Conforme foi visto no capítulo II sobre a crise de relações familiares, a comunicação vs interação constituem um meio de transmissão cultural, sobretudo a que ocorre no seio da família. É através desta que as gerações mais velhas transmitem seus valores, seus padrões morais, tabus, suas crenças, concepções e, acima de tudo, o seu perfil ideal de como assumir o papel de adulto na família inserida, senão no contexto social em causa.
O ser humano se constrói numa trama de relações sociais, na medida em que adquire o seu modo de ser, agindo no contexto das relações sociais nas quais vive, produz, consume e sobrevive. Nesse caso, o ser humano age no seu modo de ser dentro de um conjunto de relações sociais, determinados pelos padrões comportamentais que caracterizam o meio em que se encontra inserido.
Dito doutra maneira, o ser humano é um produto das relações sociais das quais participa activamente. No entanto, o desenvolvimento humano não ocorre biologicamente, é um processo pedagógico que precisa ser mediado institucional e culturalmente, de tal forma que se assegure a formação do seu projecto de conduta.
Neste sentido, tanto a educação formal quanto a informal reforçam-se mutuamente na construção de um homem útil à sociedade a que pertence. Esta educação significa um meio de transmissão de hábitos, costumes e valores de uma sociedade entre seus membros.
Continuando a dar foco a educação informal, sobretudo aquela que “ocorre” no seio familiar. Colocamos entre aspas o ocorre por uma simples razão: será que mesmo ela ocorre no seio de famílias desta época? Se ela ocorre, porquê a cada dia as relações dos Homens entre si tem sido caracterizadas por tendências de conflito (expresso violento e verbalmente)? Bom, são tantas as questões que podiam ser levantadas…
Nos dias acuais, portanto, indo mais adiante, com o declínio dos papéis das primeiras agências sociais (família e igreja), a escola e as redes sociais, assumem um grande papel na construção do comportamento humano, numa perspectiva mundial.
Trata-se de uma troca constante de civilizações sociais, onde a classe dominante influencia a mudança da classe dominada. Essa construção nem sempre se baseia em regras de convivência local e quando assim acontece, geralmente, abre-se espaço para conflitos entre gerações caracterizadas fundamentalmente por normas, valores e princípios distintos.
Todavia, essa reviravolta toda sucede-se prontamente devido à crise de relações familiares. É através deste tipo de contacto que os conhecimentos são partilhados em meio a uma interacção sócio-cultural, que tem como única condição necessária e suficiente existir quem saiba e quem queira ou precise saber.
Nos referíamos concretamente da conversa permanente entre parentes e filhos. É por meio dessa conversa (havendo troca de papeis de receptor e emissor entre as partes envolvidas na conversa) que se transmitem os padrões de comportamento aceito pela maioria. Nesse sentido, a ocorrência frequente dessa conversa constitui um factor de grande relevância na formação íntegra do Homem, construindo-o como um sujeito de moral sólida e socialmente ajuizado.
Acreditamos que toda pessoa não nasce ética. Pelo contrário, aprende a sê-lo em virtude da aprendizagem que ocorre durante o seu desenvolvimento e, no entanto, a sua estruturação ética vai ocorrendo juntamente com seu desenvolvimento no seio da família, através da comunicação e interação com outros membros da família ou da sociedade no seu geral.
Assim, para um individuo ser considerado ético, ele deve possuir uma personalidade bem integrada, que lhe permita lidar com as emoções conflituosas e um bom grau de adaptação à realidade do mundo. Nesse sentido, a ética implica uma opção do individuo, uma escolha activa na medida em que os actos éticos devem ser compreendidos em um contexto que afecte pessoas, meio ambiente e a colectividade.
Assim sendo, para que a moral se realize faz-se necessária uma imposição do exterior do individuo, através de uma proibição, através de um não. Notavelmente, a questão da moral lida com valores exclusivamente sociais enquanto a ética lida com valores individuais e sociais em uma interacção dinâmica.
É essa a finalidade da educação não só familiar, como também a que ocorre em qualquer outra instituição social (na igreja, na escola, entre colegas de trabalho, redes sociais, etc.), mas para o caso, conforme anteriormente referido, nos cingimos restritamente a educação familiar.
Importa sublinhar que existe uma grande diferença entre princípios, valores e virtudes, embora sua efectividade seja válida apenas quando os conceitos são atribuídos uma relação. Enquanto os princípios são preceitos, leis ou pressupostos considerados universais, que definem as regras pelas quais uma sociedade civilizada deve se orientar. O amor, a felicidade, a liberdade, a paz e a plenitude são exemplos de princípios considerados universais.
Os valores são normas ou padrões sociais geralmente aceitos ou mantidos por determinado individuo, classe ou sociedade, portanto, em geral, dependem basicamente da cultura relacionada com o ambiente onde estamos inseridos. Por outra, diferente dos princípios, os valores são pessoais, subjectivos e contestáveis. Por último encontramos as virtudes, entendidas como disposições constantes do espírito, as quais por esforço da vontade inclinam à prática do bem.
Nos dias actuas, a juventude tem sido guiada pela cultura de mundo fora em reflexo do fácil acesso a TV, revistas, redes sociais, etc. que, em contraste com o declínio da educação família, se apoderam daqueles primeiros a cada dia, determinando o seu padrão de comportamento.
Tem sido muito frequente a desistência escolar, o abuso no consumo de drogas e tabacos por menores de idade, bem como o uso recorrente de tatuagens e palavrões e, acima de tudo, tem sido bastante notória a desconexão entre membros da família, afastando-se um a um, criando divergências na sua forma de ver, compreender e encarrar a vida, o que gera conflitos socias constantes no dia-a-dia. Continua…
Por Basílio Macaringue