Taça CAF: Liga Muçulmana com um pé na fase seguinte A contar para os oitavos-de-final da Taça CAF, conhecida também por Taça Nelson Mandela, a segunda maior competição africana a nível de clubes, a Liga Muçulmana de Maputo derrotou no passado domingo (21) o Wydad Casablanca de Marrocos por 2 a 0. Com este resultado, os moçambicanos partem em vantagem para o jogo da segunda “mão” marcado para o dia 05 de Maio próximo naquele país do Magreb.
O prometido é devido. O treinador Litos Carvalha da Liga Muçulmana de Maputo fez valer a sua vontade de ver o jogo controlado do primeiro ao último minuto, ainda que tenha permitido algum equilíbrio a meio da segunda parte. Os muçulmanos entraram com a clássica disposição táctica de 4 – 4 – 3, que em termos práticos transfigurou-se num 4 – 5 – 1 como é hábito naquela equipa, com Liberty e Momed Hagi a fazer a dupla de trincos, com o malawiano Josephy a controlar o centro do meio-campo e Sonito a exercer funções de ponta de lança. O Muandro pela esquerda e Josemar pela direita, desempenharam o papel de extremos, homens responsáveis por levar a bola ao ataque pelas laterais.
Na zona traseira, a dupla de centrais foi composta por Chico e Zainadine Júnior, enquanto Cantoná e Miro serviram a equipa como laterais direito e esquerdo, respectivamente. Com a saída de Josephy, o “elo”pensante das jogadas ofensivas dos muçulmanos ao minuto 36, Litos chamou o Muandro para jogar como médio-centro, puxando Hélder Pelembe para a anterior posição deste. A entrada de Imo para a mesma posição exercida por Muandro, ao minuto 55, demonstrou o quão Litos ainda tem graves lacunas neste posicionamento, até aqui confiado a um só jogador, o Josephy.
Do lado contrário pouco ou nada se pode dizer, até porque os marroquinos não tiveram tempo para demonstrar o seu real valor em campo, ainda que tenham entrando com o também clássico 4 – 4 – 3, com o médio Bakre El Helali a carregar a equipa nas costas por vezes como médio-centro, variando para trinco e extremo direito dependendo das situações de jogo. Outro irrequieto que causou muitos problemas aos muçulmanos de Maputo foi o Bobley Anderson, o maestro, que sempre que aparecia sozinho no centro do terreno gerava calafrios.
Contudo, diga-se, em abono da verdade, que os muçulmanos desmantelaram por completo a táctica montada pelo Wydad para este jogo.
O FILME
Foi, à semelhança do jogo da segunda “mão”contra o Lobi Stars da Nigéria, uma tarde histórica para a Liga Muçulmana. O pequeno campo da Matola C, com uma capacidade máxima de três mil espectadores, ficou pequeno para a moldura humana que se fez presente no local, numa estimativa de 10 mil espectadores. Aliás, para além do público que ficou de fora, houve quem preferiu assistir o jogo de cima do murro de vedação do campo e das árvores na zona circunvizinha, ficado uma mensagem clara à direcção daquele clube de modo a verificar as condições do campo se quiser mesmo o apoio dos moçambicanos para as próximas vezes.
A partida começou com um susto para os muçulmanos, quando o central Zainadine Júnior dominou mal o passe de Cantoná, tendo o esférico sobrado para o homem mais adiantado do Wydad, Fabrice Ondama, que só não teve cabedal suficiente para bater Caio, visto que o mesmo Zainadine colocou o pé na bola como que a rectificar o erro. A resposta da Liga surgiu quatro minutos depois ou seja, transcorrido o primeiro quarto de jogo, quando Sonito cabeceou a bola por cima da baliza à guarda de Nadir Lamyaghri.
Com a circulação rápida da bola e um jogo flanqueado, sobretudo pela esquerda, os muçulmanos inauguraram o marcador ao minuto 21 quando, numa tentativa de saída vertical ao ataque do Wydad, Joseph Kawende recuperou a bola no meio campo e fez um rasgo a isolar Sonito, que fora da grande área atirou de rasteiro a contar. É importante referir que a bola foi desviada pela relva para o lado esquerdo da baliza sul, traindo o guarda-redes que atirou-se para o lado direito.
Depois do golo, a Liga não abrandou o ritmo e na primeira meia hora podia ter dilatado o marcador na sequência de um livre directo em que, depois de a bola embater na barreira, Liberty rematou por cima da baliza. O suspeito de costume, Fabrice Ondama, a responder afirmativamente ao excelente passe de Anderson, gerou mais um calafrio ao público presente quando a bola passou por centímetros acima do travessão de Caio.
Ao minuto 36, o caso do jogo: o médio Josephy saiu contundindo e para o seu lugar foi chamado Hélder Pelembe. A partir daí, a Liga comportou-se como uma equipa sem ambição, ainda que sem perder a autoridade.
O jogo perdeu praticamente o interesse e o único lance por registar foi do minuto 38, quando Sonito introduziu-se no meio de dois adversários para, com ajuda do seu porte físico, forçar um remate que passou ao lado da baliza.
Segunda parte de poucos acontecimentos
Tal como terminou a primeira, a Liga Muçulmana entrou na segunda parte inerte e sem ambição de dilatar o marcador, diante de um adversário que se mostrou confortado com a tangente, de modo a resolver em Casablaca ou seja, em casa. Aliás, se por um lado a equipa moçambicana ressentiu-se da ausência de um médio-centro com a saída do Josephy, para mais tarde e, em última instância, ser colocado o Imo naquela posição em substituição a Muandro, os marroquinos fizeram duas mexidas tirando o central Rabeh para dar lugar a um outro central, o Atouchi como também o trinco Lys pelo lateral direito Bakary Kone.
Nestes segundos quarenta e cinco minutos contaram-se seis lances de perigo gerados pelos muçulmanos, nomeadamente: o remate a meio da rua de Hélder Pelembe sem criar dificuldades ao guarda-redes Lamyaghri; o livre directo estudado com Mustafá a deixar o esférico para Miro que atirou uma bomba por cima da baliza no minuto 53; o cabeceamento de Sonito para as mãos do guarda-redes marroquino quatro minutos mais tarde; o centro de Hélder Pelembe após tirar um adversário pela frente com Josemar a surgir na grande área a rematar ao lado; a combinação espectacular de Josemar com Sonito, com este segundo a fazer um remate embrulhado e, por fim, o lance do golo onde, depois de cabecear para a defesa incompleta do guarda-redes, Miro bombeou a bola para o fundo das malhas no minuto 90.
Do lado do Wydad, o único lance a realçar foi aquele em que Fabrice, a nove minutos fim, cabeceou com força para a defesa em dois tempos de Caio. Na prossecução deste lance, com os muçulmanos a lançarem-se rapidamente ao ataque, Josemar foi parado com falta por Alioui Jamal, este que viu a segunda cartolina amarela, passando os marroquinos a jogar com dez unidades.
A Verdade dos protagonistas
Litos Carvalha, treinador da Liga Muçulmana Fizemos um grande jogo contra uma equipa muito difícil. Apesar do desgaste físico, das lesões de importantes jogadores como o Josephy e o Reginaldo, penso que estivemos bem e vimos isso em campo. Mas é preciso deixar claro que este resultado não significa nada para nós, visto que temos ainda noventa minutos por disputar na casa deles.
Mas eu acredito nos meus jogadores, uns autênticos heróis, que no balneário mostram muita garra e vontade de fazer sempre o melhor.
Wydad Casablanca
Nós temos porta-vozes para explicarem tudo o que aconteceu neste jogo. Falem com o árbitro, ele vai contar todo o filme.