Entre os debates mais intensos que permeiam a sociedade actual, uma questão que não pode ser colocada em segundo plano, certamente, é a da desmilitarização dos homens armados da Renamo. Opinar sobre a tão complexa matéria é, seriamente, um desafio. No entanto, enquanto cidadão, tenho o direito e dever de me manifestar, sobretudo em relação a um assunto que é bastante recorrente nos media, nos últimos meses.
Antes de tudo, permitam-me dizer que sou apenas um estudante de Filosofia e escrevo este texto por iniciativa própria, motivado por testemunhos diários de pessoas próximas que me levam à convicção de que, como um candidato a filósofo, não vale a pena calar-me perante um assunto como este.
Através do meu pequeno rádio, ouvi dizer, na voz de um dos dirigentes máximos da Polícia da República de Moçambique, o comandante-geral, que se iria desmilitarizar a Renamo e, para esse fim, a força seria usada se necessário. Uma reconsideração a este respeito acho que é urgente. Nada tenho contra a desmilitarização da Renamo, nem de qualquer outro grupo ilegalmente armado. Concordo que seja trabalho da Polícia zelar pela ordem e tranquilidade pública, o que implica que é seu dever recolher todas as armas em mãos alheias. Desmilitarize-se qualquer grupo ilegalmente armado mas, por favor, não à força, especialmente a Renamo.
Serão usadas armas para tirar as outras armas em posse de alguém, o que leva a crer que, apesar de o líder da Renamo ter declarado em “Chiveve”, que ele era cristão e, por isso, não retaliaria aos ataques que sofreu, nada assegura que este partido vai simplesmente entregar as armas e as hostilidades irão acabar.
O meu primo, de apenas 21 anos de idade, está (va) nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), mas não tivemos mais contacto dele desde que nos noticiou, na última segunda-feira, que foi escalado para mais uma missão da desmilitarização da Renamo, na província de Tete. O pai da esposa do meu docente sumiu numa dessas missões na província de Manica.
Para os chamados conceituados analistas políticos, que defendem a necessidade da desmilitarização coerciva, com a justificativa de que uma vez desmilitarizada a Renamo, alcançaremos a tão almejada paz, a tranquilidade e a segurança pública, não seria mais coerente incentivar o diálogo nas suas diversas modalidades? O diálogo é o melhor caminho para se alcançar a paz, mas a desmilitarização coerciva não se traduz no calar das armas.
Incentivar a desmilitarização da Renamo à força é constituir um claro descompromisso com a paz, atesta a incapacidade do Estado de resolver as questões sérias e urgentes. A atitude mais sensata é sempre eliminar o problema a partir da sua origem, em qualquer que seja a situação. Não podemos tolerar mais, a esta altura, a recorrência a mecanismos imediatos para sanar uma coisa que poderia ter sido conquistada no passado.
Em uma última análise, não deixaria de apelar à paz para todos os moçambicanos. A nossa vida, social sobretudo, já é precária mesmo sem guerra. Agora, imaginem-se os tiros! Ainda acredito na instauração da paz definitiva em Moçambique, também porque gosto de pensar que estamos em paz, embora no país real a verdade seja contrária. Agrada-me, não sei porquê, fingir que Moçambique está em paz. Talvez porque me dá uma certa tranquilidade e geram-se esperanças de que preciso para continuar a viver, pese embora eu esteja ciente do grande risco que a vida dos meus compatriotas e a minha, em particular, correm.
Enquanto ainda reinar tanta insensibilidade no país, resta-me apenas seguir um concelho que um sábio homem me deu: “Seja grande optimista porque só assim terá o ‘luxo’ que só os tolos e petizes gozam, estar indiferente diante do perigo”.
Por Franquelino Basso