As comunidades da localidade de Saua-Saua, distrito de Nampula-Rapale, e do regulado de Monapo, vivem isoladas da capital provincial e de outros pontos de Nampula há 50 anos, em consequência da destruição da ponte sobre o rio Monapo. No período chuvoso, a situação é caótica devido à subida do caudal e alguns indivíduos aproveitam-se para ganhar dinheiro, ajudando a travessia de pessoas e bens.
A maior parte dos residentes de alguns bairros periféricos da cidade de Nampula tem as suas machambas na localidade de Saua-Saua, posto administrativo de Anchilo, distrito de Rapale. Neste contexto, a referida ponte é de grande importância para os produtores, pois permite o acesso aos seus terrenos de cultivo.
Atija kimuani, uma idosa de 60 anos de idade, disse que abandonou a sua machamba em Saua-Saua devido às dificuldades por que passava para atravessar o rio. Ela referiu que, algumas vezes, a maior parte dos produtos deteriora-se porque não consegue levá-los para a sua casa.
Amina António, de 45 anos de idade, é outra cidadã que há cinco anos deixou de cultivar na localidade de Saua-Saua. Ela contou que, após o falecimento do seu marido, ela pretende desistir de trabalhar a terra numa zona em que é difícil escoar os produtos.
A agricultora acrescentou que as famílias que ainda permanecem em Saua-Saua são movidas pela fertilidade do solo, mesmo cientes do risco a que estão sujeitas. A população daquela zona residencial fala da existência de crocodilos no rio Monapo, apesar de não haver registos de ataque.
O sofrimento dos alunos
Adolfo Aliasse Tocha, líder comunitário do regulado de Monapo, disse ao @Verdade que os alunos que frequentam as aulas na Escola Primária Completa de Saua-saua e outras na Escola Secundária Marcelino dos Santos enfrentam dificuldades para atravessar o rio Monapo por falta de ponte.
Em consequência dessa situação, muitas crianças desistem da escola para se dedicarem a actividades domésticas. Segundo Tocha, o negócio informal é a principal actividade na medida em que os menores se sentem obrigadas a contribuir com o seu trabalho para fazer face às despesas domésticas para o sustento das respectivas famílias.
A esperança é a última a morrer
A ponte sobre o rio Monapo foi construída em 1960 e, volvidos cerca de três anos, a infra-estrutura foi parcialmente destruída pela fúria das águas devido ao ciclone que, na altura, fustigou aquela região. Foi o início de um sofrimento cujo fim é incógnito.
O régulo Monapo disse, sem precisar datas, que o antigo governador da província de Nampula, Rosário Mualeia, já tentou reconstruir a ponte, tendo as obras sido paralisadas dois meses depois. O pior é que as autoridades político-administrativas locais não receberam nenhuma informação sobre o encerramento dos trabalhos de reposição.
E, desde então, nem água vem, nem água vai. Mas Tocha ainda acredita que a situação poderá melhorar. Recentemente, uma equipa da organização Visão Mundial – Moçambique, que leva a cabo o programa de desenvolvimento comunitário do distrito de Muecate, apareceu no local para estudar as possibilidades de resolver o problema. Mas ainda não há nenhuma luz no fundo do túnel.
O nosso interlocutor deu a conhecer ainda que o presidente do Conselho Municipal da Cidade de Nampula também visitou a referida ponte, porém, não avançou uma solução a breve trecho, porque a edilidade não tem orçamento para a execução das obras. Além disso, o edil garantiu que no Plano e Orçamento do próximo ano (2015) a situação daquela infra-estrutura será acautelada no sentido de merecer prioridade. “Da nossa parte, resta-nos dizer que a esperança é a última a morrer”, disse.
Jovens oportunistas
No meio de muitas lamentações, há quem se sente “feliz” com a situação. Alguns jovens encontraram uma oportunidade de ganhar dinheiro, ajudando as pessoas a atravessar o rio. Por exemplo, segundo apurámos, para levar uma pessoa para a outra margem é cobrado um valor que varia entre 10 e 20 meticais, dependendo do porte físico de cada indivíduo.
No caso de bagagens, a quantia ronda entre 50 e 60 meticais. Arcanjo César, de 32 anos de idade, é responsável por um agregado familiar composto por sete pessoas. Com os dividendos daquele negócio, ele supre as suas necessidades básicas. Diariamente, o jovem amealha cerca de 300 meticais. No período chuvoso, a receita chega a pelo menos mil meticais. Contudo, o rendimento depende da flexibilidade de cada indivíduo.
Alexandre Rapiote, de 31 anos de idade, ganha entre 500 e 600 meticais por dia, um rendimento através do qual consegue alimentar a sua família constituída por seis pessoas. Os comerciantes de carvão e estacas são os principais clientes dos jovens. Os motociclistas pagam entre 100 e 150 meticais por cada travessia.