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Teatro? Só (se for) no ecrã!

Teatro? Só (se for) no ecrã!

A produção de peças teatrais em material videográfico está a gerar espectadores de artes cénicas. O problema é que – com esta descoberta –, em Nampula, os teatros estão a ficar votados ao abandono.

Para a materialização dos objectivos estabelecidos – influenciar o comportamento social das pessoas, em relação ao combate à SIDA, incluindo outras adversidades –, em Nampula, a produção de peças teatrais em material fílmico é uma estratégia bem-sucedida. Ou, pelos menos, as pessoas ‘compram’ a ideia. Consomem-na, o que nos faz pensar que, consequentemente, também captam as mensagens disseminadas em seu (próprio) benefício.

A paternidade da ideia é do Grupo de Teatro Timbila, mas, naquela região do país, muitas colectividades teatrais – movidas pela adesão que os produtos têm da parte do público – apostam nesse mercado. Observando a motivação original, influenciar as pessoas no combate a alguns males sociais, o Grupo de Teatro Timbila encenou peças de teatro, gravou-as em vídeo e discute temas actuais – a luta contra a SIDA, sobretudo – e, socialmente, relevantes.

Nos filmes, os assuntos são abordados de modo que atraiam a atenção de pessoas de todas as classes sociais e idades. A isso associa-se a crescente demanda que os produtos possuem. Em Nampula há pessoas que – depois de verem os filmes – se sentem identificadas com as histórias reportadas. É como se os factos narrados – muito em particular quando o assunto se relaciona com a SIDA – fossem sobre a experiência dos telespectadores.

Mas o importante, aqui, é o estímulo que os filmes despertam para o gozo da vida – não obstante estar-se a lutar contra uma doença sem cura – bem como a necessidade de se evitarem comportamentos de risco. O outro aspecto é que de todos os 27 documentários – que na verdade são exibições teatrais filmadas e publicadas em disco – as falas são em emákua, um idioma local.

A história

O Grupo de Teatro Timbila foi fundado, em 1999, por jovens católicos e é uma organização sem fins lucrativos. No início, os artistas promoviam palestras e debates educativos nas comunidades. Os mesmos são financiados, maioritariamente, por organizações não-governamentais com interesses específicos. No princípio, uma mangueira frondosa, no Bairro de Muatala, tornou-se o espaço onde os primeiros seis membros ensaiavam a fim de, nos dias festivos, apresentar as peças ao público. Foi, inclusive, assim que a reputação da colectividade evoluiu.

“Apreciávamos imenso que nos convidassem – mesmo para actuar de graça – porque, no início, queríamos que o nosso trabalho fosse conhecido”, comenta Raul Sebastião, o líder da colectividade. Dois anos depois, em 2001, apesar de que os actores não tinham nenhuma formação específica em dramaturgia, muito menos em cinema, o Teatro Timbila registou o seu primeiro filme de teatro, no distrito de Rapale, em que aborda a educação da rapariga no contexto da cultura macua. A criação artística foi financiada pela União Técnica de Educação Básica.

A obra recebeu uma crítica favorável no mercado – o que estimulou os agremiados a seguir em frente no seu trabalho. Raul Sebastião, que se recorda das razões da criação do Grupo de Teatro Timbila, afirma que a “única forma que encontrámos para convencer as pessoas a adoptarem comportamentos sociais sadios na luta contra a SIDA – a exemplo de outros problemas sociais – foi a gravação de filmes educativos em forma de teatro, colocando-os à sua disposição”.

Com o passar do tempo e com o crescimento do grupo, incluindo o crescimento da sua produtividade, muitos mais tópicos de interesse público – como, por exemplo, casamentos precoces, abuso sexual da rapariga, o saneamento do meio ambiente, as queimadas descontroladas e a importância da alfabetização – foram acrescentados nas discussões espevitadas pelo Teatro Timbila.

Profissionalizar a actuação

Além das facilidades que possui no acesso aos apoios, a popularidade do Teatro Timbila, em Nampula, coloca-lhe novos desafios um dos quais a profissionalização do seu trabalho. É nesse sentido que um grupo de artistas finlandeses capacitou os membros da colectividade em matérias de produção de peças de teatro profissional.

A formação incidiu na temática da melhoria das formas de articulação de mensagens entre as personagens no contexto das obras produzidas pela colectividade. Em 2003, outra organização cultural suíça formou os actores do Teatro Timbila com vista ao alargamento da esfera de acção e actuação do grupo como, por exemplo, a criação de obras que não sejam, única e necessariamente, a comédia. Raul Sebastião salienta que o objectivo do grupo é educar, criticar e sensibilizar a sociedade para a mudança de comportamento – sempre que for necessário.

Entretanto, apesar da fama do grupo, o mesmo ainda não tem um grande poder financeiro. Por isso, a compra de material técnico para a materialização do seu trabalho continua a ser uma dificuldade. Como forma de superar o impasse, os seus membros realizam outras actividades económicas de onde obtêm dinheiro para investir na arte.

Em Nampula há várias instituições que apoiam o Grupo de Teatro Timbila na filmagem, edição e produção de filmes. De acordo com os integrantes do colectivo, a compra de material técnico e a distribuição dos filmes cabe às organizações que – em função dos seus interesses – os contratam para a produção de tais produtos. A boa nova é que, com os rendimentos desse trabalho artístico, os membros do Grupo de Teatro Timbila conseguem sustentar as suas famílias.

A pirataria prejudica

A contrafacção de material discográfico, na cidade de Nampula, continua a prejudicar os artistas e o Teatro Timbila também se ressente dessa prática. É sobre isso que Raul Sebastião afirma que – para contornar o mal –, no princípio, o grupo vendia os discos de mão em mão. No entanto, essa actuação não suavizou a acção dos piratas. É que eles compram as obras e replicam-nas.

Em resultado disso o artista diz que as colectividades que se dedicam à arte estão a produzir trabalhos para alimentar comerciantes informais que vendem discos piratas sob o olhar impávido das autoridades municipais.

O artista lamenta a indiferença das autoridades municipais em relação aos infractores, a quem acusa de cumplicidade: “O Conselho Municipal de Nampula autoriza a gravação de discos piratas, concedendo licenças a pessoas que fazem a contrafacção”.

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