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Solidez defensiva e marcação adiantada

A cada quatro anos, as melhores selecções do mundo se reúnem para disputar o maior evento futebolístico do planeta. Para o Grupo de Estudos Técnicos da FIFA (GET), a Copa do Mundo da FIFA é uma excelente oportunidade para examinar as mais novas tendências do futebol.Agora, os resultados deste estudo em relação à África do Sul 2010 serão resumidos e publicados em um relatório técnico que será enviado juntamente com um DVD às 208 federações afiliadas à entidade máxima do futebol, visando promover o desenvolvimento do desporto em todo o globo.

O director do GET, Jean-Paul Brigger, que fala nesta entrevista sobre o Mundial na África do Sul e sobre as descobertas mais recentes do mundo do futebol. O GET realizou um profundo estudo sobre a Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010.Quais novas tendências foram identificadas no futebol?

É sempre difícil falar sobre tendências após uma Copa do Mundo. Vimos que todas as 32 selecções tinham uma boa ou até uma óptima organização. Hoje, todos sabem se defender, cada um do seu jeito. O conceito defensivo tem funcionado muito bem.No jogo contra Portugal, a Coreia do Norte acabou entregando os pontos, mas tirando isso, os norte-coreanos também estavam bem organizados.

O que chamou à atenção é que tanto as equipes sul-americanas quanto a Espanha e a Holanda estavam adiantando muito a marcação. Mesmo quando perdiam a bola perto da meta adversária, os jogadores já começavam a marcar lá na frente e não recuavam. Esta marcação no campo de ataque será muito utilizada pelas grandes equipes. Outra tendência é o deslocamento em bloco entre as duas áreas. As equipes trabalham como uma unidade compacta. Todos participam e ninguém fica apenas observando.

Você diria que algum esquema táctico foi dominante no Mundial? Houve novas descobertas tacticamente?

Não necessariamente. A maioria das equipes jogou no tradicional 4-4-2 ou no 4-2-3-1. Algumas também utilizaram o 4-3-3.Os sistemas de jogo foram muito diferentes e a organização táctica variou conforme a situação do jogo e o placar.Os jogadores estão se tornando mais flexíveis.

Na fase de grupos saíram poucos golos. Na sua opinião, quais foram os motivos que contribuíram para isso?

Nas primeiras partidas, ninguém queria perder de jeito nenhum e algumas selecções preferiram jogar na segurança. Perder o primeiro jogo gera uma pressão externa muito grande, por exemplo, da mídia. Mas algumas equipes jogaram para frente desde o começo, como a Argentina e a Alemanha. A partir da segunda rodada, todos jogaram mais ofensivamente, porque daí se torna uma questão de vencer ou voltar para casa. Então, começaram a sair mais golos.

Pela segunda vez consecutiva, tivemos duas selecções europeias na final, Espanha e Holanda. É uma prova da força do futebol europeu?

Isso mostrou que a Europa é muito forte. A Espanha conquistou a Euro 2008 e agora também foi campeã mundial. É uma selecção que joga um futebol fantástico e muito bonito. Os espanhóis actuam de forma compacta, são muito combativos e correm muito. Os meio-campistas Xavi, Iniesta e Xabi Alonso se movimentam muito no meio do campo e jogam um bom futebol. Eles têm muita qualidade e também se esforçam muito. É uma selecção completa. Quase já pode ser considerado uma das grandes equipes do século. A Holanda também jogou um futebol fantástico até a final.

Quatro representantes da América do Sul chegaram às quartas de final e parecia que o continente dominaria o torneio. Mas, no final, nenhuma dessas selecções chegou à decisão. Como você explica isso?

O Brasil perdeu da Holanda por muito pouco. Na primeira etapa, os brasileiros jogaram um futebol de altíssimo nível, mas não conseguiram manter a qualidade no segundo tempo e sofreram dois golos em bolas paradas. Isso mostra que, jogando num nível tão alto, pequenos erros podem custar a eliminação de uma equipe. A Argentina recebeu uma lição de futebol da Alemanha no que diz respeito à organização e inteligência no campo. O Paraguai foi uma selecção que incomodou muito e perdeu por muito pouco da Espanha. O goleiro Iker Casillas estava em grande dia e o atacante David Villa marcou o golo decisivo pouco antes do apito final. A partida foi decidida pelo talento individual. O Uruguai, por sua vez, mostrou que é possível chegar longe quando a equipe é bem organizada no campo, se esforça, joga colectivamente e, além disso, conta com dois atacantes de tanta categoria. Os uruguaios mereceram a quarta colocação.

A Alemanha levou um grupo muito jovem para a Copa do Mundo da FIFA. Thomas Müller foi o artilheiro e também foi eleito o Melhor Jogador Jovem do torneio. Isso é uma prova do bom trabalho nas categorias de base da Alemanha?

A Alemanha me surpreendeu muito. A forma como os alemães integraram os jovens à equipe é algo digno de respeito. O técnico Joachim Löw estava correndo um sério risco ao dar uma chance aos jogadores mais novos para que eles disputassem uma Copa do Mundo. Thomas Müller, por exemplo, era praticamente um desconhecido há um ano. Os alemães jogaram um óptimo futebol. Eles apresentaram uma equipe compacta e combativa. A Alemanha mostrou quase com perfeição como se defender de forma inteligente, sem cometer erros e aproveitando os contra-ataques, além de ter mostrado um futebol muito ofensivo.

Como você explica o fracasso das duas finalistas de 2006, Itália e França?

Foi mais do que surpreendente para todos. A Itália estava desfalcada de Gianluigi Buffon e Andrea Pirlo, que são dois grandes jogadores, e é muito difícil substituí-los. Além disso, é normal que seja difícil disputar o Mundial seguinte depois de conquistar o título. Já a França precisa ser completamente reestruturada. O técnico Laurent Blanc assumiu o comando da equipe após a Copa do Mundo e já começou a trabalhar para isso.

Faltou pouco para que Gana se tornasse a primeira selecção africana a chegar às semi-finais de uma Copa do Mundo da FIFA. Como você enxerga a evolução do futebol africano?

Gana tinha uma organização impressionante, fazia contra-ataques muito rápidos e todos os jogadores sabiam bem qual a sua função em campo. A selecção ganesa júnior havia sido campeã do Mundial Sub-20 no Egipto em 2009 e muitos dos atletas daquela equipe foram integrados à selecção principal na África do Sul. Asamoah Gyan é um atacante excepcional, apesar de, infelizmente, ter se tornado uma espécie de herói trágico da Copa do Mundo. Se ele tivesse convertido o penalty nas quartas de final contra o Uruguai, teria escrito um novo capítulo na história do futebol. Naquele dia, pudemos ver como alegria e tristeza podem estar próximas.

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