A polícia nigeriana e manifestantes enfrentaram-se nesta segunda-feira e três pessoas foram mortas a tiro, enquanto milhares protestavam em toda a nação por causa do aumento dos preços dos combustíveis e uma greve geral paralisava o país. O começo do que os sindicatos chamaram de uma greve por tempo indefinido acontece em um momento crucial para a nação mais populosa da África e maior produtora de petróleo, já atingida por uma onda crescente de violência pela qual a seita islamita Boko Haram é responsabilizada.
As tensões aumentaram especialmente em Kano, a maior cidade do norte da Nigéria, quando milhares de pessoas reuniram-se no gabinete do governador do estado, levando a polícia a contê-las usando gás lacrimogêneo e atirando para o ar. Também em Kano, duas carrinhas mini bus foram incendiadas e manifestantes tentaram por fogo na casa do chefe do banco central Lamido Sanusi, mas a polícia os deteve.
O gabinete do secretário do governo do estado – o mais alto posto administrativo- também foi incendiado, causando sérios danos. Um oficial da Cruz Vermelha disse que, até agora, 30 pessoas ficaram feridas em Kano, incluindo 18 com ferimentos causados por balas. Uma fonte de um hospital disse, mais tarde, que dois desses feridos morreram. A situação levou as autoridades nigerianas a decretar toque de recolher na cidade.
Na cidade de Benin, no sul, manifestantes atacaram uma mesquita, ferindo muitas pessoas e levando a polícia a usar gás lacrimogêneo, segundo a polícia e testemunhas. Uma testemunha disse que viu a polícia levar um homem com um corte de facão na cabeça.
Manifestantes pareciam pacíficos na capital econômica Lagos, a maior cidade do país mais populoso da África, mas um líder sindical acusou a polícia de atirar e matar um manifestante nessa cidade. Fogueiras feitas com pneus ao longo das principais estradas queimavam na megalópole conforme os manifestantes passavam.
Cerca de 10 mil pessoas ou mais se reuniam em um local determinado para o encontro. Pessoas denunciavam, com alto-falantes, a alta do preço dos combustíveis em Lagos incluindo Femi Kuti, filho do ícone da música, recentemente falecido e crítico feroz do governo, Fela Kuti, e ativistas dos direitos humanos também participaram.
Os líderes dos protestos em Lagos não estavam dispostos a provocar a polícia depois que as autoridades foram acusadas de usar força excessiva contra os manifestantes na semana passada, matando uma pessoa. Algumas pessoas jogaram pedras por acreditar que a polícia buscava contê-los. Enquanto o grupo principal de manifestantes era predominantemente pacífico, jovens nas margens da passeata faziam fogueiras e arremessavam garrafas. Alguns gritavam “Bad Luck Jonathan” (Má sorte Jonathan) em referência ao presidente Goodluck Jonathan. “Esta é uma manifestação pacífica”, disse Ishola Adebayo, uma professora de 38 anos que participava do protesto em Lagos. “Eles não podem destruir nossa determinação em forçar o governo a abandonar esta política contra a população”.
A greve foi amplamente cumprida, particularmente em Lagos, onde as ruas normalmente caóticas estavam vazias, exceto pelos manifestantes, com lojas, postos e outros negócios fechados o dia todo. Milhares de manifestantes também participaram de uma reunião na capital Abuja apesar da segurança massiva.
Oficiais disseram, contudo, que a produção de petróleo não foi afetada no país que produz cerca de 2,4 milhões de barris por dia.
A greve acontece depois de uma ação do governo profundamente controversa de acabar com os subsídios no dia 1º de janeiro, o que levou os preços do petróleo a aumentar mais que o dobro, em um país onde a maioria da população de 160 milhões de habitantes vive com menos de US$ 2 por dia. Os preços dos transportes aumentaram bruscamente, encarecendo as viagens diárias para o trabalho, e outros efeitos foram sentidos, especialmente no custo dos alimentos.
A greve começou enquanto as forças de segurança já estavam sob intensa pressão por causa da crescente violência atribuída ao grupo islamita Boko Haram. Ataques mortais recentes no Natal disseminaram temores de um conflito religioso mais amplo em um país cuja população é dividida entre muçulmanos, especialmente no norte e cristãos, predominantemente no sul.
No dia 31 de dezembro, Jonathan declarou estado de emergência nas áreas mais atingidas, mas a violência, incluindo ataques com armas e bombas, apenas continuou e se espalhou para outras localidades. Grande parte do país se uniu, revoltada com o fim dos subsídios aos combustíveis, apesar da tentativa de Jonathan e sua respeitada equipe econômica para explicar a ação. Os nigerianos veem os subsídios como o único benefício deles da nação rica em petróleo e não confiam no governo depois de anos de corrupção profundamente enraizada no governo.
A Câmara dos Deputados realizou uma sessão de urgência no domingo e aprovou uma medida pedindo ao governo para reimplantar os subsídios aos combustíveis para permitir novas consultas sobre a questão. O governo, no entanto, não deu sinais de que vai recuar.
Economistas dizem que retirar os subsídios para os combustíveis é vital para o país melhorar sua problemática infraestrutura e amenizar as pressões sobre suas reservas estrangeiras. O governo diz ter gasto mais de US$8 bilhões em subsídios em 2011.