A morte de 75 moçambicanos, a 09 de Janeiro, na vila de Chitima, após consumirem pombe, uma bebida de fabrico caseiro, foi provocada pela utilização de farinha de milho contaminada com uma bactéria, revelou nesta quarta-feira (04) o Ministério da Saúde (MISAU).
Um laboratório norte-americano identificou a presença da bactéria “Burkholderia gladioli”, um microrganismo responsável pela produção de duas potentes toxinas na farinha de milho usada na confecção do pombe que provocou 75 mortes, entre elas a de uma menor, e fez com que 232 pessoas adoecessem nesta vila do distrito de Cahora Bassa, na província de Tete.
O resultado da investigação conduzida pelas autoridades moçambicanas concluiu que a farinha de milho ficou deteriorada na casa onde estava armazenada, na sequência de chuvas que alagaram o local.
“Embora tenha sido considerada imprópria para consumo directo, a farinha foi julgada adequada para a produção de pombe”, adianta o relatório, indicando que a bactéria detectada neste ingrediente produziu uma “quantidade significativa” das toxinas (ácido bongrequico e toxoflavina).
Estas duas toxinas já constavam na literatura científica, que relatam casos de adoecimento súbito, comparáveis com o caso de Chitima, ocorridos na China e na Indonésia, e também resultantes do consumo de alimentos fermentados.
“A ocorrência destas intoxicações é um evento relativamente raro”, observa; porém, o Ministério da Saúde, destacando que, no processo de confecção de pombe, que dura vários dias, vão sendo adicionadas doses de farinha na bebida numa fase em que esta já não é fervida.
O caso de Chitima ocorreu na noite de 09 de Janeiro, quando dezenas de pessoas consumiram a bebida tradicional durante uma cerimónia fúnebre.
Na mesma noite, o Centro de Saúde de Chitima recebeu os primeiros quatro casos e, a partir da madrugada do dia seguinte, a unidade começou a atender dezenas de vítimas com diarreia, vómitos, dor abdominal e fraqueza geral. A mulher que preparou a bebida foi encontrada morta dentro da sua casa.
Na ocasião, o Governo decretou três dias de luto nacional e criou uma equipa multissectorial para investigar as causas da tragédia.
Um homem foi preso em Fevereiro, suspeito de ter alterado a bebida, mas, segundo a investigação, “cai por terra a questão do envenenamento”, disse aos jornalistas Ilesh Jani, director do Instituto Nacional de Saúde, salientando que as autoridades moçambicanas tiveram sempre o cuidado de tratar o caso como uma intoxicação.
Amostras de pombe e da farinha de milho foram enviadas para análise em laboratórios em Moçambique, África do Sul, Portugal e Estados Unidos da América.
Apenas o laboratório norte-americano – que não foi identificado, tendo apenas sido referido que é especializado em análises forenses – detectou a presença da bactéria letal na farinha de milho. Segundo Ilesh Jani, “não é surpresa” que os outros laboratórios não tenham identificado a causa da intoxicação, uma vez que a suspeita de que a farinha de milho era contaminada por uma bactéria foi surgiu mais tarde.
No seguimento deste caso, as autoridades moçambicanas asseguram que vão intensificar a fiscalização de alimentos vendidos na rua, começando por Maputo, e que será criado um laboratório de toxicologia no Instituto Nacional de Saúde, em Marracuene, arredores da capital.