Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

 
ADVERTISEMENT

“Temos a possibilidade de imprimir 200 mil exemplares”

“Temos a possibilidade de imprimir 200 mil exemplares”

Uma conversa com o dono do @Verdade é uma espécie de prova de fundo. Erik Charas é um conversador por excelência. Responde ao que lhe é perguntado, mas deixa sempre vários recados nas entrelinhas. Afirma que reduzir o número de exemplares foi um passo estratégico para não morrer na praia. Com quatro anos de vida, @Verdade pode imprimir 200 mil exemplares e uma rádio clandestina se o “Governo não der uma licença”. A clandestinidade é uma forma de dizer liberdade, como é habitual no discurso de Charas. O mercado publicitário funciona, diz, como um meio de controlo da liberdade de imprensa, algo que podia ter colocado em causa o projecto do @Verdade. O GABINFO, dispara, “é uma marioneta” do poder.

(@Verdade) – Já decorreram quatro anos desde que saiu à rua o primeiro exemplar do @Verdade. Qual é a sensação que tem?

Erik Charas (EC) – Para ser honesto é uma sensação de vitória, pelo simples facto de chegarmos aos quatro anos. É tudo “V”. “V” de verdade. É um “V” que mostra de que contra tudo e todos continuamos nesta missão de informar o povo. Com todas as nossas forças capacidades.

(@V) – A opinião que tinha do mercado publicitário moçambicano mudou ao longo desses quatro anos?

(EC) – Mudou claramente. A percepção deste mercado hoje é real. Não tenho problema nenhum em assumir que é um mercado corrupto, absolutamente corrupto, que não é diferente do país. É um mercado que não liga a normas, anuncia por interesses não necessariamente comerciais e, por tal, foi onde nós, no princípio, porque assentamos o nosso business plan em critérios de mercado e falhámos. Fizemo-lo porque não entendíamos e nem percebíamos qual era a realidade desse mercado.

Obviamente, não posso colocar todos no mesmo saco. Há um e ou outro que acabam por ser a excepção, mas aquele que devia ser o fundamental, que é o anunciante do Estado, refiro-me às Telecomunicações de Moçambique, Comissão Nacional de Eleições, Electricidade de Moçambique (todos aqueles que têm o dever de informar o povo) anunciam por interesses e estratégias meramente políticos.

Sabemos que todos os meios de informação, até porque estão licenciados, representam um mercado aonde chegam e que é distinto de qualquer outro. E o anunciante do Estado que devia ter o interesse de levar informação às pessoas. Até porque não anuncia para aumentar as vendas, mas para levar a informação ao povo, porque tem informação de interesse público, usa isso como arma política de controlo de informação com a qual o poder asfixia ou, dito de outro modo, aniquila aqueles que são os meios de informação independentes.

Aqueles meios de informação que estão alinhados, de uma ou de outra forma, acabam por ser os que realmente beneficiam deste bolo que é enorme e é validado pelos doadores e pelos nossos impostos. É triste, mas a minha percepção é que o mercado publicitário não permite o crescimento das empresas porque aqueles que as gerem não anunciam segundo critérios de mercado, mas em função de interesses pessoais e outros meramente políticos.

{youtube}85byWf_isdQ{/youtube}

(@V) – Isso colocou em causa a sobrevivência do jornal?

(EC) – Obviamente, nós assumimos certas coisas que tiveram como base aspectos reais. Não assumimos que empresas como a Coca-Cola e a Vodacom fossem anunciar porque são privadas, elas determinam as suas estratégias de comunicação, mas podemos assumir que um anunciante do Estado que tem de fazer concursos públicos, que tem de anunciar com verbas do Orçamento do Estado que é doado tem de anunciar com regras de procurement do Estado aprovadas pelos doadores as quais referem que o anúncio deve ser feito em função do jornal de maior circulação e tiragem. Portanto, é uma regra, é uma lei através da qual os doadores nos dão dinheiro para gastar e quando o nosso Governo não cumpre a lei sobre a qual nós presumimos um plano de negócios algo não funciona como deve ser.

Quando um investidor chega ao país goza de algumas garantias. Porém, o seu plano de negócios é feito em função daquilo que está plasmado na lei. Portanto, se ele chega e descobre que a lei não é cumprida pelo próprio Governo a quem ele recorre? Esta é uma linha clara que mostra que não é simples investir em Moçambiquepara um nacional como para um estrangeiro. Estamos num mercado que não cumpre leis.

(@V) – Como é que se contorna este cenário?

(EC) – Contorna-se começando por exigir melhor responsabilidade com o nosso dinheiro. Os doadores também deviam exigir mais responsabilidade com aquilo que dão começando por olhar onde é que se gasta. Deviam questionar o porquê de no regulamento de procurement certas linhas não serem seguidas. Esse é o primeiro ponto. O segundo passa pelos cidadãos exigirem, e nós fazemos a nossa parte como imprensa, uma melhor aplicação dos impostos.

Imaginem o Banco de Moçambique (BM) que tem de veicular coisas como a preservação da moeda e anuncia num jornal de menor circulação e tiragem. Quando a gente olha para o BM, que funciona com o dinheiro dos nossos impostos, e descobre que é accionista de um jornal pró-Estado no qual reorienta toda a sua informação estamos diante de um critério dúbio. A informação é uma arma, se calhar é uma arma e uma bala que é usada pelo Estado e todos os seus tentáculos para se manter no poder.

Portanto, não interessa ao Estado que a informação independente tenha a mesma abrangência que aquela que ele controla. E a forma de fazer, nos dias de hoje, esse controlo é através do poder económico. É mais difícil fazer esse controlo por via do poder repressivo porque estamos dependentes de toda uma comunidade internacional e de todo uma farsa de que somos um Estado democrático. Por isso temos 16 ou 17 jornais que não chegam a ninguém ou, como vimos recentemente, que não mudam a tendência de voto.

(@) – Mas como é que podemos determinar que este ou aquele jornal é de maior circulação e tiragem?

(EC) – Infelizmente, neste país, o órgão que devia ser regulador é uma marioneta, não tem nenhum contexto de independência. Até porque no que diz respeito à lei de imprensa não tem nenhum poder que nos impeça de criar um órgão. Contudo, temos de nos registar nele. Esse órgão não tem de inventar a roda. Tem de fazer algo que se faz em todo mundo que é controlar e certificar a tiragem. Isso é feito em todo o mundo.

Em Portugal, na África do Sul e até no Zimbabwe. É um processo simples de medir a tiragem. Porque, hoje em dia, qualquer jornal diz que imprime x, y e z. Ninguém controla. Nós sabemos que há jornais nesta praça que mentem. As empresas donas dos Media mentem, por isso @Verdade tomou este passo de ter todas as suas edições certificadas pela KPMG.

É um auditor independente que certifica que aquele número que consta na ficha técnica é real. Um exemplo que ninguém adoptou, incluindo o órgão do Estado, aquele que recebe mais dinheiro. Para nós, o órgão do Estado pode imprimir uma cópia, duas, três ou 10 mil não fazemos ideia. Não há ninguém independente que valida isso. Isso não devia ser feito por uma empresa independente. Aquele órgão que se chama GABINFO devia incorporar no seu trabalho esse mecanismo de medição. Algo que não tem de ser inventado.

É só copiar o que é feito noutros países. Toda a gente mede da mesma forma. Quantas pessoas lêem é possível saber, quantas cópias são impressas é também possível saber. Mas isso está a ser discutido há quatro anos, mas é óbvio que não existe interesse. Porque se esses números saíram já não haverá espaço para se continuar a usar o dinheiro da publicidade como a arma de controlo da liberdade de expressão.

(@V) – A publicidade foi um dos mecanismos usados para silenciar o jornal. Pode falar de outras formas de pressão que foram usadas para o alcançar o mesmo objectivo?

(EC) – Há o chamado obstáculo político. Sempre que a gente fala a pressão surge de todos os lados. A publicidade é a mais evidente, mas somos um jornal que imprime fora do país e o processo de entrada é complicado. Não faz sentido que a gente continue a pagar coisas como IVA, direitos e coisas por aí fora. Há vários níveis de pressão que vêm sobre os nossos colaboradores. Há um nível de pressão que vem indirectamente sobre as ligações dos colaboradores ou as minhas pessoais. Eu tenho outras coisas a correr dentro do contexto do meu grupo de negócios e todos esses investimentos são claramente pressionados de modo a que o jornal seja mais brando e pacífico. Isso é directo em função daquilo que é a linha editorial do momento.

(@V) – Muita gente dava pouco mais do que três meses de vida ao @Verdade. O que, no seu entender, terá levado as pessoas a pensar de tal forma?

(EC) – O jornal tem quatro anos. Iniciamos agora o ano da verdade porque vamos fazer cinco anos. Está garantido que vamos completar cinco anos e vamos celebrar. Felizmente ou infelizmente, a gente não gere o jornal da mesma forma que temos a paixão de levar a informação ao povo. Não somos só emocionais. Há todo um contexto de negócio que quando algumas coisas não funcionam se reorganiza. Arranjamos formas de sobreviver. Infelizmente este país é assim.

Ninguém faz nada e há um contexto que tenta mostrar que o moçambicano não consegue levar as coisas para a frente. Principalmente se não está alinhado ao sistema. Parte desses comentários foi feita por gente ignorante. É gente que não concebe que há várias formas de fazer as coisas. O modelo de um jornal gratuito não era conhecido. Por isso é que usei o termo ignorante. Há meses em que há dias maus. Este ano, por exemplo, tivemos meses terríveis em que não tivemos publicidade nenhuma e tive de pagar o jornal do meu bolso.

Por pior que seja o modelo de negócios, não podemos enveredar pela linha pessimista e abater algo porque é novo. Eu posso, como faço agora, virar e dizer: “eu pago”. Enquanto não encontrarmos uma forma de sair, enquanto não encontrarmos um modelo de publicidade que sustente o jornal, tiro do meu bolso. Sacrifico algum luxo e ponho o jornal a andar e foi o que aconteceu com a redução de publicidade. Fomos obrigados a reduzir a tiragem. Ninguém gosta disso.

O nosso objectivo era aumentar a tiragem todos os anos. Mas reduzimos para não morrer. Reduzimos para levar informação ao povo e reduzimos para ver como é que a gente, estrategicamente, dá dois passos para trás e quatro para a frente. E nesse processo de redução há dois aspectos: manter o jornal a andar e outro que é garantir a possibilidade de investir do próprio bolso com mais facilidade.

{youtube}Td63pIl3mGY{/youtube}

(@V) – Apesar da redução, o jornal é muito mais popular hoje com 20 mil do que com 50 mil exemplares. A que se deve isso?

(EC) – A redução também é estratégica. Nunca é feita pelo simples facto de reduzir os custos. Antes de os reduzir olhámos internamente para os focos de procura, as duplicações e as pessoas que tinham várias fontes de informação. Portanto, quando reduzimos não tirámos o jornal daqueles que verdadeiramente precisavam, retirámos daqueles que tinham uma duplicação de acessos.

O jornal existe em todos os meios possíveis, nomeadamente Internet, twitter, bbm, facebook e dessa forma tínhamos pessoas com acesso em diversos formatos e plataformas. Portanto, o primeiro contexto de redução de tiragem foi privar as pessoas que tinham acesso de várias formas ao jornal impresso e entregar aos que realmente não tinham nenhum.

Para dar um exemplo, nós tínhamos 17500 jornais que ficavam na zona de cimento onde residem pessoas que fundamentalmente podiam ler o jornal na Internet. Muitas das pessoas deixaram de receber um jornal físico e passaram a receber o jornal via e-mail, via facebook, twitter e continuaram a ter acesso. Por essa via mantivemos os leitores.

(@V) – Outra forma de ver as coisas, no que diz respeito à redução da tiragem, é que os inimigos do jornal venceram.

(EC) – Mesmo que seja uma vitória, é preciso considerar que em termos de guerra é preciso recuar para ganhar balanço. Eles podem considerar que, se calhar, esta pequena batalha está vencida, mas garanto que não será por muito tempo. Até porque o nosso objectivo passa pelo crescimento.

(@V) – O Jornal @Verdade começou por retratar questões sociais. Porém, no seu segundo ano de vida, mudou radicalmente de abordagem. Essa mudança foi gerada por uma frustração pessoal ou pela dinâmica de trabalho numa redacção?

(EC) – Bem, é preciso entender que eu sou director-geral do jornal. Não sou necessariamente um director executivo e também nem posso impor as minhas opiniões pessoais. Esse é o conceito de liberdade editorial que temos. Esse é o primeiro ponto a reter. O segundo ponto é o dinamismo do jornal. Um jornal que é para povo, é gratuito e não pretende tornar-se um magnata da informação tem de mudar.

Tem de ouvir os seus leitores e ir ao encontro das necessidades de informação dos seus leitores. Nós não existimos e nem podemos coexistir numa estrutura top down, numa estrutura em que eu decido ou a linha editorial decide o que o leitor tem de saber. Isso é péssimo porque estaríamos claramente a determinar que o leitor não tem essa capacidade evolutiva. O que críamos no jornal, primeiro, foi uma dinâmica de recepção de vozes daqueles nos lêem. Temos vários mecanismos como o facebook, twitter, sms e cidadão repórter e em função disso começámos a descobrir as lacunas de informação que existiam.

Apesar de as pessoas pretenderem rever-se no jornal através das verdades que normalmente não aparecem, como a condição social e a pobreza que nos é escondida diariamente nos órgãos de informação (se olharmos para os órgãos de informação de Moçambique não temos a consciência de que estamos num país pobre, ficamos com a sensação de que não há pessoas a viajarem em carros de caixa aberta piores do que gado, não temos a percepção de que o nível seroprevalência atingiu níveis alarmantes porque há pessoas que vão deixar de tomar medicamentos por não terem o que comer) constata-se que é importante trazer esta verdade.

Mas também é importante também trazer o verdadeiro grito que as pessoas não conseguem dar. Parte do pedido que nos foi feito em termos de informação é o de procurar elevar a voz do povo. Ou seja, dizer as coisas que ele guarda por medo ou por incapacidade de as pronunciar. Foi aí que assumimos esse papel de editorialmente falar sem pôr algemas na verdade. É por aí onde dizem que virámos radicais, mas nós dizemos que fomos por onde foi abafado o grito do nosso leitor e o amplificámos.

(@V) – Quando abre as páginas do Jornal e vê que é dos órgãos de informação com menos anúncios publicitários que sentimento lhe atravessa?

(EC) – Para ser honesto, eu gosto. Gosto porque, fundamentalmente, tiro do meu bolso para pôr o jornal a andar. Este ano tivemos uma redução de publicidade significativa. Há que dizer a verdade: tivemos apenas 20 porcento de renovação. Infelizmente as agências de publicidade e os anunciantes sofreram pressão do Governo e por aí fora. Para o jornal não morrer eu fiz um compromisso pessoal, tiro daquilo que é meu. Poderia estar a comprar casas e carros, mas ponderei reinvestir no jornal. Estou num processo de reinvestimento constante para ele funcionar.

E porque o faço tenho de sentir uma satisfação pessoal e não há nada melhor do que passar numa sexta-feira e ver que a primeira pessoa chega às 6 horas para ficar na fila para receber o jornal. Por outro lado, gosto de abrir um jornal e ver menos publicidade porque vai mais informação. Eu não digo: “não está a vir dinheiro”. Muito pelo contrário, tenho menos publicidade e mais informação e aquela pessoa que chega às 6 horas tem mais tempo de leitura, mas conhecimento adquirido, mais subsídios que lhe vão permitir votar conscientemente. O facto de o rendimento não estar a vir não constrange, eu gosto disso porque dá-me o indicador de que este é o caminho.

O caminho para nós é aumentar mais páginas e ter menos imposição publicitária. É para onde estamos a rever o plano de negócios porque a publicidade rouba-nos espaço. Neste momento, estamos a pensar em aumentar o preço da publicidade. Quero que a publicidade que vier me permita meter mais uma página de informação que o anúncio rouba. Estamos fundamentalmente a criar um modelo de negócio de imprensa novo. Pode funcionar como pode não funcionar. Repare que nós criámos um jornal de graça, o que não existe em África.

{youtube}Hlo3RDxQxCc{/youtube}

(@V) – Vivemos num país com um nível de iliteracia monstruoso. Como é que @Verdade pretende alcançar os que não sabem ler? Por via de um canal de televisão ou de rádio?

(EC) – A rádio do @Verdade é realmente uma necessidade. Acho que o Governo não nos vai dar uma licença. Teremos de comprar uma ou criar uma ilegal. Estou com vontade de criar uma rádio ilegal. Foi com uma rádio clandestina que libertámos o país, e se não nos concederem uma licença vamos criar uma rádio da verdade. Uma rádio clandestina.

(@V) – Quer libertar país?

(EC) – Já disse várias vezes que é necessário libertar o país num contexto de informação. Vivemos com algemas nas nossas palavras. Hoje em dia as pessoas têm medo de falar e até de ouvir algumas coisas. Temos de libertar o país. A estratégia de ter várias rádios, vários jornais foi pensada para diluir o poder da palavra. Mas felizmente o nosso leitor não tem acesso a essa diluição da palavra.

Ele tem acesso a um jornal e dá valor profundo àquilo que lê. Vi no facebook um leitor que dizia: “Eu agradeço porque @Verdade existe. Através do @Verdade virei um apreciador e conhecedor da nossa vida política”. Acho que esse comentário é belíssimo. Porque vem de alguém que vivia de música, desporto e novela e que, de repente, está a dizer que tem um jornal que lhe chega às mãos de forma simples e básica e com a voz de que precisa.

Não há caminho a seguir neste país para todos aqueles que andam de carrinhas de caixa aberta, morrem nos hospitais, são espancados pela polícia a não ser virarem cidadãos políticos.Temos de nos inteirar daquilo que são os nossos direitos, deveres, armas e a partir daí agir. Se não o fizermos continuaremos a ser gado de abate. Se agirmos como gado seremos tratados como tal.

(@V) – O que sente quando percebe que as histórias do jornal que criou geram mudanças na vida das pessoas? Quando vê que pessoas carenciadas recebem ajudas porque alguém leu as páginas do seu jornal. Quando um pai regressa ao infantário onde abandonou o filho porque o jornal reportou que a criança tinha sido abandonada.

(EC) – É um sentimento, primeiro, de realização pessoal e, segundo, de que estamos no bom caminho. Não pode e nem será um sentimento de dever cumprido, muito pelo contrário. Até porque se amanhã deixarmos de existir saberei que, nestes quatro anos, mudámos as pessoas que nos leram, mudámos a forma de estar e alguma coisa funcionou. Por outro lado, pensamos que temos de continuar nesta missão.

Estamos a reunir cada vez mais apoio e ajudas. Impressiona-me não só o facto de as nossas histórias, porque trazem a verdade, tornarem as pessoas mais solidárias, mas isso acontecer no seio de uma sociedade egoísta, onde as pessoas imitam as lideranças que bebem champanhe e reúnem-se no Hotel Polana para discutir a pobreza dos que andam de carrinhas de caixa aberta.

Num país onde há parlamentares que gastam milhões de dólares para comprar carros de tracção às quatro rodas. Esta insensibilidade existe e a sociedade foi absorvendo, mas, por outro lado, quando vemos que retratamos uma realidade e dela a vida de algumas pessoas melhora, o sentimento é de gratidão.

O futuro

Aspirações políticas

(@V) – Em tempos foi apontado como futuro candidato do MDM para o município de Maputo. Equaciona a possibilidade de tal informação ter sido veiculado na expectativa de fragilizar a posição do Jornal @Verdade?

(EC) – A gente entende como o sistema funciona. Desde que a gente não funcione como gado tentam abater-nos de todas as formas possíveis. Uma é pela via económica e outra é pelo descrédito. Mas eu quero que me ataquem. Porque enquanto fizerem isso as pessoas que fazem o jornal:jornalistas e gráficos trabalham.

Quero que me ataquem porque eu posso assumir esse fardo. Tenho essas forças e enquanto estiverem distraídos comigo o jornal continua a funcionar. Voltando ao que pergunta afirmo que todos somos cidadãos políticos. Mas quanto ao ser candidato a resposta é não. Neste momento eu sou um empreendedor social. Interessa-me desenvolver o empreendedorismo social em Moçambique.

Interessa-me que as pessoas entendam que, com aquilo que é o lucro, aquilo que é o poder do desenvolvimento económico, tem de vir uma responsabilidade social. Interessa-me que aqueles que façam negócios, seja a qualquer nível, não desconsiderem que há uma responsabilidade de fazer crescer o povo. A maior riqueza que a gente tem neste país não é o gás, não é camarão e nem o carvão. É o povo e é a coisa na qual nós investimos menos.

(@V) …Futuramente?

(EC) – Uma resposta clara: não tenha essa ambição de concorrer. Aliás, a minha filiação política de ideologia está clara, infelizmente decepciona-me todos os dias. Mas é uma escolha pessoal que não impinjo e nem imponho no jornal. Fundamentalmente, quero que o jornal mantenha essa independência e que leve para a sua liderança as dicas do povo. Por isso os nossos mecanismos de informação terão sempre como base o cidadão repórter e através daí vão surgir as verdades.

(@V) – Que jornal teremos no futuro?

(EC) – Vamos ter um jornal abrangente, que chega a mais moçambicanos. Vamos ter um jornal que vai informar uma boa parte dos moçambicanos para tomarem decisões conscientes. Decisões com conhecimento. Temos de sair da era da ignorância. Temos de deixar de ser o quarto pior país do mundo. Temos Mozal, temos carvão, mas não é isso que nos fará deixar de ser pobres. A única coisa que nos fará subir na escala do desenvolvimento é o melhoramento do acesso à saúde, educação, redução da mortalidade infantil. É aí onde nós temos de ir.

{youtube}Nj9NSQj0aBw{/youtube}

(@V) – Alguma possibilidade de voltar aos 50 mil exemplares?

(EC) – Acho que temos a possibilidade de ter 200 milexemplares.

(@V) – Porquê a abertura de uma delegação em Nampula?

(EC) – Nasci em Nampula, sou macua e não há aqui nenhuma dose de tribalismo. Não quer dizer que vamos começar a escrever em macua, mas fundamentalmente é preciso compreender que o país não é Maputo. Nós vivemos aqui e esquecemo-nos disso, mas felizmente há vozes que nos lembram que é preciso dar espaço aos outros pontos do país.

Foi assim que abrimos no jornal espaços específicos para trazer informação sobre os outros pontos do território nacional. Chegou o momento de andar, enquanto uns dão tiros julgando que estamos à beira da morte abrimos a delegação de Nampula. É por aí onde o jornal vai expandir. Não é o único ponto. Mas Nampula é a base do maior conglomerado populacional.

Há duas províncias do norte: Nampula e Zambézia que perfazem mais do que metade da população moçambicana. Será de Nampula onde o debate político eleitoral há-de vir um dia. Queremos que estes cidadãos façam escolhas em função da informação que recebem e não do que é prometido. Queremos ter no norte um cidadão consciente da sua decisão.

(@V) – O que seria ideal?

(EC) – O jornal precisa de muito espaço e de muito mais papel. O jornal precisa de chegar aos 22 milhões de moçambicanos. Este jornal, por ser gratuito, tem de chegar um dia em que as pessoas jogam fora. No dia que alguém chegar e dizer:

“o que está neste jornal é informação que eu já detenho. Portanto, não vale o papel no qual foi impresso. Não levo.” Significa que cumprimos a nossa missão. Temos de chegar aos moçambicanos de forma a que nos rejeitem. Só aí teremos sido abrangentes. Temos de ser um jornal que seja a nossa segunda escola, ou a primeira. O jornal tem de ser a biblioteca do povo.

(@V) – Uma mensagem para os amigos do @Verdade…

(EC) – Nós fomos sempre renitentes à recepção de ajuda. Não quero que um dia que alguém diga que contribuiu. Estamos a abrir uma plataforma de colaboração e queremos que as pessoas que se sintam tocadas pelo @Verdade façam alguma coisa.

Seja alguém que lê uma reportagem e quer apoiar pessoas desfavorecidas, sejam os que estão amargurados com a realidade política e que, no passado, vieram dizer que podem apoiar financeiramente, seja por continuarem a ler, seja por criticarem. O que queremos é este comprometimento dos cidadãos com o @Verdade. O meu apelo é para que se juntem ao @Verdade.

WhatsApp
Facebook
Twitter
LinkedIn
Telegram

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

error: Content is protected !!