O tabloide Sun tornou-se, esta Sexta-feira (24), o primeiro jornal britânico a desafiar a família real e publicar fotografias do príncipe Harry pelado a agarrar uma garota também nua em Las Vegas, alimentando o debate sobre o que se pode divulgar nos jornais em nome da liberdade de imprensa.
Enquanto os jornais de todo o mundo têm publicado as imagens do neto da rainha Elizabeth nu com uma mulher não identificada, depois de terem sido divulgadas por um site de fofocas norte-americano, Quarta-feira (22), a mídia britânica decidiu não fazê-lo até o momento.
Em vez disso, os veículos concordaram em consentir, alguns mais relutantes do que outros, com um pedido dos advogados da família real para respeitar a privacidade do príncipe, que tem 27 anos e é solteiro.
Mas o Sun, do magnata da mídia Rupert Murdoch, decidiu romper a barreira, Sexta-feira, publicando uma foto do príncipe nu, na maior parte da sua primeira página, cobrindo as suas partes íntimas com as mãos, enquanto uma mulher sem roupa esconde-se atrás dele, num quarto de hotel de Las Vegas.
O tabloide mais vendido do país, parte do braço britânico da News Corp de Murdoch, disse que as imagens estavam livremente disponíveis na Internet e que a questão tornou-se um ponto de “liberdade de imprensa”.
“Isto é sobre a situação ridícula em que uma imagem pode ser vista por centenas de milhões de pessoas em todo o mundo na Internet, mas não pode ser vista no jornal preferido da nação”, disse o editor-chefe do Sun, David Dinsmore.
Desde que as imagens de Harry apareceram no site TMZ, os jornais britânicos e emissoras têm debatido a questão de publicar as fotos, tiradas durante as férias privadas do príncipe durante a sua licença do trabalho como piloto de helicóptero do Exército.
Um representante de Harry entrou em contacto com o Press Complaints Comission (PCC), órgão de auto-regulação da indústria, para informar que a publicação das imagens desfocadas iria invadir a vida privada do príncipe, uma violação ao código de prática dos editores.
Ps especialistas dizem que os jornais britânicos, com as suas reputações extremamente abaladas por um escândalo de grampos telefónicos ilegais centralizado no tabloide News of The World, de Murdoch, e por um inquérito judicial subsequente sobre a ética da imprensa, estavam muito assustados para ignorar este aviso.
O Sun afirmou que como Harry é o terceiro na linha de sucessão do trono, havia um interesse público genuíno em publicar as fotos uma vez que elas levantam questões sobre a sua segurança e sua imagem pessoal, uma visão apoiada por alguns que defendem os direitos duma imprensa livre.
O ex-editor do Sun Kelvin MacKenzie disse que o próprio Murdoch teria que ter aprovado a decisão de mudar de táctica. “Uma imagem como essa não poderia ter sido publicada sem que Rupert Murdoch se envolvesse”, disse MacKenzie à emissora BBC.
Os críticos disseram que era uma desculpa fraca e que o jornal estava a tentar ganhar dinheiro às custas dum indivíduo, ecoando reclamações semelhantes que foram feitas repetidamente na consulta pública.
“Em última análise, o lucro tinha precedência sobre o bom gosto”, disse Mark Lewis, um advogado que representa a família de Milly Dowler, uma estudante assassinada cujo telefone foi invadido por jornalistas do extinto tabloide britânico News of The World.
“As fotos são para vender mais jornais, qualquer pretensão dum debate sobre a liberdade de imprensa é disparate. Há muitas imagens na internet que não vão para os jornais.”