio, lançou uma ofensiva contra Mursi e sua Irmandade Muçulmana. Autoridades prenderam milhares de apoiadores da Irmandade e condenaram à morte centenas de pessoas em julgamentos coletivos criticados internacionalmente.
Em contrapartida, figuras da era Mubarak estão lentamente sendo inocentadas das acusações e uma série de leis que reduzem as liberdades políticas tem aumentando os temores entre ativistas de que a velha liderança possa estar recuperando influência.
O veredicto deste sábado foi visto por ativistas como o mais recente sinal de que os direitos conquistados em 2011 estavam sendo anulados.
“É um veredicto político. O Judiciário tem adiado (o julgamento) por quatro anos para que pudesse inocentá-lo no momento em que o povo tivesse perdido a esperança”, disse à Reuters o pai de Ahmed Khaleefa, de 19 anos, que foi morto em 2011, no lado de fora do tribunal. “O veredicto atingiu-nos como balas. Considero que meu filho Ahmed morreu hoje.”