Um grupo de agentes secretos do Estado, dentre eles antigos agentes secretos do ex-SNASP – actual SISE – manifestou-se contra o Governo de Armando Guebuza. Acusam o Estado de lhes ter “usado, abusado e descartado”.
A sua explicação, na verdade, tem a consistência de um guardanapo de papel e os argumentos a força da economia nacional. Mas isso pouco importa. O que importa, porém, é o potencial perigo dessa reivindicação. Não é um grupo de civis a opinar ou a agir: é um grupo de militares a reivindicar.
Quando os militares da Renamo se amotinaram na sua sede, em Nampula, não estavam somente a testar os limites da força coerciva do Estado. Estavam também a colocar em causa a liberdade dos moçambicanos.
Porém, o importante, no meio disto tudo, é compreender que não foram meros civis a dizer o que pensavam ou a violar a lei. Foram, mais uma vez, outros militares a causarem a desordem. A sua prepotente prerrogativa, diga-se, é justamente o facto de guardarem no armário, além de um muda de roupa, uma farda. E como eles há muitos mais.
Ou seja: o ambiente no país, em especial daqueles que julgam que o Estado lhes deve alguma coisa, está a ferver. O que impressiona, contudo, é o poder que julgam ter para contrariar a verdade e ofender a ordem colectiva.
Tirando os madgermanes (esses têm direitos), chama a atenção a tenacidade com que se manifestam pessoas que em tempos recentes agiram contra vidas humanas a mando de certas figuras que hoje arvoram, na maior das hipocrisias, o archote dos direitos humanos.
É a estas figuras que estes agentes secretos deviam exigir a sua reinserção. E não ao Estado, porque os nossos impostos não devem continuar a alimentar grupos de pessoas que a cada dia entendem manifestar-se contra o Governo.
O inquieto espernear dessa constelação de “injustiçados” é sintomático e significativo. Ao denunciar à exaustão o tratamento desumano de que são vítimas por parte do Governo, deixam nua e exposta aos olhos da rua a verdadeira razão de sua ira, do seu mais profundo temor: que é difícil viver sem mamar nas tetas do Estado.
Julgamos que votar ao abandono os alicerces da manutenção do status quo é o prenúncio do fim do medo. Ou seja, o princípio da liberdade de cada um dizer o que pensa e exigir justiça. Justiça para quem nunca a teve e não para os que sempre foram alimentados para fomentar exactamente o contrário.
Uma pergunta, enfim, não sai da nossa cabeça: de onde esses senhores tiram a ideia de que têm direito aos nossos impostos? Qual é a fonte de semelhante insolência?
Vão trabalhar pá…