Enquanto o povo é idiotizado, com a detenção de cidadãos que terão beneficiado ilicitamente dos empréstimos ilegais, o partido Frelimo insiste no imperativo das dívidas serem pagas por todos. “Vão sempre olhar para nós com reserva, porque vocês são caloteiros. Vocês contraem dívidas e depois começam andar por aí nas ruas a dizer que não querem pagar”, declarou Tomas Salomão que classificou os empréstimos que o ex-Presidente Armando Guebuza garantiu terem sido contraídos “em defesa da Pátria Amada” como “uma trampa internacional”.
O antigo governante, banqueiro e membro da importante comissão política do partido Frelimo afirmou esta semana que atitude do Governo de Filipe Nyusi de não repudiar o pagamento das dívidas ilegais, “é a postura mais correcta, porque só ela é que vai permitir, se um dia tivermos que chegar a uma situação de que está dívida tem que ser feito o right off, ou seja o corte total, isso passa por Moçambique estar sentado na assembleia de credores, sem Moçambique estar sentado na assembleia de credores a discutir com aquelas caras difíceis, o ministro da Economia e Finanças, que na altura era meu colega como Governador do Banco (de Moçambique) sabe muito bem”.
“Moçambique tem gente que é capaz, gente que conhece o assunto e gente que pode induzir os credores a terem esta posição de renegociação, que pode ser dilatar os prazos, mas que também se formos vistos como sérios o objectivo é que em algum dia esta dívida seja totalmente perdoada, mas precisamos de tratar o assunto com a seriedade que necessária e sermos vistos, ou pelo menos parecermos que somos sérios, porque nestas coisas o parecer, é”, disse Salomão em entrevista a Rádio e Televisão públicas.
O ex-ministro da Finanças de Joaquim Chissano explicou que o não pagamento dos empréstimos cria o problema “que quando Moçambique quiser ir buscar dinheiro lá fora, seja o Estado, sejam instituições financeiras, seja quem for, o dinheiro vai custar mais caro porque vão sempre olhar para nós com reserva, porque vocês são caloteiros. Vocês contraem dívidas e depois começam andar por aí nas ruas a dizer que não querem pagar, porque essa outra parte não lhe diz respeito”.
Na semana em que a Sociedade Civil iniciou uma petição online para exigir que o Secretário Económico do Tesouro do Reino Unido, John Glen, ponha as instituições do seu país a investigarem os bancos que emprestaram os 2,2 milhões de dólares norte-americanos, o influente membro do partido no poder declarou: “eu até simpatizo, solidarizo-me com esses movimentos todos que dizem vamos falar com o VTB, vamos com a Credit Suisse explicando a eles de que está dívida foi mal contraída, isto é uma dívida anti constitucional, tudo bem, vamos dar força a esses compatriotas que estão a fazer isso, para que esta mensagem chegue onde tem que chegar. Ela há-de chegar aos accionistas destas instituições, parece-me um esforço genuíno e correcto, e sobretudo porque os mais penalizados são os mais pobres e os mais desfavorecidos”.
Empréstimos que o ex-Presidente Guebuza garantiu terem sido contraídos “em defesa da Pátria Amada” são “uma trampa internacional
“Mas por outro lado é preciso termos presente que na assembleia de credores quem deve é Moçambique. Se é constitucional, se é anti-constitucional, se é legal ou ilegal, esse assunto não é assunto deles. O que é preciso fazer é mandatar quem de direito e que represente o Estado, neste caso o ministro das Finanças, para estar nessa assembleia de credores e perante esses credores invisíveis e procurar renegociar essas dívidas até conseguirmos chegar a um quadro e que esses credores possam dizer que os argumentos que eles apresentam são tão sérios que ou vamos renegociar os rescalonamento das dívidas ou perdoar na totalidade essas dívidas, mas para chegarmos lá é preciso que os outros nos vejam como gente séria no tratamento dos assuntos”.
Na óptica de Tomás Salomão os empréstimos que o ex-Presidente Armando Guebuza garantiu terem sido contraídos “em defesa da Pátria Amada e do maravilhoso povo moçambicano” são “uma trampa internacional, basta ver quem são os envolvidos e os implicados temos moçambicanos, libaneses e temos gente de outras nacionalidades. É verdade que o destino era Moçambique, mas estes vendedores destes produtos estão por aí pelo mundo fora e a vender este tipo de trampas”.
“O país tem que ter a capacidade de olhar para este tipo de coisas e saber, em função daquilo que são as suas disponibilidades, os seus recursos, se vai aguentar pagar ou não, hoje estamos numa situação em que estamos com um nível de dívida insustentável”, concluiu Salomão ignorando que os seus camaradas disseram mais do que uma vez que a Proindicus, EMATUM e MAM tinham viabilidade para gerar receitas e amortizarem sozinhas os empréstimos que contrataram violando a Constituição da República.