Um forte calor na região Meio-Oeste dos Estados Unidos deverá encerrar um período de três meses de declínio dos preços globais dos alimentos em Julho, disse a Organização das Nações Unidas (ONU), esta Quinta-feira (5).
A afirmação foi feita no momento em que alguns preços de grãos subiam às máximas vistas pela última vez durante a crise alimentar de 2007 e 2008.
Preocupações sobre o forte calor e tempo seco que atinge as áreas de milho e soja dos EUA, maior produtor global dessas commodities, estimularam um aumento dos preços dos grãos na segunda metade de Junho, como resultado duma série de rebaixamentos da qualidade da safra feitos pelo Departamento de Agricultura norte-americano (USDA).
O contrato de referência da soja atingiu, esta Quinta-feira (5), o maior nível desde Julho de 2008, enquanto o milho alcançou a máxima de 10 meses.
Os futuros do trigo, que acompanhavam a firmeza do milho e da soja, chegaram ao maior nível desde Junho de 2011.
“Não descartamos os novos aumentos de preço e maior volatilidade até a colheita dos EUA. Os próximos dois meses vão ser bastante instáveis”, disse à Reuters o economista sénior e analista de cereais da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Abdolreza Abbassian, depois de o órgão publicar o seu índice de preços de Junho.
A segurança alimentar chamou atenção dos líderes mundiais depois da máxima recorde dos preços dos alimentos, em Fevereiro de 2011, e contribuiu para os protestos conhecidos como Primavera Árabe no Oriente Médio e Norte da África, ano passado.
Armazenamentos mais baixos
A FAO rebaixou a sua estimativa para a produção global de cereais em 2012 para 2,396 bilhões de toneladas, 23 milhões abaixo da previsão anterior, conduzida por um corte de 25 milhões de toneladas na sua projecção para a produção de milho dos EUA, para 350 milhões de toneladas.
A organização também reduziu a sua previsão para as quantidades de cereais, globalmente monitorados, das safras que terminam em 2013 para 536 milhões de toneladas, 12 milhões abaixo da estimativa anterior, mas ainda 4 por cento acima dos níveis iniciais.
No entanto, a FAO não espera quaisquer grandes problemas com a oferta global de alimentos em 2012/13, por conta da robusta oferta de arroz e trigo e pela demanda mais baixa por alimentos, produção de ração e biocombustíveis, devido à desaceleração da economia global, disse Abbassian.
A Organização para Agricultura e Alimentação reduziu a sua projecção para a produção global de trigo em cerca de 3,2 por cento, para 678 milhões de toneladas em Junho, com os ajustes para baixo na Austrália, China e Federação Russa mais que compensando as revisões para cima na União Europeia e no Marrocos.
O Índice de Preço dos Alimentos da FAO, que mede mensalmente as mudanças de preço duma cesta de cereais, oleaginosas, lacticínios, carne e açúcar, chegou a uma média de 201 pontos em Junho, abaixo dos 205 pontos em Maio e menor nível desde Setembro de 2010, disse a organização da ONU.
Incertezas económicas e perspectivas gerais duma oferta adequada têm mantido os preços globais da maior parte das commodities sob pressão baixista, apesar de as crescentes preocupações sobre o clima adverso sustentarem os preços de algumas safras até o final de Junho, disse.