Para os moçambicanos que residem longe da Região Centro do nosso país o movimento natural das placas tectónicas do nosso planeta, vulgarmente denominado sismo ou terramoto, são acontecimentos raros. A maioria dos cidadãos terá memória o forte sismo de 2006, com magnitude de 7,2 e que causou cinco mortos, e o tremor de 2016, com 5,6 graus na escala de Ritcher. “Nós sentimos aqueles que tem uma magnitude acima de 5, mas todos os dias ocorrem sismos”, de pequena magnitude em Moçambique, revelou ao @Verdade o geólogo Vladimir João Manhiça.
O nosso país é propenso a ocorrência de fenómenos naturais de origem geológicos pois localiza-se na margem Este da placa Nubiana e no extremo Sul do Sistema do Rift Este Africano. “Quase todo o país tem actividade sísmica, inclusive a nossa zona de Maputo(são de magnitude baixa, 2 graus), mas na zona Centro a intensidade é maior” explicou em entrevista ao @Verdade o geólogo moçambicano.
“Os sismos concentram-se ao longo de uma fractura que sai desde a Etiópia até o centro do nosso país. África é uma placa tectónica que está a dividir-se, só que o movimento é lento. Mesmo na bacia do Rovuma temos actividade sísmica dentro do Canal de Moçambique. Na zona de Machaze, na província de Manica ocorrem frequentemente”, acrescenta Manhiça que trabalha no (INAMI).
Hélio Inguane, geofísico afecto na instituição que monitora e estuda estes fenómenos naturais no nosso país, explicou ao @Verdade que existe uma rede de dez estações que colecta informação diária sobre os movimentos das placas tectónicas em Moçambique.
Existe uma estação em Changalane, na província de Maputo, outra em Massingir, na província de Gaza, outra estação em Mapinhane, na província de Inhambane, uma na vila de Manica, na província de Manica, uma na cidade de Tete, na província com o mesmo nome, uma em Sena, na província de Sofala, outra em Chingoma, na província da Zambézia, uma outra na cidade de Nampula, na província de Nampula, outra em Lichinga, na província do Niassa, e também outra estação em Mueda, na província de Cabo Delgado.
Inguane clarificou que embora a rede esteja distribuída por cada uma das províncias na verdade o movimento das placas tectónicas transcende as divisões administrativas de Moçambique e até mesmo as fronteiras.
“A Terra inicialmente estava junta, depois afastou-se, este Rift este africano está a dividir a própria África, daqui a uns milhões de anos o continente ficará dividido” afirma Hélio Inguane, todavia não há motivo para preocupações pois este grande vale do Rift, que é um complexo de falhas tectónicas, surgiu há cerca de 35 milhões de anos.
Ambos académicos do INAMI tranquilizam os moçambicanos sobre a probabilidade de um novo abalo forte registar-se nos próximos tempos. De acordo com Vladimir Manhiça para encontrar outro sismo com magnitude similar a do registado em 2006 é preciso recuar pelo menos 50 anos.
Em 2 meses foram registados mais de duzentos terramotos de magnitude inferior a 5 graus
Os nosso entrevistados revelaram ainda que dados sobre a actividade sísmica são recolhidos no território nacional desde 1905. “Nós sentimos aqueles que tem uma magnitude acima de 6, mas todos os dias ocorrem sismos”, declarou Manhiça.
Uma amostra dos dados que têm sido colectados pelas estações sísmicas do INAMI, a que o @Verdade teve acesso exclusivo, mostram que por exemplo entre o início de Novembro de 2012 e o último dia desse ano foram registados 223 terramotos em Moçambique, porém todos abaixo dos 5 graus na escala de Ritcher, o mais forte teve uma magnitude de 4,7 com epicentro no Canal de Moçambique, certamente ninguém o sentiu no continente.
Sobre a possibilidade de prever quando será o próximo terramoto em Moçambique Hélio Inguane aclarou que ninguém no mundo consegue fazê-lo porque ocorrem, na sua maioria, “a uma profundidade de igual ou superior a 10 quilómetros e não se consegue perfurar tão fundo. Nessas zonas a terra é muito quente, coloca-se lá um equipamento que tem componente electrónica que fica danificada, então não podemos furar e colocar lá”.
De acordo com o geofísico moçambicano, mesmo que se conseguisse perfurar e colocar lá um aparelho de previsão “o tempo de reacção seriam milissegundos e não havia de mudar nada”.
Contudo, Inguane tranquilizou que “Moçambique tem a vantagem de estar numa zona em que os sismos são predominantemente de afastamento das placas(tectónicas), se acontecesse como noutros continentes, onde ocorrem sismos de colisão das placas (por exemplo no Nepal, Itália ou Chile), nós teríamos tsunamis aqui no Canal de Moçambique”.
“Neste afastamento vemos o surgimento de fendas, valetas, noutros parte a parte menos densa cede e a mais densa sobrepõem-se”. As nossas fontes afirmaram, e mostraram imagens, de várias dessas fendas que podem ser observadas no distrito de Machaze.
O que fazer durante um terramoto?
Mas como os terramotos podem ocorrer em qualquer lugar e sem aviso os especialistas do Instituto Nacional de Minas recomendam que durante o acontecimento fique calmo!
Se estiver dentro de casa, fique: debaixo da porta; ou num canto onde tenha um pilar; ou em baixo de móveis pesados como mesa ou balcão; deve ficar longe de janelas e portas que dão acesso ao lado de fora; não utilize fósforos, velas, ou qualquer outro tipo de chama, por causa das prováveis rupturas de gás de cozinha.
Caso o leitor esteja dentro de um automóvel, pare e fique a espera que o terra pare de tremer. Mas permaneça no automóvel somente se não houver a possibilidade da queda de objectos.
Se estiver ao ar livre, deve: afastar-se dos condutores de corrente e/ou de qualquer objecto que possa cair; manter-se afastado de edifícios.