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Selo: A Matola e o Crime, escrito por Celsio Bila

Senhor Director, Agradeço imenso e antecipadamente a oportunidade que me concedem para a publicação desta humilde missiva, que através da qual pretendo exprimir o meu sentimento quanto ao ambiente que se vive no Município da Matola.

Parece-me ser este município, Capital da Província de Maputo, um dos locais mais criminosos do país, salvo melhor entendimento! Não tenho dados estatísticos sobre o assunto, mas ainda assim, por causa da agonia que se vive, não deixarei de prestar a minha solidariedade e deixar opinião.

Ao confirmar-se a premissa de que a Matola é um dos locais mais criminosos do país, não será pelo facto dela produzir os maiores delinquentes de sempre. Não, pelo contrário, provavelmente venham ao de cima outras questões combinadas, tais como: ausência de policiamento, inexistência de esquadras próximas às residências, baixo número de efectivo policial e os poucos existentes sem meios nem vontade para operar secundo o seu juramento, adicionadas à famosa distribuição assimétrica da renda, etc.

Como é sabido, este município tem, igualmente, observado um movimento enorme na área de construção civil, propiciando o descobrimento de áreas que até, então, eram desconhecidas. Um ambiente, que em geral, envolve muita buropatologia à mistura para se ter um pedaço de terra. E como via de regra: onde há desenvolvimento há apetites vorazes, que precisam ser controlados.

Andei às voltas pelos bairros de Txumene1 e 2, e o de Kongolote, sem surpresa, o assunto em voga era a criminalidade. E se a gente se atem às televisões, as notícias veículadas são as mesmas quando o assunto é Matola -criminalidade. A criminalidade vai ganhando contornos inexplicáveis, e as pessoas, para além de se obrigarem agradear as suas residências (janelas, portas, murros, portões), vêem-se, outrossim, obrigadas, apesar dos parcos recursos de que dispõem, a aderirem aos mais sofisticados meios de vedacção eléctrica, alarmes, video vigilância e portões automatizados, etc. para alcançarem algum nível de segurança.

Como se pode depreender, estamos diante de um verdadeiro “trade off”, que dá azo a um perfeito custo de oportunidade: ou sacrifícaste para investir nos electro-domésticos que mais gostas e vêm os “donos”, à mão armada, buscar ou então, procuras dificultar um pouco mais a vida daqueles. Bem, se instalados esses sistemas de segurança, pelo menos, os ladrões de pato e oportunistas de ocasião, ficam mesmo afastados pelas dificuldades de acesso encontradas.

Por outro lado, as pessoas que não podem aderir à estes meios, por razões financeiras, vivem “num autêntico Deus me acude”. Trabalham, mas não podem desfrutar de um bom aparelho DVD, um televisor plasma para refastelarem-se ao Domingo, porque a casa não reúne as melhores condições de segurança. Entretanto, se os compram, então, devem introduzí-los à calada da noite, para que com o gesto não “atraiam olhares de azar”. Por isso, pensar-se em linchamento é uma solução que se vislumbra sempre num estado de desespero acutilante.

“- Se a justiça não funciona que sejam queimados os bandidos, um à um, com recurso ao pneu e petróleo”. Dizia uma moradora de um dos Bairros.

Para elucidar-vos da real situação, vejam até que ponto chegaram os amigos do alheio, com este gesto ignóbil que apresentamos: Em Matlhemele, por exemplo, um Bairro em expansão neste mesmo município, os residentes inovaram um sistema de xitique, que se realiza de modo seguinte: A noite, algumas famílias ficam de plantão para guarnecer a todas outras e no dia seguinte, outras, assim sucessivamente. Vejam ainda que, pela audácia, os malfeitores chegaram a colar avisos nos muros, com dizeres do tipo: “Preparem-se por que viremos na calada da noite, empunhando ferros de engomar, catanas e outros instrumentos contundentes”. No dia seguinte, encontramos nas mesmas ruas, que os residentes haviam respondido à mesma medida: “Venham que estamos preparados. Portamos pneus, fósforos e petróleo”.

Como vemos, a guerra está instalada e as coisas não estão tão fáceis por aqui.

Aproveitando o ensejo, tendo em conta o actual contexto moçambicano, na medida em que vamos às eleições autárquicas, momento importante para o futuro, deixo a seguinte questão:

– O que os candidatos à edil deste município têm na carteira para solver definitivamente este vetusto problema?

Penso que o Policiamento deve ser, senão, o cerne de tudo, descentralizando-o aos municípios (a autonomia administrativa, operativa e financeira passarem para agestão municipal) ou pelo menos, então, esta polícia municipal instituída devia ter papel que vai ao encontro das largas expectativas dos seus munícipes, no sentido de não apenas fiscalizar o transporte semi-colectivo, como melhor sabe fazer, mas também passar a contemplar no seu espectro de actuação um papel actuante no combate à criminalidade. Em fim, em jeito de conclusão, gostaria que a Matola não fosse “Primeiro”, como dizia o outro, mas o Último na prática de qualquer tipo de crime!

 

es rito Celsio Bila

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