Com a entrada em funcionamento do terminal rodoviário, na zona de Mutava-Rex, arredores da cidade de Nampula, a edilidade da chamada capital do norte transferiu para aquele local todos os transportadores de passageiros e carga das redondezas da Padaria Nampula que se encontra em condições impróprias. Sucede, porém, que volvido algum tempo, há profissionais do sector que contrariam a postura camarária e decidem acolher os utentes dos seus serviços na via pública sob o olhar impávido das entidades municipais. Foi devido a essa situação que uma parte dos “chapeiros” se amotinou, na semana passada, nos paços do Conselho Municipal para reivindicarem e exigirem a tomada de medidas, pois eles consideram tal comportamento uma concorrência desleal.
No novo terminal rodoviário, o processo de transporte de passageiros estava, no início, organizado, diferentemente do que acontecia anteriormente nas redondezas da Padaria Nampula. As pessoas apanham os “chapas” que se encontram perfilados. Há, no geral, regras. Segundo alguns automobilistas, isso facilita o trabalho.
Manuel Picassa, transportador de passageiros, disse que, mesmo com esses procedimentos, há motoristas que ignoram tal postura. Segundo Picassa, são pessoas que querem ganhar dinheiro de forma apressada.
Essa, digamos, ansiedade de obter receitas chorudas em pouco tempo faz com que alguns transportadores abandonem o parque de viaturas para recolherem passageiros ao longo da Avenida do Trabalho. “Isso incomoda-nos”, disse Dinis Rafael, acrescentando que “nós ficamos aqui no parque cerca de quatro a cinco dias sem clientes, enquanto outros carregam fora do parque”.
Aquele que não pactua com esta prática ilegal para conquistar clientes acaba por acumular prejuízos enormes. Por exemplo, António é um transportador residente em Nacala-Porto e explora a rota Nacala-Nampula. “Estou aqui há três dias e não consigo regressar porque ainda não chegou a minha vez de carregar”, explicou.
O mais preocupante é que ele desembolsa para o Conselho Municipal 100 meticais referentes à taxa diária, além do dinheiro que é exigido para o parqueamento da sua viatura cujo montante não apurámos, pois tal valor é cobrado pelo proprietário da infra-estrutura.
Os nossos interlocutores apresentaram estas preocupações aos gestores municipais, mas sem sucesso. Os responsáveis pelo sector de Transporte, Comunicações e Trânsito a nível da edilidade são acusados de permanecerem indiferentes perante as reivindicações. Os infractores fazem e desfazem sob o olhar impávido da Polícia Camarária, que garante a fiscalização.
Devido à alegada insensibilidade das autoridades municipais, os lesados amotinaram-se, na semana passada, nos paços do Conselho Municipal para manifestar a sua insatisfação e exigir a tomada de medidas contra os que transportam passageiros ilegalmente.
“Nós vamos, igualmente, abandonar o parque e arrebatar os passageiros à nossa maneira”, disse Dinis Rafael, visivelmente agastado com a situação. Caso se efective a decisão precipitada dos automobilistas devido à sua insatisfação, naturalmente que a edilidade sai a perder, pois poderá registar sérias dificuldades na colecta de receitas.
Pedimos calma
Confrontado com a situação, o vereador para a área de Transporte, Comunicações e Trânsito no Conselho Municipal da Cidade de Nampula, Francisco Rupanssana, reconheceu a falha no processo de fiscalização para fazer cumprir o código da postura camarária. Porém, ele pediu calma aos transportadores de passageiros, afirmando que a sua vereação iria, nos próximos tempos, trabalhar no sentido de repor a legalidade.
Rupanssana instou os condutores no sentido de não imitarem o comportamento dos transgressores porque a Polícia Municipal pretende lançar uma rusga contra os automobilistas que actuam ilegalmente. Aqueles que se envolverem nessas situações por imitação correrão o risco de ser penalizados.
Encurtamento da distância regulamentar dos “chapa-cem” dificulta acesso ao parque
Sobre a questão do uso de um local não apropriado, concretamente fora do parque, há quem tenha uma opinião diferente. Trata-se dos populares residentes em diversos bairros da urbe. Os munícipes interpelados pelo @Verdade entendem que o terminal rodoviário está localizado numa zona inacessível devido aos casos de desvio em relação às rotas estabelecidas por lei, por parte dos transportadores de passageiros semicolectivos, vulgo “chapa-cem”.
Fátima Correia, de 43 anos de idade, é residente do bairro de Napipine. A nossa interlocutora defende a ideia de se accionar mecanismos de fiscalização muito rígidas visando desencorajar o encurtamento da distância protagonizado pelos “chapeiros”. A situação torna-se insuportável nas horas de ponta, ou seja, das 06 às 08 horas e das 16 às 18 horas.
Um cidadão identificado pelo nome de Firmino revelou que as mototáxis são as únicas alternativas para se chegar ao terminal rodoviário. As pessoas sentem-se obrigadas a ter um dinheiro extra para o transporte particular, porque o “chapa-cem” não chega até lá.
Por seu turno, Francisco Rupanssana disse que a edilidade tem em carteira duas possibilidades para melhorar a questão de transportes na cidade de Nampula. Primeiro, ele informou que seria tomada uma medida visando garantir que todos os “chapeiros” cumpram as suas rotas. Depois deu a conhecer que a edilidade dispõe de um plano que consiste na aquisição de um total de 40 autocarros para potenciar a empresa municipal de transportes públicos. A prioridade, segundo aquele responsável, são as zonas em processo de expansão.
“Queremos abrir novas rotas nos bairros mais críticos”, anotou. Entretanto, para a materialização desta iniciativa, o Conselho Municipal conta com o apoio de parceiros de cooperação, os quais garantiram o financiamento, porém, não foi avançado o montante.