Políticas como o aumento da eficiência veicular podem ajudar a diminuir a pegada ecológica do transporte, um dos factores por trás da mudança climática, ao ser responsável por 23% das emissões de gases-estufa, segundo especialistas reunidos na capital mexicana.
O México lança anualmente 709 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO²), 60% dos quais com origem na produção e no consumo de energia. O transporte contribuiu com 134 milhões de toneladas.
“É possível criar um mecanismo para a indústria, na qual os produtores que ultrapassarem a meta de emissões possam transferir a diferença para os que não alcançam o objectivo”, explicou Jorge Macías, da organização não-governamental Centro de Transporte Sustentável do México (CTS).
Com dotação de 133 mil dólares da autónoma Aliança pela Energia Renovável e Eficiência Energética (REEEP), o CTS executou entre 2009 e 2010 o projecto “Um esquema de limites máximos e intercâmbio de emissões (cap and trade) para a indústria automobilística mexicana”. Este plano serviu para avaliar a factibilidade de um mecanismo de intercâmbio de volumes de emissões e o seu eventual projecto.
O estudo concluiu que essa ideia, já aplicada nos Estados Unidos, União Europeia, China e Japão, é viável, com benefícios sociais, económicos e ambientais para a indústria e os consumidores. No primeiro ano de funcionamento, seria evitada a emissão de dois milhões de toneladas de CO², um dos principais gases responsáveis pelo aquecimento do planeta. Cálculos do Instituto Nacional de Ecologia estimam que a produção de automóveis gerou em 2007 cerca de 140 mil toneladas de dióxido de carbono.
A frota mexicana é de aproximadamente 23 milhões de veículos, cuja idade média é inferior a 15 anos. O rendimento médio é de 12,2 quilómetros por litro, mas poderia chegar a 18 quilómetros por litro em 2017, graças a medidas de eficiência veicular. Os Estados Unidos ostentam um nível de 16,3 quilómetros/hora.
“É preciso pagar pelo custo associado a projectos de transporte, incluindo a depreciação ambiental. Apresenta-se a oportunidade de se criar uma política internacional que inclua o transporte na mudança climática”, disse à IPS o especialista Ramón Cruz, do Instituto para Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), dos Estados Unidos.
Junto a outros quatro órgãos, o ITDP promove a iniciativa “Fechando a Brecha” para relacionar o transporte e a mudança climática, bem como construir estratégias que coloquem o transporte terrestre sustentável nas negociações climáticas. O vínculo entre o transporte e as políticas públicas nacionais de mitigação e adaptação à mudança climática (NAMA) foi um dos temas centrais do VII Congresso Internacional de Transporte Sustentável, realizado entre os dias 3 e 5, na capital mexicana.
As NAMA ganharam relevância na 16ª Conferência das Partes (COP 16) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, de Dezembro do ano passado, cujo documento final permite aos países registá-las junto à Convenção e dessa forma optar para financiamento e apoio técnico.
O México apresentou como NAMA o seu Programa Especial de Mudança Climática de 2009, que inclui medidas como a substituição de carros velhos, a ampliação dos sistemas de transporte público, introdução de veículos eléctricos ou híbridos e optimização das vias em cidades médias. Das 43 políticas apresentadas à Convenção, 28 contêm projectos de transporte.
O México fabricou 820 mil automóveis em 2010 e este ano pode chegar aos 880 mil, segundo a projecção da Associação Mexicana da Indústria Automotriz (AMIA), na qual convergem as montadoras. Os produtores dizem que uma regulamentação de eficiência deve incluir incentivos económicos, uso de combustíveis limpos, adopção de melhorias tecnológicas e proibição de importar carros usados, conhecidos popularmente como “chocolates”.
“Estamos a favor da eficiência automotriz e das novas tecnologias. Contudo, é preciso uma política pública que promova e facilite o uso destas tecnologias, com se faz noutros países. A regulação da eficiência deve considerar o nível de renda e a elasticidade do mercado”, afirmou o presidente executivo da AMIA, Eduardo Solís.
Desde 2005, quando se abriu parcialmente a fronteira com os Estados Unidos para a compra de carros entre dez e 15 anos de uso, mais de quatro milhões dessas unidades chegaram ao México, principalmente camionetas todo o terreno.
Por causa da crise económica surgida em 2008 nos Estados Unidos e espalhada para o mundo, o governo mexicano entregou subsídios superiores a 2 biliões de dólares à indústria automobilística para evitar perda de empregos e baixas na produção. Além disso, gasta anualmente outros 2 biliões de dólares em ajuda para consumo de gasolina.
Entretanto, Lucas Davis e Matthew Kahn, académicos da Universidade da Califórnia em Berkeley e Los Angeles, respectivamente, demonstraram que os automóveis usados são mais sujos do que a frota norte-americana e mais limpos do que o lote do México e que não afectou a venda de unidades novas neste país.
No seu estudo de 2010, “Comércio internacional em veículos usados: as consequências ambientais do NAFTA”, em referência ao Tratado de Livre Comércio da América do Norte entre Canadá, Estados Unidos e México, vigente desde 1994, os autores descobriram que “quando um carro é vendido ao México, as emissões médias por milha tendem a diminuir nos dois países.
Davis e Kahn citam a hipótese dos santuários contaminadores, a “ideia de que a liberalização comercial causa poluição ao mover-se para países com padrões ambientais frouxos”, um risco levantado também por Macías. “Uma lei protegeria o México de se converter em destino de carros ineficientes, algo que já ocorre”, disse Macías.
O aumento da eficiência custaria à indústria 700 dólares por unidade, mas o usuário economizaria o triplo na compra de gasolina, segundo o estudo do CTS. Além disso, obter-se-ia um benefício de 80 dólares por tonelada de CO² não emitida.