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SELO: A origem de conflito de gerações – Por Basílio Macaringue e Adriano Novela

A necessidade de sobrevivência e a ambição constituem duas grandes razões pelas quais o Homem mantém uma relação indissociável com a natureza e seus recursos. Esta relação existe através do trabalho, que o Homem realiza com vista a garantir a satisfação das suas necessidades. É indiscutível que, de forma geral, todo o agrupamento de seres humanos que se comunicam e interagem entre si, vivem com base num conjunto de normas, crenças, valores morais e entre outros elementos que têm como objectivo homogeneizar e controlar a conduta de todo o ser humano, enquanto inserido naquele agrupamento. À estes elementos denomina-se cultura e ao contacto que se estabelece denomina-se socialização.

Não obstante, a cultura varia em função do contexto social em que cada indivíduo se encontra inserido e de tempo para tempo, daí que constitui um património transmitido de geração para geração, de forma a conservar a sua própria identidade local. A família, nesse contexto, é considerada agente de socialização primária por ser responsável por incutir um conjunto de regras de convivência e padrões de comportamento aceites no contexto em que a criança se encontra inserida, desde a conduta moral aceite pelo todo como conjunto social, as crenças, os tabus, os valores, etc. Não obstante, as revistas de moda, as redes sociais, os grupos de amigos, as instituições de trabalho e ensino e outros agentes de socialização, também exercem o seu papel na construção do indivíduo.

Hoje vamos reflectir sobre as noites como palco de Educação e construção dos mais novos. Nas famílias mais tradicionais, sobretudo nas zonas recônditas, a hora do jantar constitui um momento de transmissão de valores morais, partilha de experiências de vida, de histórias sobre a família, dos problemas pessoais, etc. Daí nasceu a necessidade de reunir-se à volta da fogueira para uma conversa em família. Em contrapartida, nas famílias modernas, sobretudo nas zonas urbanas e suburbanas, muitas vezes as refeições nocturnas não têm sido em família completa e nalguns casos enquanto se janta acompanha-se programas televisivos, deixando, deste modo, o debate familiar “construtivo” de lado.

Por outro lado, devido a crescente necessidade de garantir o pão do dia-a-dia e demais necessidades humanas, o contacto familiar não tem sido frequente. Por conta disto, compromete-se a educação e construção dos jovens em que se espera que possam assumir o seu papel de adulto na sociedade. Isto culmina com o surgimento de um conflito cultural entre indivíduos de diferentes gerações. Tais conflitos, aparentemente latentes, surgem devido às divergências que se manifestam através das formas de vestir, estilos de vida e ambições que guiam a camada juvenil nos dias actuais em reflexo de culturas adquiridas através dos mídias (whatsap, facebook, revistas, etc.). Este facto, na maioria das vezes coloca em conflito as gerações confrontando-as entre si mesmas. Assuntos anteriormente tratados como restritamente de nossa crença cultural há anos atrás, hoje em dia são tratados unicamente como tabus e, na perspectiva desta nova geração que se baseia no uso do raciocínio como condição segura de gerir a vida, tais crenças merecem ser desacreditadas e ultrapassadas. É este o reflexo que surge em respostas ao afastamento familiar em causa. A Sociologia denomina a isto de multiculturalismo.

É um facto que as relações familiares tornam-se mais produtivas quando cada membro se consciencializa dos seus direitos e deveres para com outrem e, por conseguinte, toma a responsabilidade de participar activamente na manutenção de um ambiente familiar harmónico. Ainda mais, o encontro familiar, sobretudo durante o jantar ou mesmo à volta da fogueira, permite que os avôs possam partilhar suas experiências de vida e suas histórias sobre a origem da família, permite que os pais exerçam o seu papel de conselheiro nos seus filhos e permite que estes últimos sejam mais obedientes, responsáveis e participativos nos assuntos que envolvem a família. Desta feita, promover reuniões familiares pela noite reduz o índice de ocorrência de divergência conflituosa nos hábitos culturais e valores morais, permite que cada membro da família se identifique com os problemas do outro e o ofereça a sua solidariedade, igualmente permite acompanhar a evolução do outro e entre outras componentes sociais indispensáveis.

Para terminar, temos a sublinhar que apesar das diversas dificuldades e ocupações que a vida nos impõe, é imprescindível estabelecer um contacto permanente entre membros da família, visto que é no dia-a-dia do núcleo familiar e nas relações de vizinhança do bairro que os mais novos adquirem habilidades, experiências e valores que definem o seu futuro e lhes tornam úteis à sociedade.

Por Basílio Macaringue e Adriano Novela

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