Às vezes, questiono-me sobre o porquê da existência da sociedade, mas basta apenas olhar à volta do que me rodeia para eu encontrar as respostas pelas quais tanto anseio. Tudo o que me rodeia é fruto de um Homem em sociedade, desde as coisas mais importantes como as leis, a família, as amizades, a educação, a habitação e até aos apetrechos tais como o telefone, o micro-ondas e o carro. Tudo existe graças ao Homem social, que a cada século tenta melhorar a sua vida.
Porém, a mesma sociedade que faz com que o Homem busque maneiras de melhorar e sofisticar a sua convivência com o outro homem, tem, de há tempos para cá, criado barreiras que pouco a pouco se tornam fatais para a qualidade de vida do próprio Homem.
Quando o Homem “assina um contrato social” para pertencer à sociedade, ele perde a sua individualidade e substancialidade. Será por isso que a qualidade de vida é uma fase ou estado tão difícil de se alcançar?
O pacto social ignora a individualidade do homem, uma vez assinado ele passa a pertencer à maioria e é guiado pelos dogmas desse grupo. Nos tempos modernos, é fácil verificar falhas no pacto social, na medida em que a individualidade e a substancialidade do Homem são ignorados na totalidade.
Na sociedade moçambicana podemos verificar com tamanha nitidez o grande impacto do contrato social na qualidade de vida dos cidadãos. Dia após dia a qualidade de vida torna-se um sonho longe de se alcançar, porque a maioria dos membros da sociedade perdem o poder de mudar o rumo das coisas perante uma minoria. O grosso perde o poder de decidir sobre a sua qualidade de vida.
Os mais velhos consideram os mais novos pervertidos, sem noção, sem respeito e desconhecedores da arte da vida. Hoje, o jovem não pode fazer, vestir, ser, sonhar e viver do jeito que gosta porque a sociedade julga isso incorrecto e inapropriado para a vida. Tenta-se, a todo custo, submeter o jovem às leis e crenças da maioria dos elementos da sociedade. Esquece-se, porém, que cada individuo goza da liberdade de trilhar caminhos em busca de si e do que lhe faz ser ele mesmo.
São tantos os casos de abuso sexual na nossa sociedade e quando buscamos os reais motivos para o seu cometimento a desculpa tem sempre a ver com a forma de ser e vestir da nossa juventude. Isso é claramente o impacto dos dogmas e preconceitos que a sociedade instala em nós.
Por André Miambo