A pandemia do coronavírus (COVID-19) obrigou as autoridades mundiais no geral, e as moçambicanas em particular, a tomarem medidas como forma de controlar, conter e combater a propagação da doença, medidas essas que afectaram vários sectores de actividades, dentre eles, o sector cultural do qual o desporto faz parte. Neste contexto, os cuidados contra o avanço e os impactos negativos do vírus mudaram o mundo. Assim, como uma das consequências a pandemia do COVID-19 causou uma interrupção no calendário desportivo mundial de 2020.
A maior parte dos eventos desportivos mundiais, senão todos, foram cancelados ou adiados, tais como: os Jogos Olímpicos de 2020, o Campeonato Mundial de Atletismo de 2020, o EURO 2020, o Campeonato de Meia Maratona Mundial de 2020, A Wanda Diamond League de 2020, a Fórmula 1 de 2020, o Campeonato Mundial de Moto GP e a Liga Africana de Basquetebol, entre outros eventos desportivos.
Diante deste cenário, paira uma incerteza em relação a realização da maior prova de futebol do continente africano de 2021 prevista para decorrer entre os dias 9 de Janeiro e 6 de Fevereiro de 2021, sendo que a mesma pode vir a ser adiada para 2022 caso a crise do COVID-19 prevaleça, devido as incertezas no que se refere à viabilidade de sua realização devido aos riscos decorrentes da pandemia.
Em Moçambique o desporto é, como se sabe, um fenómeno polissémico e uma realidade polimórfica, por isso a indústria do desporto é o mercado no qual os produtos oferecidos aos compradores relacionam-se ao desporto fitness, de recreação ou lazer. Igualmente, como se sucede na esfera mundial, a época desportiva no país foi adiada, e algumas actividades suspensas devido ao Estado de Emergência decretado pelo Presidente da República, como forma de mitigar a evolução do vírus a nível nacional.
Como o desporto sobreviverá? O TPC para as federações desportivas, ligas de clubes e clubes desportivos
Conforme referido, a época desportiva moçambicana está paralisada, isso afecta directamente aos clubes, jogadores e treinadores, pois a maioria dos clubes dependem da receita das bilheteiras para suprir algumas necessidades do seu funcionamento, como por exemplo, o pagamento dos salários, subsídios aos colaboradores, manutenção das infraestruturas, entre outras despesas. Os clubes com menor dimensão e expressão financeira, maior parte destes do Centro e Norte do país, são os mais afectados. Assim, a sobrevivência destes clubes e de todos os envolvidos dependerá da:
• Redução de salários (acordos com todos os envolvidos para a redução de salários até a próxima época);
• Suspensão de prémios de jogos e contractos;
• Empréstimo bancário (negociações para bonificações especiais, com envolvimento do governo);
• Comparticipações das federações desportivas nacionais em despesas directas aos clubes.
Que oportunidade o COVID-19 pode nos dar?
Como é sabido o calendário desportivo nacional, do ponto de vista organizacional não está alinhado com o de muitos outros países africanos em particular, e do mundo no geral, que muitas das vezes tem sido associado aos maus resultados internacionais e a fraca competitividade.
Deste modo, a nível organizacional o COVID-19 pode dar-nos a oportunidade da transição ou mudança da época desportiva, o que vai possibilitar o alinhamento com os outros campeonatos e a exploração das datas oficiais dos jogos das selecções nacionais estabelecidas pelas respectivas federações desportivas internacionais (FDI).
Do ponto de vista técnico, a nossa época desportiva tem a duração de 7 à 8 meses e com férias desportivas de 3 à 5 meses, diante da pandemia teríamos a possibilidade de arrancar com a época em Agosto de 2020 e terminar em Maio de 2021, tendo 10 meses de competições, 1 mês de férias, e 2 meses de pré-época, o que se configura como uma chance para a migração e profissionalização do desporto em Moçambique.
Do ponto de vista financeiro, as entidades desportivas no país, demonstram grandes problemas de autossustentabilidade e transparência na gestão de fundos devido à falta de disciplina financeira, que resulta no atraso de pagamento dos salários de jogadores, treinadores e funcionários não desportistas e dívidas com fornecedores, assim a pandemia pode abrir espaços para a busca de outras formas de financiamentos para as actividades nas diversas entidades desportivas nacionais.
Portanto, o COVID-19 pode abrir espaços, neste período de confinamento, para a modernização e profissionalização do desporto, o que possibilitaria a abertura para exploração das diversas formas de financiamento, contribuindo desta forma para maior adesão aos recintos desportivos e na melhoria da competitividade desportiva.
Saudações desportivas
Bernardino “Guy” Armindo