Caros patrícios, no último domingo – na falta de ideias originais ou um rasgo de génio –, como presente de aniversário decidi levar a minha esposa ao cinema, sob proposta e na companhia do meu vizinho e amigo, o jurista e advogado Duma, e sua esposa.
Ir ao cinema é um hábito e hobby que faz parte da minha cultura, estimulada na minha infância pelo meu falecido tio Álvaro (Zefanias) Banze, um anjo na vida de todos quando ele tocou enquanto vivo.
Sim, para além da cultura musical que tenho graças a ele (um grande break-dancer nos anos ´80, com a sua Gang Billy – o Gilberto Mendes e o ZemaMix que não me deixem mentir), foi nos anos em que o meu tio Zefanias me levou ao Cinema Xenon ver Charlot e ao (ex) Cinema Continuadores ver Elpidio Valdez que iniciei a minha ligação com a Sétima Arte, ao ponto de hoje me ter convertido num consumado cinéfilo – devo dizer que ainda sonho ser cineasta: no mínimo argumentista ou guionista/roteirista.
Paradoxalmente, vou poucas vezes às salas de cinema, talvez por pura inércia dos hábitos mais enraizados do meu dia-a-dia. Seja como for, domingo último fomos ao Xenon, num episódio que um bom jornalista narrativo ou mestre do novo jornalismo como Gay Talese, Truman Capote, Ernest Heminghway, Tom Wolfe ou Fernando Manuel intitularia: Dois Casais e Um Rasgo de Génio.
Rasgo de Génio ou Flash of Genius é o título do filme que fomos ver, sobre a vida do inventor do limpa-pára-brisas intermitente dos carros.
“Rasgo de Génio/Flash of Genius” é como os compêndios e enciclopédias do saber e das ciências nos Estados Unidos da América definem o momento fundador de uma grande descoberta ou invenção revolucionária para a humanidade.
Na América de todas a oportunidades, dos seus Pais Fundadores (George Washington, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, John Adams, Alexander Hamilton e John Hancock), de Abraham Lincoln e estudada por Alexis de Tocqueville, que Francis Fukuyama supôs como o corolário da evolução humana na sua obra O Fim da História e O Último Homem, na América de hoje de Barack Obama e do Sonho ainda não concretizado de Martin Luther King Jr., um dos parágrafos da sua Constituição (estou a citar um filme de Will Smith) plasma que todos os cidadãos americanos e radicados nos EUA têm direito à Pursue of Happiness (Procura da Felicidade).
Nessa América que (pr)escreve em sua divisa (o dólar) In God We Trust (Em Deus Nós Confiamos), o Rasgo de Génio é um dos grandes drivers da Procura da Felicidade.
Foi num rasgo de génio, em plena noite de núpcias, que o professor universitário e inventor desde os 14 anos, Robert S. Kearns, foi visitado pelo milagre da criação… do limpa-pára-brisas, depois visualizado num dia de chuva em que ele e a sua família (esposa e cinco filhos) se viram à nora em pleno trânsito.
A moral da história, baseada num facto da vida real, resume-se àquilo que eu considero como algumas lições dadas pelo inventor Robert S. Kearns. Identifiquei, pelo menos, cinco lições, mas vou partilhar convosco apenas duas.
A primeira lição foi por ele mesmo dada, em plena sala de aulas, quando ensinou aos seus estudantes de Engenharia Aplicada que a Ciência também precisa de Ética. Exemplificou-o com uma comparação paradigmática:
– Quem inventou a válvula do coração? Foi um engenheiro!
– Quem inventou a câmara de gás? Foi um engenheiro.
Foram dois homens que partilham em comum o domínio da ciência e um rasgo de génio que marcou a humanidade… só que um promoveu a morte de milhões de pessoas (ao usar-se a sua câmara de gás como solução final, no Holocausto promovido pelos nazis do abominável fuehrer Adolf Hitler), enquanto outro permitiu salvar milhões de pessoas (aplicada a sua válvula à medicina).
A diferença: a Ética!
A segunda lição de Robert Kearns é uma dupla-lição. A primeira parte da lição é que na vida temos de ter Uma Causa, temos de Lutar por Uma Causa.
A privação e as provações por que passou Robert Kearns, às mãos tentaculares da gigante Ford Motor Corporation, são a tradução do que um dia disse o meu eterno professor de Rebeldia Social e Activismo Político, Martin Luther King Jr: “Se você não está disposto a morrer por uma Causa, você não merece viver por essa Causa”.
A causa do inventor Kearns – ao lutar pelo reconhecimento legal e pela punição judicial de que a gigante Ford roubou-lhe a autoria do limpa-pára-brisas intermitente – pode ser interpretada de duas formas: conferir reconhecimento social à (sua) classe dos inventores; ou luta para que finalmente a sua Procura da Felicidade se concretize na legitimação do seu Rasgo de Génio.
Essa é a outra parte da segunda lição dada por Robert Kearns. Se quisermos resumir a Causa de Robert Kearns numa única palavra, ela chama-se: Justiça!
Caros patrícios, sabem qual foi o pensamento que me passou pela cabeça ao sair do cinema? Bem, é um segredo que partilhei com a minha esposa, meu amigo advogado e sua esposa…
Está bem, tudo bom, estamos juntos patrícios, aí vai em Vuvuzela o meu sonho:
Um dia, quero ser Inventor…