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Sonhos do desterro

Sonhos do desterro
O exílio é um daqueles silêncios que gritam, apesar das ambiguidades, dos pensamentos ausentes, das lágrimas vestidas de raiva, e da impotência acomodada.
 
As ausências e os silêncios preenchem o quotidiano do exilado/emigrante em territórios polvilhados de nostalgia e de recusa e ostracismo explícitos. Politicamente refractários, perseguidos ou indiferentes, percorrem as ruas da sobrevivência, em nome duma amnésia histórica adquirida.
 
As tragédias pessoais dilatam-se ou contraem-se como vasos dum corpo social imunodeficiente. A reprodução e o regresso ao passado desperta-os desta letargia mal diagnosticada.
 
 
A crise identitária, de uns, é compensada pelo pragmatismo doutros. Pedreiros, estudantes, mulheres-a-dias, funcionários públicos, freiras e prostitutas, políticos de todos os quadrantes, quadros superiores, músicos e desportistas representam esta multidão difusa, heterogénea e desconfortável numa temperatura social mais fria, mais distante, menos solidária, diferente!
 
Outro continente, outras gentes, e uma coexistência difícil. A geografia e a unidimensionalidade cultural repercute-se em todos os domínios da existência separadora, inevitavelmente! Do local de trabalho ao bairro, passando pelos transportes públicos, os pesadelos do passado ressurgem como num filme a preto e branco: “ Minha raça sou eu mesmo.
 
A pessoa é uma humanidade individual. Cada homem é uma raça, senhor policia”(Mia Couto)
Milhares que vivem em situação de vulnerabilidade e incertezas, são invadidos pelo desalento, pela frustração e pelodesencanto e pelos medos que capturam a esperança! Como eram enormes as expectativas geradas!
 
Revisitar as origens, familiares e amigos, cheiros, sabores e tantos lugares e afectos, percorrem, e preenchem, os sonhos do exilado: Maputo e Mafalala; Quelimane e Namacurra; Beira e Manga; caril de amendoim, e mucuane, sura, caju e aguardente; mangas e papaias; Pemba e Paquitequete, Inhambane, Chidenguele; caranguejo e camarão; Ibo e café, galinha à zambeziana, xigubo, msaho, mapiko, Malangatana, Craveirinha, Mia Couto Fanny Pfumo, Paulina Chiziane, mafurra, praias, pescadores mineiros e o coração grande e generoso dos compatriotas, moçambicanos.
 
*Agry White (T.O.C e autor do blog navegador solidário http://agrywhite.blogspot.com) 
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